Figura1 Estudantes

O retorno presencial às aulas, após a pandemia da sars-cov-2 (Covid-19)

Herbert de Oliveira Timóteo

Mestre em Educação e licenciado em História. Professor na Escola Professora Eleonora Pieruccetti/Regional Nordeste.

Contato: herbert.timoteo@edu.pbh.gov.br

Luiza Francisca F. da Silva

Licenciada em Letras e doutoranda em Linguística. Professora na Escola Professora Eleonora Pieruccetti/Regional Nordeste.

Contato: luiza.ffs@edu.pbh.gov.br

Joubert Bustamante Junior

Formado em história (1997), pela FAFI-BH, leciona a mais de 20 anos, em escolas privada, pública estadual e municipal. Já ocupou o cargo de gestor escolar por 8 anos, especialista em Educação ambiental (CEPEMG), Gestão de Políticas Públicas (Fundação João Pinheiro), Gestão Educacional (Instituto Superior de Educação de Afonso Cláudio), Gestão Escolar (UFMG), Especialização em tecnologias digitais e a educação 3.0 (UFMG) e mestre em Gestão e avaliação da educação pública (UFJF). Atualmente leciona na Escola Municipal José Madureira Horta e ocupa o cargo de vice diretor na Escola Estadual Professor Guerino Casassanta.

Contato: joubert.junior@edu.pbh.gov.br

Magali Laktim

Licenciada em Matemática, Especialização para professores de Matemática. Professora nas escolas José Madureira Horta e Professora Eleonora Pieruccetti/Regional: Pampulha e Nordeste

Contato: magalilaktim@edu.pbh.gov.br

Introdução

“Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.” CLARICE LISPECTOR, 1978, APUD BENETTI; OLIVEIRA, 2016, p. 74

Retornar às aulas presenciais, após quase dois anos de afastamento devido à pandemia da SARS-CoV-2 (Covid-19), é uma alegria indescritível para todos que se envolvem no processo de ensino e aprendizagem. A escola volta a ter a movimentação, o burburinho e a vida institucionalizada que o afastamento nos retirou. Os laços dos relacionamentos voltam a fazer a comunidade se aproximar e envolver em toda a sua beleza e complexidade, ainda mais quando se trata de estudantes que estão em uma faixa educacional de pré-adolescência e adolescência, tão fundamentais à sua formação geral. A riqueza da vida volta a fluir.

Durante o período de afastamento escolar, divulgado pelas autoridades sanitárias internacionais e nacionais, a vida quase parou. Entramos em um stand-by, e os estudantes do Ensino Básico muito sofreram com esse afastamento, principalmente no lado cognitivo e sociopsicológico, pois se afastaram fisicamente de seus amigos e colegas e o mundo de relações interpessoais também entrou em um estado de constante espera. A espera para voltar ao normal, ou seja, à lógica da vida sem a imposição do distanciamento social.

Dentro desse contexto de retorno às aulas e à fluidez das relações interpessoais, como bem nos lembra o sociólogo Zygmunt Bauman, na obra Modernidade Líquida (2001), em um ano que duas tradicionais escolas da rede municipal de Belo Horizonte, a Escola Municipal José Madureira Horta, doravante Madureira, situada na Regional Pampulha, e a Escola Municipal Professora Eleonora Pieruccetti, doravante Eleonora, situada na Regional Nordeste, comemoram meio século de existência.

Para celebrar o retorno às aulas presenciais, e o cinquentenário das duas escolas são de suma importância se lembrar de suas fundações, suas trajetórias e suas abrangências na região onde estão localizadas, como uma forma de resgatar suas ricas e belas histórias, seus eventos, seus estudantes, professores e comunidades que tanto colaboraram para isso. Ademais, este momento festivo constitui-se em uma grande oportunidade de reaproximarmos comunidade e estudantes dos processos pedagógicos envolvendo práticas de leitura e escrita, pesquisa, atividades dirigidas e orientadas e o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático de nossos estudantes, conhecimentos estes que podem ter sofrido impactos negativos, devido ao distanciamento social, segundo Barbosa, Anjos e Azoni (2022) e Silva (2022). Há que se lembrar ainda do equilíbrio socioemocional fortemente abalado neste período,  de acordo com Lima (2022) e Mena (2022). Dessa forma, no ano do cinquentenário das escolas, é proposto um evento de interação entre os estudantes dessas escolas para completar e fazer parte desse leque de celebrações previstas para o ano de 2022, contribuindo ainda mais para a volta da normalidade sociopsicológica na vida de nossos estudantes.

Referencial teórico

“(…) Se as emoções forem liberadas através da expressão, sua força será dissipada, os sintomas atrelados poderão ser aliviados ou mesmo desaparecer, e impactos nocivos sobre a saúde poderão ser controlados ou neutralizados.” BENETTI; OLIVEIRA, 2016, p. 69.

É sabido que por meio da escrita podemos refletir, organizar ideias e transmiti-las com mais clareza, o que é essencial na vida pessoal e no trabalho. De acordo com Bastos (2016), “a linguagem é a base para outras aprendizagens, leitura, escrita, raciocínio e habilidades matemáticas”. Além de ajudar na compreensão de textos, multiplicar conhecimento e estimular a criatividade, a escrita também é uma ótima maneira de organizar e articular ideias e pensamentos. Entretanto, observa-se o quão desafiador é trabalhar com uma grande demanda de estudantes que apresentam dificuldades de se expressarem por meio da escrita.

Diante desta realidade desafiadora, o projeto teve como justificativa a necessidade de auxiliarmos no retorno saudável das interações sociais e ajudar a consolidar o processo formativo nas habilidades da área de Linguagens, para formarmos leitores críticos, sendo imprescindível um trabalho que satisfaça às necessidades sociais, de saber ler e escrever com competência, pois a sociedade atual exige do indivíduo muito mais que a decodificação de palavras.

A leitura e a escrita, além de raciocínio lógico-matemático, são, sem dúvida, conteúdos essenciais que devem ser priorizados, tornando-se a formação de leitores um projeto comum a todos. Para KLEIMAM (2007, p. 23), “ o ensino e a prática da leitura, atividade constitutiva da aprendizagem, deve fazer parte de todas as atividades, e que todo professor é em última instância, professor de leitura”. Formar leitores na sociedade em que vivemos pode ser uma empreitada difícil, e se o professor de Língua Portuguesa estiver solitário, essa prática pode ser ainda mais desafiadora e restrita. Porém, se todos os educadores se envolverem em propostas coletivas e interdisciplinares, torna-se mais possível alcançarmos o que pretendemos, ou seja, formar leitores e escritores na escola com a finalidade de que essa experiência se torne uma prática social exitosa também fora desse ambiente.

Portanto, a relevância desse projetose fundamenta na contribuição de um trabalho com os gêneros discursivos, posto que são entidades pelas quais nós falamos, escrevemos, comunicamos e interagimos, estando presentes na sociedade, como produtos da interação e das práticas sociais humanas, como afirma Marcuschi (2002, p. 29). Ademais, a partir das leituras que esse linguista faz de Bronckart (1999), “[…] a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática das atividades comunicativas humanas”. Os gêneros discursivos são construídos socialmente e caracterizam-se por sua plasticidade, mas também se percebe neles certa regularidade. Levando em consideração o caráter dinâmico dos gêneros, o projeto aqui apresentado seguiu uma orientação interdisciplinar, como já mencionado, considerando-se que a leitura deveria ser conteúdo obrigatório de todas as disciplinas. Para isso, acreditamos que propostas e planos de trabalho docentes devem ser construídos coletivamente e envolvendo outras áreas do conhecimento. Quando se trata de interdisciplinaridade, ao se propor a não fragmentação do currículo, é interessante pensar a leitura como atividade ou prática que amarra todas as áreas do conhecimento. Pensando nisso é que se justifica um projeto de ensino voltado para a escrita de cartas, envolvendo atividades de linguagem que correspondam às situações cotidianas reais de interlocução.

Em suma, o principal objetivo do projeto aqui apresentadofoi, além de comemorar esta data tão especial para as escolas, promover a interação entre os estudantes dessas duas instituições educacionais, através da troca de cartas, enquanto atividade capaz de instigar a leitura e a produção escrita na escola, bem como visando a minimizar os efeitos psíquicos e sociais causados pela pandemia, os quais se apresentaram no espaço escolar a partir de sintomas de relatos de casos de  ansiedade, depressão e agressividade.

Segundo Mena (2022), em artigo na Folha de São Paulo sobre a saúde mental dos jovens brasileiros, recentemente 66% deles têm pensamentos negativos; 58%, dificuldades de concentração; 53%, crise de ansiedade; e 34%, tristeza excessiva. Em alguns estudos preliminares, publicados pela Agência Senado, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Fundação Oswaldo Cruz apontam que as crianças e adolescentes sofrem um forte impacto com a política do distanciamento social causado pela pandemia, e de acordo com publicação da Fiocruz (2020, p. 22), três pesquisadores corroboram esta percepção:

Orgilés et al (2020) concluíram que 85,7% dos 1143 pais espanhóis e italianos relataram mudança no comportamento de seus filhos […], dificuldade de concentração (76,6%), tédio (52%), irritabilidade (39%), nervosismo (38%), solidão (31%) e preocupações (30,1%). Bronfenbrenner (1996) um  dado relevante dessa publicação foi a correlação da magnitude dos sintomas nas crianças e adolescentes conforme a descrição de estressores nos pais, corroborando a associação entre os sintomas familiares e ambientais com os sintomas infantojuvenis. Um inquérito online conduzido por Xie et al. (2020) respondido por 2330 escolares chineses identificou a prevalência de sintomas depressivos em 22,6% e de sintomas ansiosos em 18,9% dessa amostra […] associado às privações sociais […] como uma experiência traumática.

As mídias sociais e os meios de comunicação, após o retorno presencial das aulas, têm alertado sobre a situação sociopsicológica dos estudantes, como foram os “casos de Pernambuco” que, em maio de 2022, teve duas escolas (a Escola Creuza Barreto Dornelas Câmara e a Escola de Referência em Ensino Médio Professor Mardônio de Andrade Lima Coelho) com crise coletiva entre estudantes, apontadas como manifestação de ansiedade.

O Senado Federal, em uma audiência pública, no mês de maio de 2022, sobre como a Pandemia prejudicou a condição psicológica dos estudantes, apresentou pesquisa que corrobora os efeitos negativos do afastamento social e os impactos sobre as competências socioemocionais:

É mais uma pesquisa que […] deixa claro a importância direta das competências socioemocionais para o aprendizado e seu impacto em outros aspectos que afetam a aprendizagem indiretamente, como a saúde mental, violência e as estratégias de aprendizagem — explicou Silvia Lima . (AGÊNCIA SENADO, 2022)

Portanto são necessárias ações que possam ajudar a minimizar os impactos negativos da situação imposta pela pandemia e multiplicar as ações para potencializar as experiências de trocas e convívio entre os estudantes.

Com isso acreditamos que podemos contribuir para construir uma sociedade mais saudável em termos de relações interpessoais, socioemocionais e psicossociais.

Desenvolvimento

“O ato de escrever, independente da qualidade da escrita, parece ter o potencial de prover benefícios físicos e mentais, com melhorias em longo prazo no humor, nos níveis de estresse e em sintomas depressivos.” SMYTH; PENNEBAKER; ARIGO, 2012 APUD BENETTI e OLIVEIRA, 2016, p. 70

Este projeto tem como escopo celebrar o aniversário de duas escolas, por meio da interação entre os estudantes das turmas de sétimo ano, mas não se restringe somente a um momento de celebração e confraternização. Também tem como objetivo reforçar e ajudar na consolidação da aprendizagem da leitura e da escrita da área de Linguagens, área muito afetada pelo distanciamento social, pois as dificuldades apresentadas na formação dessas habilidades podem ter sido subnotificadas pelos estudantes aos docentes durante as aulas remotas. E como terceiro objetivo, pretende-se auxiliar na ressocialização após o período de afastamento físico, recomendado pelos órgãos de saúde para evitar a proliferação da SARS-CoV-2 (Covid-19), reequilibrando assim as habilidades sociopsicológicas e socioemocionais tão fragilizadas durante o período da pandemia já citado anteriormente. Então, oportunizar aos estudantes das duas escolas vivências que possibilitam ampliar as relações interpessoais, aprendendo a conhecer e a respeitar o outro, reconhecendo as suas diferenças e modos de pensar e agir diferentes, pretende-se minimizar as possibilidades de depressão, ansiedade e agressividade apresentadas pelos estudantes na escola, evitando dessa forma a repetição dos casos de ansiedade e violência manifestados de forma individual ou coletiva, divulgados pela imprensa nacional no primeiro semestre de 2022.

O projeto se desenvolveu na elaboração e troca de cartas entre os estudantes das duas escolas, como forma de conhecimento e interação, e foi realizado em duas etapas. A primeira etapa ocorreu dentro das dependências das instituições escolares e a segunda, por meio de uma visita dos estudantes da Madureira à escola Eleonora. No primeiro momento da primeira etapa, os estudantes assistiram ao filme motivacional “Central do Brasil”, logo após participaram de uma roda de conversa sobre as impressões deixadas pelo filme e a importância da carta no processo de comunicação e estabelecimento de laços afetivos e históricos.

Figura 1: Estudantes elaborando carta

 Fonte: Acervo pessoal (2022)

No segundo momento da primeira etapa, realizou-se a produção de cartas para que os estudantes pudessem trocar as primeiras impressões entre si, por exemplo, nome, idade, impressões sobre a escola, o que gostam e o que não gostam, etc. No terceiro momento, foram levantados dados sobre o patrono e a história da escola e sua evolução ao longo do tempo. No quarto momento, foram coletados dados estatísticos sobre a escola para a construção de gráficos, a fim de que se pudesse comparar alguns números importantes das duas instituições para quando fizermos o encontro presencial, tais como área das escolas, quantidade de salas, número de estudantes e densidade demográfica. Por último, foram  elaborados cartazes para a apresentação da história das instituições.

Na segunda etapa, fizemos um tour com estudantes da Madureira para que eles pudessem conhecer os estudantes e o espaço físico da Eleonora. Neste encontro promovemos a interação entre os estudantes que trocaram as cartas, para que eles pudessem se conhecer pessoalmente. Neste momento foram apresentadas as informações coletadas para a divulgação do conhecimento elaborado. Este projeto envolveu a  participação dos diretores, coordenadores, professores de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e Arte das duas instituições.

Figura 2: Apresentação dos trabalhos

Fonte: Acervo pessoal (2022)

Resultados Alcançados

O texto não é dado a priori, ele é desvendado na interação, se construindo e evoluindo a cada momento. CAVALCANTE 2021

O resultado do projeto superou as expectativas, pois houve o envolvimento e a participação de todos os estudantes das turmas de sétimo ano na escrita das cartas, no envolvimento na pesquisa da história e do patrono da escola, na pesquisa dos dados estatísticos para a elaboração dos gráficos e tabelas. Embora um dos objetivos do projeto fosse a diminuição da ansiedade dos estudantes, acabamos por ampliá, de certa forma, pois houve um grande aguardo por parte dos estudantes pelo retorno das cartas enviadas e suas respectivas respostas, além da própria visita deles à Eleonora, portanto acabamos gerando uma ansiedade do bem. Sobre a escrita, não apresentaram grandes problemas a serem corrigidos, havendo certa fluidez e facilidade na troca de impressões e relacionamento, inclusive no encontro presencial, que foi realmente o ponto alto do projeto, já que os estudantes fortaleceram os primeiros laços de amizade iniciados por carta.

A pesquisa pela história da escola também causou muitas surpresas quando se buscou informações na internet e junto a familiares, parentes e amigos. Havia sempre uma novidade acrescentada à história ainda não conhecida.

A avaliação da proposta foi processual e aferiu a participação, a organização, o envolvimento, a distribuição e o cumprimento das tarefas: pesquisa, seleção das informações, escrita das cartas, construção e qualidade dos gráficos, superação de dificuldades e apresentação do trabalho no dia da visita planejada.

Da nossa parte, a alegria e a superação dos estudantes ao realizarem o projeto, ao apresentarem a parte da pesquisa, e a interação entre as duas escolas significaram um resultado além das expectativas. Percebemos a troca dos semblantes fechados, sem muito brilho e com pouco motivo para o sorriso, pelo rosto alegre, jovial e motivado, característica dos jovens nessa idade. Ficamos muito contentes por ter visto o projeto ter transcorrido de uma forma tão amistosa e envolvente.

A busca pela história da escola tem causado espanto e surpresa nos estudantes, os dados estatísticos têm demonstrado a realidade em que eles estão inseridos.

A avaliação foi processual e aferiu a participação, a organização, o envolvimento dos estudantes (na distribuição de tarefas, na pesquisa, na seleção das informações, na escrita das cartas), a construção e a qualidade dos gráficos, a superação de dificuldades e a apresentação do trabalho.

De acordo com o relato dos estudantes, percebemos o forte impacto causado pelo projeto e acreditamos ter contribuído para amenizar a ansiedade no retorno presencial às aulas. De acordo com a estudante Lara Fabiana S. Roland (Pieruccetti):

“Contarei um pouco sobre o privilégio que tivemos em receber a Escola Municipal José Madureira Horta em nossa escola. O momento em que vivemos a pandemia foi desafiador para nós, pois ficamos em casa sem ter contato com as pessoas e a escola. O contato com outros alunos da mesma idade é muito importante para conhecer pessoas novas e fazer novas amizades. Nossa escola teve a ideia de um projeto de troca de cartas e de uma visita dos alunos do Madureira Horta, com esse projeto fizemos amizades por meio da troca de cartas e nos conhecemos pessoalmente. Foi um tempo incrível de ter vivido esse momento, foi a primeira vez que recebemos alunos de outra escola para realização de um trabalho.”

Segundo Cauã O. Maurício (Madureira):

“Para mim, participar desse projeto foi muito bom! Além da descontração de enviar cartas para colegas de outra escola, conheci pessoas novas e mantenho contato com várias até hoje. Eu troquei cartas com uma menina com deficiência, como ela não escreve a monitora que a acompanha escreveu as cartas e me relatou um pouco sobre ela. Infelizmente não tive a oportunidade de conhecê-la pois ela não foi no dia, mas adorei conhecer pessoas novas.”

Segundo Heitor Gabriel S. de Oliveira (Pieruccetti):

“O dia da culminância do projeto foi um dia incrível. Conheci várias pessoas novas, pude conversar com elas e dizer um pouco sobre mim e bater um papo. Espero que esses eventos aconteçam mais vezes, foi uma ótima oportunidade para a gente aprender um pouco sobre a Escola Municipal José Madureira Horta e contar um pouco da nossa história. O evento aconteceu no ginásio da escola, nós apresentamos alguns cartazes que diziam sobre a nossa escola. Todos os alunos do Madureira chegaram organizadamente e fizeram fila, super bem comportados. Tivemos cerca de 40 minutos para conversar com eles, e acho que foi suficiente. Em geral, foi um dia muito bom e divertido, nunca será esquecido.”

De acordo com Ana Clara M. Barra (Madureira):

“A ideia do projeto em si é boa, foi divertido trocar cartas e aprender um pouco sobre a história das duas escolas. Sobre a história do Madureira eu achei interessante foi que a escola surgiu por um erro cometido pelo desenhista quando estava projetando a planta estrutural do bairro, lá seria um área verde e o desenhista colocou uma placa escrita “Grupo Escolar”, o prefeito daquela época queria aumentar o número de escolas em Belo Horizonte, mandou que construíssem escolas onde estivesse escrito a palavra escola na planta.”

Portanto, terminamos o projeto com a impressão de missão cumprida e de que contribuímos para melhorar o mundo ao nosso redor.

Considerações finais

Considerando a importância de celebrar o retorno presencial das aulas e o cinquentenário das duas instituições escolares,  foi muito significativo o encontro e a troca de experiências entre os estudantes, de realidades distintas, pois conheceram a história e a trajetória das escolas. Com isso foi possibilitada a construção de um forte laço social, fortalecendo os processos de resiliência e a construção de pertencimento e protagonismo estudantil.       

O contexto pós-pandemia, atrelado ao uso massivo das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDICs), em especial o celular, provocou impactos significativos no modo de nos relacionarmos socialmente, na forma de interagirmos um com o outro. Sendo assim, a carta escrita a próprio punho, endereçada a alguém distante da nossa realidade, constitui-se em uma vivência ímpar em que o estudante ampliou a sua visão de mundo.

O projeto foi desenvolvido de forma interdisciplinar, abrangendo as diferentes áreas do conhecimento, voltado para um trabalho com leitura e escrita de forma contextualizada e, ainda, oportunizando aos estudantes perceberem a função social dos diferentes gêneros sociais que circulam em seu cotidiano, além de entenderem que a linguagem constitui-se em uma importante prática social e que, por meio dela, eles podem compreender e influenciar o meio social no qual se inserem, podendo posicionar-se, através de vivências, no contexto escolar, sobre questões diversificadas, sabendo argumentar e se fazer entender através da comunicação escrita. Além disso, pode-se fortalecer os laços e vínculos de pertencimento a uma grande sociedade. A escrita do projeto também sofreu forte impacto dos acontecimentos em duas escolas em Pernambuco e não queríamos que o ocorrido também se repetisse em “nossas escolas”, como foi a crise de ansiedade generalizada, além, é claro, de buscar melhorar as relações interpessoais, por meio de melhoria nas relações socioemocionais e sociopsicológicas dos estudantes, abaladas pelo afastamento social.

Portanto, gostaríamos de ressaltar que o projeto abre margem para outros enfoques, podendo ser utilizado para dar continuidade a outras ações pedagógicas que forem surgindo no decorrer do desenvolvimento desta proposta de trabalho a partir da troca de correspondências entre os estudantes.

Referências

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