Editorial |

Cara leitora e caro leitor,

É com muita alegria que organizamos esta tão esperada edição especial da Revista Brasileira da Educação Básica, que contempla diferentes experiências vivenciadas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no âmbito do Edital 07/2018, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação do Ministério da Educação (MEC).  

O PIBID, uma das ações da Política Nacional de Formação de Professores do MEC, foi implementado no país no ano de 2007 e, desde então, vem passando por diversas mudanças. A partir do Edital CAPES 07/2018, a proposta foi direcionada para discentes da primeira metade de cursos de licenciatura, sendo os demais estudantes direcionados ao programa de Residência Pedagógica (RP). O intuito dos referidos programas consiste em incentivar a formação docente em nível superior para atuação na educação básica, integrando os dois níveis de ensino e vinculando teoria e prática. 

Na UFMG, uma das Instituições de Ensino Superior (IES) contempladas no referido edital, o objetivo geral do PIBID, conforme projeto institucional, consistiu em proporcionar aos licenciandos formação teórico-prática para a iniciação à docência através de sua aproximação gradual com o cotidiano de escolas públicas da educação básica, com o contexto em que estavam inseridas e com outros espaços educativos, oportunizando práticas docentes diversas que visam à superação de desafios identificados nos processos de ensino-aprendizagem de crianças, jovens, adultos e idosos. 

No período compreendido entre agosto de 2018 e janeiro de 2020, o programa foi organizado em Núcleos de Iniciação à Docência, compostos por: Coordenação de área – docente/s da graduação, sendo 01 bolsista/s e os demais voluntário/s –, Supervisores/as –-docentes da educação básica de escolas públicas estaduais, municipais e federais, além de Escolas Família Agrícolas (EFAs), sendo 03 bolsista/s e os demais voluntário/s – e Licenciandos/as (também chamados de pibidianos e pibidianas), sendo 24 bolsistas e até 06 voluntários. Na UFMG, foram formados 16 núcleos do PIBID, totalizando cerca de 500 participantes, dentre os quais 390 estudantes de graduação e 50 docentes da educação básica, supervisores e supervisoras, na condição de bolsistas. Participaram 14 subprojetos, dos cursos de Artes Visuais, Dança, Música, Teatro (Área de Arte), Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Física, Geografia, História, Letras (Língua Portuguesa e Língua Inglesa), Licenciatura em Formação Intercultural de Educadores  Indígena (FIEI) e Licenciatura em Educação no Campo (LECampo), Matemática, Pedagogia e Química. 

As atividades do programa foram desenvolvidas em mais de 50 escolas públicas. Parte delas estava situada no entorno da Universidade, em Belo Horizonte/Minas Gerais – dados os desafios, inclusive financeiros, de deslocamento de licenciandos para as escolas, aspecto amplamente discutido com outras IES participantes e as Secretarias de Educação Municipal e Estadual, com as quais a parceria tornou-se mais estreita nesse período. As demais escolas estavam localizadas em municípios do interior do estado de Minas Gerais e na Bahia, atendendo cursos que funcionam em regime de alternância – FIEI e LECampo.

O material aqui apresentado começou a ser gestado a partir de uma chamada, aberta a todos os núcleos do programa, para a produção de artigos que privilegiassem relatos de experiência com foco nas atividades desenvolvidas ao longo do ano de 2019; além de discussões e reflexões diversas sobre questões e temas considerados relevantes pelos participantes. As produções, todas elas de autoria coletiva – que vão desde uma dupla de coordenadores de área a núcleos inteiros – expressam uma diversidade de ações e reflexões selecionadas a partir de um conjunto, certamente, mais amplo e significativo de aspectos que poderiam ser abordados. Como foi difícil selecionar os conteúdos a serem levados para os artigos! 

Sabemos que as experiências desenvolvidas no seio de cada núcleo do PIBID UFMG ao longo dos referidos 18 meses, com destaque para reflexões daí advindas, são capazes de preencher várias outras páginas para além dos limites que definimos para cada artigo constante nesta revista. Acreditamos que você, leitor/a, facilmente identificará que vários artigos aqui presentes se desdobrariam em outros tantos. Esse movimento, pelo menos em parte, já foi (e segue sendo) realizado por diferentes sujeitos e instituições, seja por meio de diferentes trabalhos e relatórios produzidos e socializados pelos participantes em espaços diversos; seja através de comunicações orais, relatos de experiências e pôsteres apresentados em eventos (dentro e fora da universidade) e, também, por meio de pesquisas sistematizadas em artigos publicados em revistas, Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Isso é importante na UFMG, que também tem se empenhado nessas produções. Tendo isso em vista, incentivamos que tais elaborações sigam sendo realizadas, dada a necessidade de ampliarmos a compreensão sobre o que Bernadete Gatti e outras autoras (2014, p. 104) nomeiam de “efeitos do PIBID para as instituições envolvidas, para os próprios cursos e para a concepção de políticas de ação na área da educação”. 

Sobre a organização e escolhas feitas pelos núcleos para a produção dos textos presentes nesta edição especial da RBEB, ganha destaque a autoria (e, por que não, o protagonismo) de licenciandas e licenciandos, bolsistas e voluntários do PIBID. Salientamos seus esforços para nos contar, de modo sintético, suas experiências: a) por meio da caracterização das escolas (realizada por todos os núcleos no primeiro semestre de 2018 a partir de uma Cartografia de seus espaços, tempos, sujeitos e algumas dinâmicas); b) através da descrição do planejamento e desenvolvimento coletivo e compartilhado de atividades com suporte de supervisores e coordenadores; e c) por meio da narração de suas satisfações e frustrações diante da tentativa de aproximação dos estudantes, visando à construção de propostas significativas de ensino e aprendizagem e de uma formação humana e cidadã, capaz de promover a emancipação dos sujeitos, como discute Paulo Freire (1985). Também ganha destaque, especialmente em alguns artigos, o diálogo teórico-prático específico construído por determinados campos disciplinares em diferentes ações promovidas pelos núcleos. As produções, de modo geral, expressam convergências e divergências, fragilidades e potências, além de exporem desafios e seus diferentes modos de enfrentamento, sinalizando as possibilidades. Entendemos que tais aspectos certamente contribuíram para a criação de “condições para um processo consequente para o desenvolvimento profissional dos docentes”, como sinaliza Gatti (2014, p. 108). 

Passando a outras questões, salientamos que, hoje, quando divulgamos este material, passados dois anos da finalização dos trabalhos do referido edital do PIBID, constatamos que os desafios que se desdobram dos (des)caminhos colocados pela pandemia e pela conjuntura política nacional, ao escancararem e aprofundarem desigualdades, impõem a nós, profissionais da Educação, rever concepções, revisitar propostas e reavaliar ações. Esperamos que a leitura dos textos possa ajudar nessa tarefa (constante) de (re)pensar a escola e a docência: seja servindo de inspiração para experiências vindouras bem-sucedidas; seja balizando reflexões sobre a necessidade de redirecionamento de ações; seja suscitando diálogos e proposições coletivas que visem articular educação básica e universidade; seja fortalecendo a formação inicial e continuada de professores, dentre outras questões. Ademais, desejamos que os textos não sejam lidos como experiências prontas e acabadas, cristalizadas no passado. Entendemos que os escritos contêm alguns retratos do vivido que, de alguma maneira, seguem repercutindo nos sujeitos e espaços onde fizeram morada – tal como nos mostram pesquisas sobre egressas e egressos do PIBID que se inserem no mundo do trabalho como professoras/es. 

Muito mais teríamos a registrar e partilhar nessa apresentação, contudo, não podemos nos alongar! Finalizamos fazendo coro com as vozes de diferentes autoras e autores dos artigos, ao seguirmos engajados/as na luta para que programas como o PIBID possam não apenas permanecer, como ser ampliados, institucionalizados e tornados perenes como políticas de Estado. Esperançamos que o programa, entendido como política pública de educação, possa ser aprimorado conforme a demanda e os saberes construídos por suas bases, de modo a contribuir efetivamente para a construção de uma educação pública, gratuita, de qualidade, diversa e socialmente referenciada, livre de racismo, machismo, LGBTQIAP+fobia e plena de dignidade, justiça social e solidariedade para todas, todes e todos. 

Dedicamos essa edição a Lucca Gomes Souto, homem trans negro que não está mais presente, fisicamente, entre nós; docente da educação básica que muito aprendeu e que tanto nos ensinou enquanto estudante bolsista do Núcleo de Sociologia na edição PIBID-UFMG 07/2018. Que a transfobia – crime que provoca graves consequências para o bem-estar físico e psicológico, incluindo suicídio de pessoas trans – seja sempre combatida: na escola, na universidade, na rua, seja onde for, por todas/os nós! 

Seguimos a educar para (re)existir e transformar! 

Uma boa leitura! 

Abraços.

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