Educação Financeira

PIBID: a educação financeira no cotidiano escolar

?????????????

Margarete Ribeiro Siqueira

Mestra em Educação. Docente na FAI – Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação de Santa Rita do Sapucaí/MG. Coordenadora de Área no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência.

E-mail: profmargarete@fai-mg.br

Daniela Barbosa

Daniela Ferreira Barbosa

Licencianda em Pedagogia pela FAI – Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação de Santa Rita do Sapucaí/MG. Bolsista do PIBID.

E-mail: danifbarbosa@outlook.com

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o intuito de relatar as experiências vivenciadas pela aluna bolsista do sexto período do curso de Pedagogia do Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação – FAI, em um subprojeto de educação financeira aprovado pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid/Capes). O programa visa ao aperfeiçoamento e à valorização da formação dos professores para a educação básica e, para tanto, concede bolsas a alunos de licenciatura participantes dos projetos desenvolvidos por Instituições de Ensino Superior (IES) em parceria com as escolas da rede pública de ensino da educação básica para que desenvolvam atividades didático-pedagógicas.

As ações do subprojeto Educação financeira no cotidiano escolar foram desenvolvidas no quarto ano do ensino fundamental da rede municipal de ensino de Santa Rita do Sapucaí/MG e tiveram como objetivos conscientizar os alunos sobre a importância da educação financeira e sua utilização no cotidiano e compreender a importância do planejamento financeiro para alcançar objetivos individuais e/ou coletivos, para tornar os alunos consumidores conscientes no momento atual e futuro. Para tanto, foi necessária realização de pesquisas e formação didático-pedagógica com a coordenadora de área responsável pelo subprojeto. Conforme Freire (1996, p. 29), “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. Por conseguinte, nas reuniões semanais com a coordenadora de área, aconteceram grupos de estudos para fortalecer as bases teóricas, realizar o planejamento das sequências didáticas, dinamizar a metodologia e contribuir para a aprendizagem dos alunos em educação financeira. Definiu-se que as atividades propostas aos alunos aconteceriam por meio da abordagem de ensino de resolução de problemas, pois “a nova realidade econômica é cada vez mais sensível a atributos educativos como visão de conjunto, autonomia, iniciativa, capacidade de resolver problemas, flexibilidade” (DEMO, 2000, p. 24).

O ensino através de resolução de problemas, além de tornar as aulas mais dinâmicas, interessantes e desafiadoras (DANTE, 1988), permite que o aluno exponha suas ideias, participe, dialogue, discuta e ouça seus colegas, e, consequentemente, tenha condições de melhorar seu desempenho, construir novos conhecimentos e desenvolver o raciocínio.

O ensino baseado na solução de problemas pressupõe promover nos alunos o domínio de procedimentos, assim como a utilização dos conhecimentos disponíveis, para dar resposta a situações variáveis e diferentes. Assim ensinar os alunos a resolver problemas supõe dotá-los da capacidade de aprender a aprender, no sentido de habituá-los a encontrar por si mesmos respostas às perguntas que os inquietam ou que precisam responder […] (POZO, 1988, p. 9).

A atividade de resolver problemas faz parte da vida das pessoas. Segundo a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico – OCDE (BRASIL, 2017), educação financeira é o processo no qual os indivíduos e a sociedade melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de forma que possam se tornar mais conscientes. A OCDE é uma organização internacional que tem como missão promover políticas para o desenvolvimento econômico e bem-estar das pessoas. Assim, a busca por melhoras no comportamento financeiro individual, mesmo em longo prazo, tornou-se prioridade política em muitos países.

Portanto, o subprojeto “Educação financeira no cotidiano escolar” é de suma importância para que os alunos se conscientizem sobre os benefícios da educação financeira, aprendendo desde pequenos a serem consumidores conscientes e responsáveis, para tornarem-se adultos com uma vida financeira saudável e equilibrada no presente e no futuro.

METODOLOGIA

O planejamento das ações foi realizado por meio de sequências didáticas. Para Zabala (1998, p.18), sequências didáticas são “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim, conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”. Contudo, é preciso não se esquecer de “vincular os objetivos específicos aos objetivos gerais […] especificar conhecimentos, habilidades, capacidades que sejam fundamentais para serem assimiladas e aplicadas em situações futuras, na escola e na vida prática” (LIBÂNEO, p. 139, 2013).

Levando-se em consideração o que foi exposto anteriormente, o subprojeto de educação financeira foi desenvolvido durante o ano de 2016 com a aplicação das sequências didáticas previamente planejadas: Consumo x Consumismo; Pesquisa de preço – nota fiscal; Lição de cidadania – consumo consciente; Tipos de pagamento – cartões e cheque. De modo geral, as atividades tinham como finalidade estimular a criatividade, a troca de experiência e a participação ativa dos alunos em relação aos conceitos que envolvem a educação financeira, com o intuito de auxiliá-los na formação do consumo consciente e responsável.

As ações do subprojeto aconteceram na Escola Municipal Coronel Joaquim Inácio, em uma turma de 4º ano, com 25 alunos participantes. A primeira atividade foi com a apresentação do teatro “Aninha compra tudo e Pedro dá conselhos” uma adaptação da obra de Coelho (2010), contando com a participação de todos os alunos bolsistas da referida escola.

Os encontros com os alunos do 4º ano aconteceram uma vez por semana, com diversas atividades prazerosas e instigantes: história em quadrinhos, loja virtual, caça-palavras, simulação de compras, preenchimento de cheque, simulação do uso de cartão de crédito e débito, esquete (dramatização de acordo com a criatividade das crianças) e confecção de um jogo da memória feito pelos alunos, a partir dos conceitos trabalhados em educação financeira.

Durante os encontros com os educandos, a aluna bolsista realizou atividades de observação, monitoria e regência, na qual procurou fazer uso da tecnologia, como o datashow, a televisão, a lousa eletrônica e o laboratório de informática. Também foram realizadas atividades dinâmicas com incentivo à pesquisa, mostrando que a aprendizagem se dá pela mediação do espaço, podendo, assim, pensar que os diferentes saberes interagem para produzir outros saberes.

Na sequência didática Consumo x Consumismo, os alunos foram convidados a relembrar os conceitos trabalhados no teatro “Aninha compra tudo e Pedro dá conselhos”. A bolsista explicou aos alunos o que era consumo e consumismo e, em seguida, apresentou-lhes uma loja virtual fictícia, com o auxílio do datashow, para que os alunos realizassem compras. Cada aluno teria 150 reais disponíveis para a compra. Após todos comprarem, foi feito um gráfico com o levantamento do consumo médio da turma e, em seguida, os alunos foram questionados se haviam se portado como bons consumidores ou como consumistas. Foi um momento de grande importância, pois os alunos tiveram a oportunidade de refletirem sobre suas ações a partir dos questionamentos realizados pela bolsista, além do mais, o questionamento é um fator primordial no processo de ensino e aprendizagem.

Na sequência didática Pesquisa de Preço – nota fiscal foram desenvolvidas as seguintes atividades: no primeiro encontro, com o auxílio da lousa eletrônica, foram apresentadas duas HQ da Turma da Mônica, sendo que uma aborda a pesquisa de preço, tendo como personagens a Mônica e a Magali e a outra, como a pesquisa de preço pode permitir uma melhor compra, com Cascão e seu pai. Foi proposta leitura interativa, questionamentos e reflexões em relação às atitudes dos personagens em cada uma das tirinhas. Logo após, foi apresentado aos alunos imagens de nota fiscal e cupom fiscal, focando os dados neles existentes, inclusive a porcentagem do imposto cobrado por diferentes produtos. Para finalizar houve uma explicação sobre o Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990. Neste encontro, os alunos tiveram a oportunidade de expor situações ocorridas consigo ou com seus familiares, como também esclarecer várias dúvidas em relação à troca de produtos.

No segundo encontro, após a retomada dos conceitos trabalhados anteriormente, os alunos resolveram uma atividade de caça-palavras com dicas, tratando-se de uma revisão de todo o conteúdo explorado. O caça-palavras foi realizado na lousa eletrônica, com a participação de todos os alunos e sob a orientação e mediação da bolsista.

Na terceira sequência didática trabalhada, Lição de Cidadania – Consumo consciente, a aluna bolsista iniciou com o vídeo “Uma Lição de Cidadania”[1], diferença entre consumo e consumismo. Após, houve uma conversa dirigida, e os alunos foram instigados a relatar o que aprenderam com o vídeo e também a estabelecer relação com as atividades de educação financeira realizadas. Em seguida, a sala foi dividida em quatro grupos e, depois do sorteio de um tema, cada grupo planejou um esquete para ser apresentada no próximo encontro. A apresentação dos esquetes, cujos temas foram pesquisa de preço, consumismo, consumidor consciente e propaganda enganosa foram muito bem planejadas e executadas pelos alunos, sendo que a bolsista teve o papel de orientá-los. Após as apresentações, os grupos responderam aos questionamentos da aluna bolsista “Qual o assunto, o tema abordado pelo grupo no esquete? Como vocês chegaram a esta conclusão?” e realizaram uma avaliação oral e escrita dos grupos entre si (se gostaram ou não gostaram e o que aprenderam) e depois uma autoavaliação do grupo.

Na quarta e última sequência didática, Tipos de Pagamento – cartões e cheque, o primeiro encontro começou com o seguinte questionamento: “Como podemos pagar nossas compras?”. Após ouvir os comentários dos educandos, a aluna bolsista apresentou na lousa eletrônica a HQ Turma da Mônica – Cartão de Crédito[2]. Depois, por meio de uma aula dialogada e coparticipativa, houve a discussão sobre os tipos de pagamentos quando se efetua uma compra. Os alunos foram convidados a refletir sobre as compras que são realizadas apenas por desejo ou por necessidade e sobre ética e responsabilidade nos compromissos financeiros assumidos, além de como o uso do cartão de crédito de forma irresponsável pode causar prejuízos e problemas às pessoas.

No encontro seguinte, a bolsista utilizou a lousa eletrônica para uma apresentação em power point sobre os tipos de cheque e solicitou que os alunos observassem atentamente a imagem de cada cheque apresentado. Explicou-se os tipos de cheque e a importância das informações presentes neles. Para finalizar, os alunos simularam uma compra utilizando folhetos de lojas da cidade e realizaram o pagamento preenchendo um cheque nominal.

No terceiro encontro, para revisar o que foi trabalhado acerca de educação financeira, a sala foi dividida em grupos de quatro alunos e cada grupo recebeu 24 cartas para confeccionar um jogo da memória com os temas trabalhados até o momento, e cada grupo estabeleceu suas próprias regras para jogar. Após finalizado o jogo, os alunos foram convidados a responderem a um questionário sobre as atividades que realizaram sobre a educação financeira na escola.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades de observação, monitoria e regência realizadas proporcionaram oportunidades para os alunos se expressarem, aprenderem de maneira prazerosa e com diferentes recursos didáticos, possibilitando, dessa forma, uma aprendizagem de forma lúdica.

Os alunos realizaram algumas atividades escritas sobre as aulas de educação financeira como forma de registros, as quais mostraram que os objetivos estavam sendo alcançados. Nos registros observou-se as novidades que estavam aprendendo, bem como que consideravam as aulas (os encontros) divertidas, produtivas e, até mesmo, diferentes do dia a dia escolar.

Através de conversas informais com os alunos, foi possível perceber que se encontravam motivados e contavam para os pais tudo o que estavam aprendendo sobre educação financeira. Alguns alunos relataram que, quando iam comprar um produto, pesquisavam o preço para adquirir o mais barato, enquanto outros disseram para os pais não comprarem sem antes pesquisar o preço e também como comprar só o que realmente for necessário. Portanto, é possível verificar que o resultado final foi positivo, pois os alunos estavam utilizando os conceitos de educação financeira no dia a dia.

Na confecção do jogo da memória, os alunos comentaram que nunca tinham confeccionado um jogo antes e que foi muito interessante e divertido, demonstrando muito capricho e aprendizado. O jogo era uma forma de verificar como estava o aprendizado dos alunos, pois, na verdade, era uma revisão dos conceitos trabalhados ao longo das sequências didáticas. Foi possível verificar que haviam compreendido e assimilado os temas de educação financeira desenvolvidos em sala de aula.

Para a coleta de dados em relação à aprendizagem dos alunos, foi aplicado um questionário por meio do googleforms em relação aos conceitos e conteúdos de educação financeira trabalhados durante todos os encontros. Como resultado, tem-se que: 100% dos alunos gostaram das atividades propostas; 90% não tinham conhecimentos sobre educação financeira; 70% se perceberam como consumistas no início das atividades; 100% dos alunos gostaram de participar do esquete, da dramatização e do jogo da memória; 90% estão utilizando o conhecimento de educação financeira no cotidiano.

Sendo assim, foi possível constatar que, a partir da análise dos dados coletados no questionário e nos registros individuais dos alunos, os objetivos propostos para o desenvolvimento da educação financeira no cotidiano escolar permitiram uma aprendizagem significativa. Isto porque tais atividades despertaram nos alunos o gosto de estudar, a vontade de participar ativamente das atividades e, consequentemente, o aprender a aprender.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que a educação financeira implica grandes desafios para os educadores e, ao mesmo tempo, é pouco utilizada pelos professores da rede pública, seja por falta de formação e capacitação, seja em virtude de as turmas serem numerosas e do excesso de trabalho, que dificultam a realização de planejamentos capazes de atender aos objetivos propostos.

Para se ensinar bem não basta somente a boa seleção dos conteúdos ou o domínio dos programas e de classe por parte do professor. É necessário também saber como os alunos aprendem tais conteúdos e qual a atitude manifestada por eles perante a apresentação de novos fatos em sua aprendizagem.

Este estudo e essa prática pedagógica demonstraram que, apesar das limitações das escolas públicas, é possível e necessária a aplicação dos conceitos de educação financeira no cotidiano escolar, pois percebe-se a necessidade de adotar correntes de pensamento e paradigmas educativos que contribuam para a construção do conhecimento. É preciso levar em conta a realidade dos alunos, com a finalidade de tornar o ensino de educação financeira mais significativo e atraente, relacionando-a com os problemas financeiros que atingem a sociedade atualmente, com vistas a formar indivíduos progressivamente autônomos e responsáveis.

Enfim, com a experiência adquirida no Pibid foi possível descobrir o dinamismo no ensino e na aprendizagem, assim como buscar uma educação facilitadora, necessária a uma aprendizagem significativa.

 

 

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 7397, de 22 de dezembro de 2010. Institui a Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF, dispõe sobre a sua gestão e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 2010. Seção 1, p.7. Disponível em: <http://bit.ly/2yFUY5o>. Acesso em: 19 abr. 2016.

_______. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990. Seção 1, Suplemento, p.1. Disponível em: <http://bit.ly/18lUsHh>. Acesso em: 19 abr. 2016.

______. Estratégia Nacional de Educação Financeira. Conceito de educação financeira no Brasil. 2017. Disponível em:<http://bit.ly/2ybOsCQ>. Acesso em: 11 out. 2017.

COELHO, M. L. Pedro compra tudo (e Aninha dá recados). 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

DANTE, L. R. Didática da resolução de problemas de Matemática. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998.

DEMO, P. Desafios modernos da Educação. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

MEU BOLSO FELIZ. Turma da Mônica: pesquisa de preço. 2014. Disponível em <http://bit.ly/2g2kgiR>. Acesso em: 11 out. 2017.

______. Turma da Mônica: buscar o menor preço. 2014. Disponível em: <http://bit.ly/2gdBTAf>. Acesso em: 11 out. 2017.

POZO, J. I. A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

[1] Disponível em: <http://bit.ly/2ymhL4V>. Acesso em: 13 out. 2017.

[2] Disponível em: <http://bit.ly/2zlNylc>. Acesso em: 13 out. 2017.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *