Centenario Paulo Freire MST PR Foto Valmir Fernandes 1

Paulo Freire e a escola itinerante do MST

Isabela Camini

Isabela Camini

Doutora em Educação pela UFRGS. Pesquisadora e militante no MST. Dedica sua vida a cuidar da memória das Escolas Itinerantes e Sistematização de experiências populares. Atualmente aprofunda o legado de Paulo Freire escrevendo Cartas Pedagógicas. Autora de Escola Itinerante – na fronteira de uma nova escola, São Paulo, Expressão Popular, 2009; e de Cartas Pedagógicas – aprendizados que se entrecruzam e se comunicam, São Paulo, Outras Expressões, 2012. Junto com João Pedro Stedile, escreve: O Encontro de Paulo Freire com o MST, 2020. (No prelo Editora Paz e Terra).

e-mail: isacamini@yahoo.com.br

 

Muchos que te conocieron sólo por tus libros, quizá pudieron percibirlo, pero quienes tuvimos el privilegio de conocerte, podremos estar de acuerdo en que, arropando ese pensamiento lúcido y transformador, estaba el SER HUMANO MÁS HUMANO que yo haya conocido, como lo he dicho y escrito tantas veces desde que te conocí. (Carlos N. Hurdato). 

Esta é uma Carta Testemunhal[1], escrita com o auxílio da memória que guarda as lembranças da experiência educativa vivenciada na Escola Itinerante e outros espaços do Movimento Sem Terra/MST/Brasil, inspiradas no pensamento e na prática de Paulo Freire. Pelo instrumento precioso da memória oral, salvaremos a crônica de tantos cotidianos vividos e inspirados pelo educador do povo.  A memória se enraíza no concreto quando, com destreza e fidelidade aos fatos, a passamos para o papel. Aqui está meu testemunho.

Por estarmos vivendo dias sombrios ao redor do mundo, com urgência precisamos recolocar na história da educação o legado do educador que cruzou fronteiras para encontrar os oprimidos do Chile e da África. À medida que setores da classe dominante atacam, os Movimentos Sociais Populares lutarão pela sua memória e sua história, recriando sua pedagogia nas escolas, pela dignidade humana. Para nós, ele sempre será o Patrono da Educação Brasileira.

Após anos de luta pelo reconhecimento legal da vida escolar das crianças nos acampamentos/RS, o MST conquistou uma Escola Itinerante, pública estadual. Entre 1996 e 2008, desenvolveu-se uma experiência pedagógica singular, pouco semelhante à usual escola frequentada por nós. Em seguida, cinco estados da Federação onde o MST estava organizado também a conquistaram. O projeto visava à educação dos filhos das famílias acampadas pela Reforma Agrária.

Escola Itinerante foi o nome escolhido pela identidade com o Movimento Social que a reivindicava. Esse nome significa a postura pedagógica de caminhar junto, na luta. Criada a propósito de não se fixar em lugar algum, sua estrutura física era moldável, construída e descontruída quando o acampamento fosse pressionado a mudar de área. Os acampados faziam esse trabalho com destreza e determinação. Geralmente era a primeira construção feita em mutirão. Seu apreço pela escola se devia ao fato de verem seus filhos estudando na “Itinerante”, com educadores acampados. Uma escola o conhecimento brotava da vida, impulsionada pela necessidade da luta. No acampamento, a escola era construída igual aos barracos de moradia, mas com divisões para os diferentes grupos de aprendizagem, secretaria e refeitório. Para haver claridade no seu interior, o MST reivindicou ao Estado lonas especiais, brancas por dentro. Por fora era mantida a semelhança com os barracos. Ao visitar os acampamentos, percebi que a Escola Itinerante era construída em lugar de destaque, visível aos olhos dos visitantes. Ao caminhar por meio aos barracos e falar de sua organização, davam prioridade por passar pela escola. Ali se demoravam para contar a conquista, a sua importância na vida do Movimento e sobretudo, o que faziam para assegurá-la em seu meio.

Em períodos de marchas, educadores e educandos caminhavam próximos, de mãos dadas, identificados com crachás: Escola Itinerante. Portando cadernos e lápis, anotavam as questões pertinentes para posterior conversa e sistematização. Seguramente, com os filhos à sua volta, garantido o aprendizado, os pais lutavam confiantes. Juntos, compartilhavam fios de sossego e apoio em momentos em que a violência do Estado opressor se tornava brutal, a ponto de verter sangue, marcar suas costas ou embaralhar os olhos pelos efeitos do gás lacrimogênio.

Nos momentos de paradas para descanso dos caminhantes, crianças e educadores escolhiam um lugar à parte, debaixo de uma árvore, no interior de um ônibus, ou ainda em algum espaço coberto, encontrado pelo caminho. Pelas condições de itinerância, o tempo aula era menor, não sendo possível conversar e sistematizar todas as interrogações advindas da realidade. Pelo relato, podemos ver a contribuição de Paulo Freire à Escola Itinerante. Nas condições adversas e desafiadoras encontradas, não práticas educativas emancipatórias sem ter Freire como “farol pedagógico” para aquela realidade.   

Obviamente, por estar imersa na luta e inspirada em Freire, essa escola se tornou conhecida e respeitada na academia e frentes de educação popular, ao mesmo tempo que contestada e questionada pela burguesia, defensora da escola capitalista.

Esse testemunho é fruto de minha experiência, junto com os educadores, acompanhando-os nos processos formativos e na sistematização dos aprendizados. Testemunho por ter lido as cartas escritas pelos educandos, a exemplo das cartas de Paulo Freire aos amigos no período de exílio. Suas palavras nos comoviam e confortavam. Tenho nítidas lembranças do entusiasmo que brotava nos olhos das crianças quando havia algum motivo para escrevê-las. Era uma tarefa coletiva e planejada. Sentados em círculos, participavam com ideias, respeitando a sua vez. Era escolhido quem iria colocá-las no papel. Depois de longas conversas, a carta era lida. Caso não estivesse clara e direta, a reescreviam, com seu próprio punho. A escrita das cartas se tornou um aprendizado.

Lembro-me da carta escrita ao Procurador do Estado, explicitando a necessidade da Reforma Agrária. Reivindicavam sua ajuda junto ao Estado para a desapropriação da Fazenda Guerra, onde estavam acampados. Lá queriam lavrar a terra, semear e colher produtos saudáveis, ter escola do campo, continuar estudando e ter dignidade. Denunciavam a presença ostensiva da brigada militar e o menosprezo do seu olhar intimidador no meio do povo. Suas cartas comoviam as autoridades, mas não a ponto de movê-las contra o latifúndio. Exercitadas a olhar a realidade, as crianças se comoveram da prisão de um companheiro, no Paraná, pai de 3 filhos pequenos. Decidiram lhe escrever cartinhas de solidariedade, expressando indignação com a brutalidade da polícia que o proibia de receber os filhos para visitá-lo na prisão. Soube que o pai, preso, as leu e respondeu. Essa é mais uma prova concreta do aprendizado construído pela escritura de cartas em escola problematizadora e libertadora, anunciada por Freire. 

Sou testemunha de vê-los estudar Pedagogia do Oprimido, buscando entender como nos libertarmos do opressor, hospedado em nós. Buscavam o significado das palavras: oprimido, opressor, antidialógico. Lia em seus olhos uma decisão: Se somos semeadores de humanidade, não podemos aceitar práticas de opressão. Temos que lutar por uma escola parecida com a escola que Freire anuncia.

Criada em seis estados da Federação, essa escola mergulhou na pedagogia freiriana, pulsando dentro dela o verdadeiro sentido de seu pensamento: Para a classe trabalhadora, a educação deve ser pública, problematizadora e humanizadora. Para o MST, essa educação somente seria alcançada se a escola estivesse lá onde está o povo, e não o povo ser obrigado a caminhar léguas e léguas para chegar na escola. Tais experiências nos ajudaram a compreender a Pedagogia do Oprimido entrelaçada com a Pedagogia do Movimento. 

A ideia de dialogar com Freire para construir uma escola diferente foi inspirada em três presenças anteriores: primeiro, sabemos que na década de 1980, início da luta pela terra, Paulo Freire foi citado como orientação; segundo, Paulo entrou pelas portas de uma escola de acampamento em 1982, quando as educadoras se inquietaram ao lerem Pedagogia do Oprimido. Essa inquietude as fez buscar interlocução com uma assessoria de Paulo Freire para trabalhar os temas geradores, com palavras da realidade que saltitavam entre os acampados e interrogavam sua luta. Essa iniciativa foi fundamental para desenvolver uma metodologia que destrinchasse as palavras mais ouvidas no acampamento: terra, luta, barraco, sem-terra, morte. A partir delas, nasceram perguntas geradoras de conhecimento crítico e libertador. O desejo era educar o ser humano desde o humano que o habita, assim liam em Pedagogia do Oprimido. Desde esse momento, o sonho do educador do povo não saiu mais de nós.

A terceira presença marcante foi a visita presencial de Paulo Freire no Assentamento Conquista da Fronteira/RS, para a formatura de um grupo de jovens alfabetizadores no Rio Grande do Sul, em 1991. Foi a única vez que encontramos, vimos próximo de nós o educador ditadura havia expulsado do Brasil. Sem acreditar que estivesse num assentamento do MST, apertamos a sua mão, nos fotografamos ao seu lado. O ouvimos falar, do fundo do coração, que o MST estava fazendo o que ele tanto quis fazer – alfabetizar –, impedido pela brutalidade da ditadura em 1964. Com humildade pedagógica, característica do homem grande de coração, aceitou enfrentar as péssimas condições das estradas para chegar no assentamento, nos surpreendendo aos dizer: Mas, eu, que escrevi Pedagogia do Oprimido, como é que eu não vou lá aonde os oprimidos escrevem a sua pedagogia? Hoje, escrevendo essa carta, bateu a saudade do seu rosto jovem fotografado ao nosso lado. Encontrada no álbum de fotografias, fiquei surpresa, como ele e nós éramos jovens. Afinal se passaram 30 anos. 

 Ainda que estejamos recolhidos, por conta da pandemia, nos cuidando uns dos outros pela solidariedade, estamos desenvolvendo uma bela programação de estudos, debates e reflexão sobre o seu legado. Atendendo ao apelo de não o reproduzir, mas de recriá-lo, continuamos seu legado, cravando na terra os pilares da escola sonhada por ele. Quiçá possamos sistematizar as práticas pedagógicas por ele inspiradas, dizendo que é possível forjarmos a escola diferente, ainda que contrariados todos os dias pelo sistema hegemônico. Assim, Paulo, de onde pode nos ver melhor, poderá ler nosso testemunho. Queremos fortalecer e dar visibilidade à sua pedagogia regada nas 1.500 escolas conquistadas nos 37 anos de luta em 24 estados da Federação. Nesses estados, o MST hasteou sua bandeira vermelha, com o desejo de ver a terra partilhada, escola básica para todos, farta produção de alimentos saudáveis, e, sobretudo, ver as crianças livres para crescer, brincar, estudar e expressar sua perturbadora felicidade, compreendendo por que seus pais lutam.

Essas presenças foram o solo fértil a embasar a formação de educadores itinerantes, junto com o movimento das famílias. Por ser uma escola forjada em condições adversas, deveria ser diferente da usual escola capitalista, antidialógica e bancária. Deveria estar imbuída de sonhos, de uma nova escola. Para fazê-la diferente, foram insistentes na leitura e interpretação das obras de Paulo Freire. Palavras geradoras de conhecimento crítico brotavam da luta na qual mergulhavam. O conhecimento nas diferentes áreas era construído pelo diálogo problematizador, respeitando o saber dos educandos, dos educadores, dos livros e da realidade latente e desafiadora. O sonho tão almejado – criar consciência da condição de opressão e buscar a emancipação das pessoas – foi alcançado nessa experiência educativa, em que a luta e a construção de uma nova vida caminhavam juntas.

Pra onde quer que a itinerância da luta forjasse a escola a se mover, educadores revezavam o trabalho entre tempo aula e tempo estudo. O planejamento era coletivo, embasado em leituras de obras de Paulo Freire. Com ele aprenderam a reconhecer na sua realidade os conteúdos geradores de conhecimento: por que somos sem-terra? Por que estamos acampados? Sua pedagogia perpassava os conteúdos e a luta no seu conjunto. Por terem ouvido contar que Freire já havia inspirado o Movimento/1980, quando alguns militantes tiveram acesso a partes das obras Extensão ou Comunicação e Pedagogia do Oprimido, os educadores aprofundaram o diálogo fecundo entre Paulo Freire e a Escola Itinerante. Cientes, todavia, de que nos custará uma vida inteira para entender a grandeza de suas obras. Mas como somos milhares de guardiões de seu legado, não nos faltará força e luz para impedirmos o seu sequestro no nosso meio, em alguma noite escura.

No início da década de 2000, havia 16 acampamentos/RS, portanto, eram 16 Escolas Itinerantes, ora em marcha, ora atendendo as crianças e adolescentes acampados. Lembro que várias delas eram batizadas com o seu nome – Escola Itinerante Paulo Freire. Essa escolha não se dava ao acaso, para isso seus livros eram estudados e debatidos com a comunidade, buscando argumentos: Paulo Freire é dos nossos. É um cara especial, está ao nosso lado. Ele nos inspira, eleva a nossa autoestima. Como nós, luta contra a exploração, defende os oprimidos porque portadores de uma pedagogia, capaz de libertar-se do opressor. Ele lutou pela humanização, por isso é dos nossos.

Ainda preciso testemunhar o que, para o MST, foi muito importante. Essa escola foi devidamente sistematizada e pesquisada, dando-lhes visibilidade. Por necessidade, organizei e busquei ler as 25 dissertações e 9 teses, tão logo alcançadas, em diferentes Universidades do Brasil. Essa memória está preservada, ao alcance do desejo e interesse de novas pesquisas. Soma-se a essa memória, uma coletânea de textos, cartas, relatórios que decorreram dessa experiência. Ao revisitar a memória, sinto que a Escola Itinerante se banhou na Pedagogia do Movimento e na Pedagogia do Oprimido. Por despertar tanto interesse de pesquisadores, se tornou conhecida, lida e debatida em diferentes espaços da educação formal e educação popular. Regada pelos princípios freirianos, levantou questões instigantes e intrigantes. É possível em uma escola, sem lugar fixo, de lonas pretas, estruturas precárias, muitas vezes com aulas debaixo de uma árvore, à beira da estrada, construir uma pedagogia contra hegemônica?

Infelizmente, essa forma escolar itinerante só tem continuidade no Paraná, há 18 anos. A força do Estado opressor negou esse direito aos trabalhadores nos demais estados.

A propósito de seu centenário, nos perguntamos: de que forma a Itinerante recria e reinventa Paulo Freire? Quando os camponeses rompem as cercas do latifúndio e fincam na terra os pilares da escola e lhe dão identidade – Itinerante.  Quando nos acampamentos ou em marcha organizam o ambiente educativo à sombra de uma mangueira, à beira de um lago poluído, próximo a um lixão, e ali estudam a realidade. Quando questionam os conteúdos sem sentido e colocam as palavras geradoras de conhecimento em seu lugar. Quando interrompem as aulas porque a polícia está chegando para despejar as famílias, queimar a escola e jogar a merenda aos cães. Para Freire e para os camponeses, a escola não precisa, necessariamente, de quatro paredes e não deve fechar-se em seus muros, longe da vida e da realidade. À beira da estrada, abrigados às sombras de mangueiras, ou ao sol escaldante, as crianças estudavam o sistema capitalista, sustentáculo do latifúndio improdutivo, o poder da brigada militar que, sem nenhuma misericórdia, destruiu a Escola Itinerante. À sombra de uma mangueira, descansavam sem entender por que os policiais colocaram terra dentro das panelas em que havia comida durante um violento despejo na madrugada fria de julho de 2007.  À sombra da mangueira dá para descansar, refletir, encontrar companheiros, fortalecer as forças para continuar a marcha. Ali a Escola Itinerante se refaz, próxima da vida das famílias, cuja luta é a única condição que lhes resta para conquistar a autonomia e a liberdade.  Longe das cercas que a aprisionam da realidade, essa escola abre-se para a vida, para o mundo.

Ao finalizar esse testemunho, reafirmo: Paulo Freire é presença desafiadora em nossas vidas, acompanha a luta pela Reforma Agrária no decorrer de 37 anos. Sua companhia nos faz bem, nos revigora nas noites frias e nas jornadas em que o sol escaldante perpassa nossos chapéus. Lembramos que no fim da vida, ao assistir pela TV o Movimento em marcha, os camponeses com o sol impiedoso sobre suas cabeças, cansados e desalentados, sangrando os pés descalços pelo asfalto escaldante, levando suas bandeiras rumo a Brasília para protestar, ouvimos dele palavras de perplexidade e indignação. O que Paulo diria hoje às autoridades brasileiras que conspiraram contra o povo? Inconformado, se debatia contra o sistema capitalista, teimosamente e intencionalmente resistente à realização da Reforma Agrária nesse país. Essa questão continua sendo a nossa interrogação e a de todas as pessoas decentes que vivem no Brasil.

Sua contribuição pedagógica, lúcida e crítica, na defesa da escola pública, nos dá a certeza de que ele foi um homem dedicado a pensar sobre um projeto educativo emancipatório. Discordava da escola autoritária e antidialógica. Propôs uma escola engajada, emancipatória, libertadora, sem cercas e muros, encharcada de conteúdos críticos vertendo da realidade. Com sua inspiração, construímos a escola, mais do que escola na Pedagogia do Movimento. Ela continuará tendo a mão generosa do educador do povo, que soube educar em si a gratidão e a sensibilidade. Tendo crescido, calçou as sandálias da humildade pedagógica e andarilhou pelo mundo. Lúcido, coerente e generoso, sempre esteve ao lado dos pobres. Por essa sua história, foi capaz de valorizar a escola dos Sem Terra, iniciada e reinventada, debaixo de uma lona preta.

Paulo, nós lemos suas obras há anos. O recriamos, fazendo a defesa incondicional de seu legado através de nossas práticas sociais concretas na luta pela terra. 

Com um abraço fraterno

Isabela Camini

Primavera de 2021.

[1] Uma versão desse texto será publicada na Revista Decisio, projeto editorial do Centro de Cooperación Regional para la Educación de Adultos en América Latina y el Caribe (CREFAL), no México. Para saber mais: www.crefal.org/decisio .

CAMINI, Isabela. Revista Brasileira de Educação Básica, Belo Horizonte – online, Vol. 5, Número Especial Paulo Freire, setembro, 2021, ISSN 2526-1126. Disponível em: <link>. Acesso em: XX(dia) XXX(mês). XXXX(ano).

Imagem de Destaque: Centenário Paulo Freire/MST-PR/Valmir Fernandes (Fotos Públicas)

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