Indicação | Um convite à leitura!

O livro se encontra à venda no site da Editora Appris, entre outros

Desde sempre, quando em referência às práticas relacionadas ao texto, as ações intelectuais e educadoras sempre estiveram voltadas, quando muito, à formação de novos leitores e, mais recentemente, de novas leitoras também. Como se sabe, as tradicionais práticas de ensino da leitura e, com muito maior dificuldade, da escritura que imperou por milênios, às quais beneficiavam sobremaneira a formação de homens leitores, ainda que nem tanto escritores, alijando a mulher da cultura do escrito e, sobretudo, da prática da escrita. 

Até o século XIX, quase oficialmente, esperava-se, quando muito, que a “boa mulher” fosse uma “boa leitora” dos textos produzidos pelos homens. É evidente, nos conta a história, que contra isso, felizmente, sempre se rebelaram as mulheres! Mas, sabemos também que essa rebelião feminina somente veio a explodir mesmo no século XX, como um dos resultados da escola de massas, organizada e disseminada a partir do século XIX, a qual rompeu com quase tudo aquilo que imperava a respeito do ensino da leitura e da escrita.

No entanto, ainda hoje, uma simples busca mais qualificada utilizando o Google ou qualquer outro buscador mostra que boa parte do investimento ainda se faz na formação de leitores (assim, no masculino) e  muito pouco na formação de autores. Há aqui, evidentemente, a atualização de uma longa e elitista tradição intelectual e de exercício do poder já bastante compreendida pela literatura especializada, mas, como se sabe, muito longe de ser superada. 

Nesta perspectiva, este livro que a leitora/o leitor tem em mãos é, segundo vários aspectos, um investimento em direção à formação de autoras e, portanto, de  reconhecimento da atividade autoral como um exercício de poder/saber que precisa ser democratizado. Em primeiro lugar, são textos de autoras/professoras em seu exercício profissional. Em segundo lugar, fazer da autoria uma posição de exercício profissional não leva a maioria a separar esta atividade das demais dimensões da vida, como é reconhecido pelo prefaciador, o único homem que participa da coletânea. Em terceiro lugar, trata-se de textos escritos e editados por mulheres professoras da Educação Infantil, posição das menos prestigiosas da escola brasileira. Em quarto lugar, quase todas evocam o exercício da escrita como espaço-tempo também da sua formação, de sua autoformação, não se deixando cair no conto do vigário de que a verdadeira formação advém quase exclusivamente do exercício sobre o texto do outro. Finalmente, mas não menos importante, atendendo à convocatória da editora/organizadora, Maria Lúcia, há uma certa unanimidade em afirmar que a autoria do texto é, também, uma forma de elaborar, refletir, transmitir a experiência docente, essa “coisa”, esse “isso”, que nos mobiliza para uma prática amorosa, cuidadora, como afirma a Iza Luz no posfácio, em direção ao Outro, notadamente à criança pequena.

Estão de parabéns as autoras e, sobretudo, a editora/organizadora do livro, pelo trabalho profícuo e pelos investimentos muitos para colocar em nossas mãos um volume tão precioso. Desejo que ele mobilize leitoras e leitores para que se aventurem, elas e eles também, neste fascinante mundo do trabalho de escrita autoral sobre o trabalho e sobre a vida! 

luciano

Luciano Mendes

Luciano Mendes possui graduação em Pedagogia, mestrado em Educação pela UFMG e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo. É professor Titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Participou da coordenação do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822-2022 e do Portal do Bicentenário da Independência. É autor, dentre outros,  de A morte do professor (Caravana, 2022) e O corpo do tempo (Penalux, 2023).

E-mail: lucianomff@uol.com.br

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