Editorial |
Educação sem retrocesso
A educação é um dos fatores essenciais para a constituição de um espaço público no Brasil. Marcado por um passado escravista, o país não conseguiu solidificar, até hoje, uma mentalidade e uma prática efetivamente democráticas. O incipiente apreço à escola pública e às possibilidades que ela traz de reinventar a cidadania confirmam o raciocínio.
Como se não fosse suficiente a herança histórica e cultural, temos assistido recentemente à emergência de propostas como a Escola sem partido. Trata-se de uma iniciativa que, a pretexto de combater suposta doutrinação político-partidária nas escolas – e como tal angaria simpatia de alguns– deseja implantar um ambiente educacional no qual questões cruciais da vida social não sejam debatidas, retirando do processo educacional sua dimensão reflexiva e potencialmente transformadora.
Quando pela porta da escola entra apenas o treinamento e a adequação ao mundo do trabalho, sai pela janela um dos princípios fundamentais que animam o regime democrático: a garantia de que todos possam ter opinião e se expressar. Mais do que isso: que as diferentes opiniões sejam confrontadas por argumentos, de modo que a convivência seja modelada pela/para a alteridade.
Não é se furtando ao debate que as questões sociais desaparecem, pelo contrário, o estímulo ao pensamento – e consequentemente ao debate – é que vão criar as alternativas de que o Brasil tanto precisa neste momento. É por isso que o movimento Escola sem partido põe em risco princípios democráticos e fere a qualidade da escola pública!
A Revista Brasileira de Educação Básica convida os leitores, portanto, a qualificar sua reflexão e sua prática cotidiana por meio dos textos deste número 5: são artigos e relatos que mostram experiência educacional viva, pulsante e aberta às novas gerações, além de uma belíssima entrevista com a professora aposentada da FAE-UFMG Magda Becker Soares, uma das mestras maiores da pedagogia brasileira.
Boa leitura!