Projeto “seu coração já disparou hoje?”: emoções associadas aos hormônios noradrenalina e adrenalina
Angélica Rodrigues Tarouco
Graduanda do Curso de Ciências da Natureza – Licenciatura. No momento atua como residente no Programa Institucional Residência Pedagógica da UNIPAMPA – Multidisciplinar (Biologia, Ciências, Física, Matemática e Química).
E-mail: taroucoa@gmail.com
Aline Farias Maia
Graduanda do curso de Ciências da Natureza – Licenciatura. Atualmente é residente no Programa Institucional Residência Pedagógica da UNIPAMPA – Multidisciplinar (Biologia, Ciências, Física, Matemática e Química).
E-mail: alinefmaia97@gmail.com
Maria Alice Moreira Acosta
Graduada em Ciências do 1 grau pela Universidade da Região da Campanha 2001.Habilitação licenciatura plena em Matemática 2002.Possui especialização em Produção Animal pela Universidade Federal do Pampa/2012.Especialista em práticas educativas no Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Federal do Pampa em 2014. Trabalhou desde de 2014 até 2018 no Programa Institucional de iniciação à docência (Pibid) atuando como supervisora. Trabalha como professora na rede pública estadual desde 2002 no Ensino fundamental e médio lecionando Ciências, Matemática e Biologia. Atualmente participa como preceptor do Programa residência pedagógica.
E-mail: aliceacosta@bol.com.br
Crisna Daniela Krause Bierhalz
Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa, possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas (1997). Especialista em Educação pela Universidade Federal de Pelotas (1998). Mestre em Educação Ambiental pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (2007). Doutora em Educação, linha de Formação de Professores na Pontífica Universidade Católica do RS (2012). Tem experiência na área de Educação, com Ênfase em Didática e Metodologias de Ensino.
E-mail: crisnakrause@gmail.com
INTRODUÇÃO
O projeto intitulado “Seu coração já disparou hoje?”, foi desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), subprojeto Ciências da Natureza da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus Dom Pedrito (RS), aplicado em uma escola de Ensino Fundamental com vinte alunos do oitavo ano, com o objetivo de conhecer a morfologia e a função do sistema endócrino, compreender a função das glândulas endócrinas e identificar a atuação das glândulas suprarrenais.
O Ensino de Ciências na maioria das vezes é trabalhado de forma tradicional, com base na memorização do conteúdo, na abstração e na exposição do professor, quando trabalhado de forma mais interativa explorando diferentes recursos, a aprendizagem pode ser mais relevante. A disciplina de Ciências tem este potencial, pois os conteúdos estão relacionados a saúde, meio ambiente, corpo humano, possibilitando além da relação com o cotidiano a utilização de tecnologias, música, atividades lúdicas e experimentais, facilitando a aprendizagem. Nessa perspectiva, os pibidianos desenvolveram o projeto com o oitavo ano do ensino fundamental, priorizando o estudante como protagonista do processo de ensino aprendizagem.
O trabalho com projetos, se bem elaborado, discutido e conduzido, pode envolver operações essenciais para aquisição do saber, contribuindo para o desenvolvimento do aluno tanto na parte cognitiva quanto social (SAMPAIO, 2012). É necessário que o professor esteja preparado, sabendo quais conteúdos e a forma como irá abordá-los. Deste modo, Sampaio (2012, p. 9) esboça que:
É fundamental que o professor tenha clareza da sua intencionalidade pedagógica para saber intervir no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos utilizados, intuitivamente ou não, na realização do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo aluno.
Os projetos possuem uma outra visão sobre as concepções de conhecimento e currículo e apresentam uma maneira diferente de organizar o trabalho em sala de aula (MOURA, 2010). A temática corpo humano abrange o sistema endócrino, sendo relevante lembrar que este é um conteúdo bastante vasto, portanto, buscou-se dar ênfase nas glândulas suprarrenais, que segundo Derrickson e Tortora (2017, p. 323):
As glândulas endócrinas secretam os hormônios no líquido intersticial, este envolve as células dos tecidos, em seguida as células se difundem para os vasos capilares sanguíneos e são levados pelo sangue para todo o corpo. As glândulas endócrinas incluem a hipófise, tireoide, as glândulas paratireoides, as glândulas suprarrenais e a glândula pineal.
Neste sentido, este conteúdo é de suma importância no Ensino de Ciências, uma vez que, se faz necessária a compreensão do corpo, entendendo as possíveis reações que sucedem a todo momento no organismo através dos hormônios, os quais fazem parte da vida cotidiana do estudante.
METODOLOGIA
Para Silva e Bierhalz (2017) trabalhar com a metodologia de projetos permite que as atividades sejam interligadas, abrangendo a interação de diferentes áreas do conhecimento, acarretando aprendizagens significativas. O projeto intitulado Seu coração já disparou hoje?, ocorreu em quatro encontros, apresentados na tabela 01.
Tabela 01: Organização do projeto.
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
O pré-teste foi aplicado com o intuito de verificar os conhecimentos prévios dos alunos em relação ao tema. Na sequência explanou-se o conteúdo, apresentado aos participantes uma tabela, mostrando os hormônios e suas funções correspondentes. No segundo encontro, realizou-se um jogo criado pelos pibidianos, intitulado: “Jogo das Plaquinhas dos Hormônios”. Foi distribuído aos alunos duas placas, que continham as palavras “Adrenalina” e “Noradrenalina”, ao descreverem situações, os alunos deveriam indicar qual hormônio estava sendo liberado. Na continuidade foi aplicado uma lista de exercício, com o intuito de fixar o conteúdo. Como encerramento os discentes realizaram duas ilustrações sobre os hormônios noradrenalina e Adrenalina.
Já no terceiro encontro ocorreu a construção do modelo didático “Coração pulsando”, formado por um balão vermelho no formato de coração ligado a um equipo de soro e ligado a uma seringa. Na medida em que se exerce força na seringa, o balão se movimenta, reproduzindo os processos de sístole e diástole.
Dando sequência, foi solicitado que os mesmos ilustrassem o corpo humano em papel pardo, para localizar o coração, como mostra a figura 01.
Figura 01: Momentos do projeto
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
O projeto foi finalizado com a “dinâmica das emoções”, elaborada pelos pibidianos. Neste momento os alunos foram vendados e ouviram acontecimentos do dia a dia, que causam estresse, sensação de prazer, alegria e medo. Exemplos: “Estamos atrasados para a escola. Precisamos correr.” (sensação de desespero); “Estávamos correndo e quase fomos atropelados” (medo); “Ao chegarmos a casa e recebemos uma surpresa” (alegria); “Estamos escutando uma música que lembra momentos bons” (sensação de prazer e descanso). Após as atividades descritas anteriormente, foi aplicado um pós-teste, a fim de analisar os conhecimentos obtidos e modificados após o desenvolvimento do projeto.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados deste trabalho estão apresentados em duas dimensões: análise do pré-teste e pós-teste e, análise das apresentações gráficas sobre os hormônios no cotidiano.
– Comparativo evolutivo entre o pré e pós-teste
O pré-teste e o pós-teste foram elaborados com quatro questões, em cuja primeira apresentou-se a situação-problema: “Você coloca o pé no meio-fio para atravessar a rua; está distraído e não olha para os lados. Um carro freia bruscamente, buzina no seu ouvido e para ab-ruptamente bem próximo a você” e questionou-se sobre o que acontece com o corpo quando levamos um susto
A partir desta pergunta, os estudantes responderam três questões, as quais serviram como instrumento para coleta e posterior análise dos resultados obtidos.
Gráfico 01: Reação do corpo diante do susto
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
A análise do gráfico 01, possibilita aferir que os alunos compreenderam a relação do hormônio adrenalina com o susto, pois sete sujeitos citaram o mesmo em suas respostas, exemplificando pela resposta: “O coração acelera e ganhamos uma dose de adrenalina”. Salienta-se que a adrenalina, é um neurotransmissor conhecido como hormônio do medo, provocando contrações dos vasos sanguíneos e aumento do ritmo cardíaco. A noradrenalina, influência o humor, sono e alimentação junto com a serotonina, dopamina e adrenamedo (BARROS; PAULINO, 2010.).
As respostas da seguinte questão: “Que processo você acha que o susto desencadeia no seu corpo”, avaliou-se a compreensão sobre a atuação dos hormônios atuam em nosso organismo.
Gráfico 02: Processos desencadeados pelo susto
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
Como podemos observar, ocorreu uma modificação das respostas referente à aceleração dos batimentos, o número subiu de dezesseis para dezenove alunos após a intervenção no que tange a relação do susto com o aumento dos batimentos cardíacos. Cabe ressaltar que todos responderam que sentiam alguma sensação em seu corpo, seja ela acelerada ou em equilíbrio, no qual destaca-se a afirmação: “Os batimentos em equilíbrio”, a resposta pode ter sido elaborada pela interpretação da liberação dos dois hormônios: adrenalina e noradrenalina, mas que a noradrenalina manteve os batimentos cardíacos equilibrados.
Já o gráfico 03, avalia a questão: “Quais órgãos ou substâncias estão relacionadas com o susto”, sendo que os estudantes poderiam assinalar mais de uma alternativa, sendo elas: coração; rins; pulmão; cérebro; adrenalina; citosol; noradrenalina e ocitocina.
Gráfico 03: Relação entre os órgãos e o susto
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
Para acertar a questão, deveriam assinalar três alternativas, as quais são: “coração, adrenalina e noradrenalina”. Percebemos no pré-teste que nenhum aluno respondeu de forma correta, pois, eles mencionaram as relações: coração, adrenalina; coração; coração, adrenalina e cérebro e adrenalina, esquecendo da noradrenalina. Na análise do pós-teste observamos que os dezoito alunos responderam corretamente, pois, mencionaram coração, adrenalina e noradrenalina, demonstrando que interpretaram de forma correta pois, após o momento de susto a noradrenalina é liberada. E apenas dois responderam parcialmente, já que, marcaram as alternativas coração, adrenalina, noradrenalina e cérebro. Esses relacionaram o cérebro com a hipófise, sendo que essa é considerada a glândula mestre que coordena as demais glândulas. Lembrando que, as demais alternativas, como rins, pulmão, citosol e ocitocina não foram assinaladas em nenhum momento.
– Análise dos desenhos
No segundo encontro os alunos foram desafiados a realizar dois desenhos, um em relação a adrenalina e o outro sobre noradrenalina.
Na análise foi realizado um levantamento dos assuntos mais citados pelos estudantes, em relação aos hormônios trabalhados durante o projeto. Em relação ao hormônio noradrenalina, os participantes ilustraram que ao liberar o mesmo, o organismo desenvolve reações de relaxamento, calma, tranquilidade. Expressos no gráfico 04.
Gráfico 04: Desenhos relacionados à noradrenalina.
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
A análise do gráfico 04, demonstra que as representações são: dormir (seis alunos), música (cinco alunos) exemplificada na figura 02, ler (cinco alunos), assistir TV (três alunos) e conversar (três alunos).
Figura 02: Ilustração “Música”
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
A figura 02 refere-se a representação de um dos alunos, o qual relacionou o hormônio noradrenalina com a reação de tranquilidade, a mesma que é adquirida ao escutarmos músicas, demonstrando Mostrando assim, que compreendeu que ao liberar o hormônio noradrenalina (através das glândulas suprarrenais), o organismo desenvolve algumas reações de tranquilidade e calma.
Ainda na mesma atividade, foi solicitado que os alunos fizessem uma ilustração relacionada à Adrenalina, hormônio que é liberado quando um indivíduo se encontra em estado de medo. O gráfico 05, apresenta estes resultados.
Gráfico 05: Desenhos relacionados à Adrenalina.
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
Ao analisar o gráfico 05 apresentado, observa-se que a bicicleta (07) foi a mais ilustrada pelos participantes, seguida do futebol (05), apaixonar-se (04), susto (03). Foram mencionadas apenas uma vez, as seguintes atividades: brincar no balanço, escalar montanha e andar de skate. Como exemplo dos resultados, apresentamos a ilustração que associou o ciclismo a uma atividade que acarreta na liberação de Adrenalina, e promove medo e nervosismo.
Figura 03: Ilustração “Ciclismo”
Fonte: TAROUCO et al., 2018.
Os resultados possibilitaram perceber que os estudantes compreenderam o tema abordado, diferenciaram os dois hormônios ligados às emoções e relacionaram seus efeitos no organismo as atividades cotidianas.
CONCLUSÃO
Durante o decorrer do projeto percebeu-se o quanto os métodos utilizados foram válidos, pois os alunos interagiam, contavam situações as quais sempre foram exploradas. Com isso é possível afirmar que metodologias diferenciadas, realizadas durante o projeto, atraem os alunos e faz com que os mesmos interajam com o professor e o conhecimento científico, tornando o processo de aprendizado mais relevante para o discente, e sempre que possível relacionar o conteúdo abordado com o cotidiano dos alunos, assim tornando-os mais próximos da realidade.
O desenho permite que o aluno possa se expressar e mostrar que compreendeu o que está sendo ensinado, visto que o processo de aprendizagem é muito particular, é preciso buscar diferentes formas para que o estudante mostre que este processo está sendo efetuado. Com isso, pode-se afirmar que os estudantes conheceram a morfologia e a função do sistema endócrino, tal como sua função das glândulas endócrinas no organismo. Além disso, identificaram a atuação das glândulas suprarrenais, ou seja, os objetivos propostos pelo projeto, foram obtidos com êxito.
REFERÊNCIAS
BARROS, Carlos; PAULINO, Wilson. Ciências o corpo humano. São Paulo: Ática, 2010.
DERRICKSON, Gerard J.; TORTORA, Bryan. Corpo Humano Fundamentos de anatomia e Fisiologia. São Paulo: Techbooks, 2017.
MOURA, Daniela Pereira. Pedagogia de Projetos: contribuições para uma educação transformadorak.Só bilogia. Disponível em: http://www.pedagogia.com.br/artigos/pedegogiadeprojetos/ . Acesso em: 14 de agosto de 2018.
SAMPAIO, Maria Cláudia Santos. A importância de trabalhar com projetos no ensino fundamental. São Paulo: CNEC, 2012.
SILVA, L. G.; BIERHALZ, C. D. K. Esmaltes de unhas como temática para o Ensino de Ciências da Natureza. Revista Debates de Ensino em Química, v. 3, n. 2, 2017.