Representações sociais acerca da violência por profissionais da equipe técnica pedagógica do município de João Pessoa
Giovanna Barroca de Moura
Mestre em Cooperaciónal Desarollo pela Universidade de Valência com revalidação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bacharela em Pedagogia, Licenciada e Formação em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba. Trabalhou como Supervisora escolar na Prefeitura Municipal de João Pessoa. Atualmente é professora de pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú.
E-mail: giovannabarroca@gmail.com
Tannissa Luanna Cardoso De Araújo
Graduada em Pedagogia pela UEPB, cursando Letras/Libras, pela UFPB, com Especialização em Gênero e Diversidade na Escola, pela UFPB e em Ensino de Língua Portuguesa e Matemática numa abordagem transdisciplinar, pelo IFRN. Tendo como experiência profissional na área de Educação de Jovens e Adultos e na sala de Atendimento Educacional Especializado – AEE. Atualmente atua como coordenadora pedagógica na Escola Municipal Dr. Hélio Mamede de Freitas Galvão, em Goianinha/RN.
E-mail: tanni_luanna@hotmail.com
Jaqueline Gomes Cavalcanti
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba. Atualmente é mestranda em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba.
E-mail: gomes.jaqueline@gmail.com
INTRODUÇÃO
A violência é uma temática que tem a capacidade de produzir muitos significados. No âmbito escolar, pode causar muitos problemas caso as questões que emergem da violência, ou mesmo simplesmente da percepção que se tem da violência, não seja trabalhada em suas diversas facetas. Assim, os agentes que dão suporte à atividade fim de uma escola, realizada na relação entre professores e alunos, como: supervisor, orientador, assistente social e psicólogo, são sujeitos sociais que precisam se inteirar de que a violência, bem como a ideia que se traduz do termo, tem reflexos no cotidiano escolar.
A escolha do tema da violência foi orientada pelo pressuposto de que a capital paraibana é a quarta cidade mais violenta do mundo, de acordo com a ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal (2014). “Como a escola e a sociedade são elementos indissociáveis” (MEIRELLES et al, 2008, p.1), a pesquisa desenvolvida no Brasil, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), intitulada “Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar”, investigou a situação da saúde dos escolares a partir de diversos aspectos, entre os quais, os indicadores de violência na escola da capital paraibana atingiu a sexta colocação no índice de violência no espaço escolar. Segundo Mesquita (2010), a violência tem seu reflexo no processo ensino-aprendizagem, que torna difícil a tarefa de ensinar e prejudica todo o funcionamento escolar. Nesse sentido, esse fenômeno é um problema cada vez mais desafiante para os educadores.
Para possibilitar a busca do conhecimento sobre a violência e a sua relação com a experiência dos supervisores, orientadores, assistentes sociais e psicólogos, o presente estudo buscou investigar as representações sociais da violência, pois esta teoria possibilita um olhar dinâmico e multifacetado sobre o objeto de estudo. Para Moscovici (1984, p. 181) “a representação social é compreendida como um conjunto de conceitos, afirmações e explicações originadas no decurso do cotidiano e no decurso das comunicações interindividuais”.
Verifica-se uma escassez de estudos sobre representações sociais acerca da violência no contexto da educação (REZENDEM, 2015; SANTANA, 2012). Todavia, dada a relevância para o campo da Pedagogia, esse estudo buscou apreender as representações sociais acerca da violência elaborada pela equipe técnica pedagógica do município de João Pessoa.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de campo, em uma abordagem multimétodo. A pesquisa foi realizada em 2015 durante a Formação Continuada da Equipe Técnica das Escolas Municipais de João Pessoa.
Os participantes eram da equipe técnica pedagógica formada por supervisor, orientador, assistente social e psicólogo da Prefeitura Municipal de João Pessoa, totalizando 225 profissionais; desses: 98 supervisores, 37 assistentes sociais, 47 psicólogos e 43 orientadores educacionais, de ambos os sexos, na faixa etária de 20 a 60 anos.
Utilizou-se da técnica de Associação Livre de Palavras com o fim de se coletar as representações sociais acerca da violência. Essa técnica tem por objetivo apreender a percepção da realidade de um grupo social a partir de um significado preexistente. Possibilita respostas abertas, em que o entrevistador emite uma ou mais palavras. O participante deve associar livremente as palavras que lhe vem a mente ao ler a palavra estímulo, no caso: “violência”.
Os dados obtidos pelo Teste de Associação Livre de Palavras foram analisados por meio da Análise Fatorial por Correspondência (AFC), utilizando-se o programa Tri-Deux-Mots que é indicado para o tratamento de questões abertas, fechadas e / ou associação livre de palavras, destacando as relações de atração e exclusão entre os componentes representacionais dos diferentes grupos; dando evidência às variáveis fixas (em colunas) e as modalidades ou variáveis de opinião (em linhas), que se confrontam e se revelam graficamente na representação do plano fatorial.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O processamento dos dados originou a Figura 1 a seguir, na qual se apresentam os campos semânticos associados à profissão, graduação, sexo, idade e tempo de serviço. Registraram-se um somatório de 235 palavras; 109 dessas palavras eram diferentes e foram ditas pelo conjunto dos participantes.
Figura 1 – Plano fatorial de correspondência
Fonte: nossa autoria.
Os resultados apresentados na Figura 1 oferecem uma leitura que representa as variações semânticas na organização do campo espacial, revelando aproximações e oposições das modalidades, conforme pode ser observado no plano fatorial, através dos dois fatores nele contemplados (F1 e F2). Sua análise foi realizada a partir da leitura das 225 palavras principais com similaridade semântica ou representações distribuídas de maneira oposta sobre estes fatores.
Por meio do plano, verifica-se que o primeiro fator (F1), destacado em vermelho na linha horizontal, expôs as maiores cargas fatoriais, explicando 24,2% da variância total de respostas dos profissionais de educação. No Fator 1 (F1), eixo horizontal, do lado esquerdo do gráfico, na cor vermelha, emergiu um conjunto de significados elaborado pela equipe técnica pedagógica que tem de 21 a 30 anos de tempo de serviço e que correspondem à faixa etária de 51 a 60 anos de idade, os quais elaboraram o estímulo Violência como: “desrespeito e agressão”. Ainda no Fator 1 (F1), o eixo à direita, na parte horizontal ao centro, encontram-se agrupadas as evocações dos profissionais de educação que têm até 5 anos de tempo de serviço e estão na faixa etária de 31 a 40 anos de idade. Para esse grupo, a violência é sinônimo de “drogas, abuso e ausência”.
No Fator 2 (F2), destacado ao centro, na linha vertical do plano, com um percentual de 20,5% da variância total de respostas, evidenciam-se dois conjuntos de significados distintos. No plano superior, encontram-se as evocações dos profissionais de educação que são graduados e estão na faixa etária de 41 a 50 anos de idade, e de 11 a 20 anos de tempo de serviço. Nesse grupo, o termo violência corresponde a “medo, falta e violação”. No plano inferior do F2, encontram-se as representações dos orientadores escolares que têm especialização e tem de 6 a 10 anos de tempo de serviço que correlacionam o termo violência como “sociedade”.
Com base nesses dados, a ideia de violência foi expressa por diferentes representações, entre elas os termos “desrespeito, agressão, drogas, abuso, ausência, medo, falta, violação e sociedade”. Essas manifestações repercutem no processo de ensino-aprendizagem e, por isso, é um fenômeno que chama atenção para o corpo pedagógico que compõem a escola.
As relações humanas sofrem com o impacto da violência e suas manifestações podem afetar a integridade física, emocional e psicológica de um indivíduo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A apreensão dos dados da pesquisa nos afirma que a violência é multifacetada. Cada indivíduo elabora, transforma e interpreta a ideia sobre o termo de forma diversa.
Os dados desta pesquisa foram apreendidos em uma formação continuada, no município de João Pessoa. Segundo Freire (1991, p. 83) “é preciso um grande investimento na formação permanente dos educadores para que possa reverter a situação existente.” Nesse caso, a situação de violência.
Assim, o fenômeno ancorado pelos participantes desta pesquisa mostra-se importante, pois indica que há obstáculos que precisam ser removidos para que haja alegria de ensinar e aprender. Aponta também que é preciso desenvolver projetos pedagógicos que tragam à luz uma leitura crítica da realidade, e que incrementem a qualidade de vida escola. Em função da carga negativa que a ideia de violência tem, vemos a premência de políticas públicas educacionais que visem a mudança de cultura, para que provoque uma mudança de comportamento e de leitura do ambiente escolar. A educação continuada é um bom começo.
REFERÊNCIAS
FREIRE, P. A educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991. 144p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Brasília: IBGE, 2012. 254.p.
MEIRELLES, B. A. V. et al. Sociedade e educação: a escola como representação da sociedade. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia, n. 12, p. 1-4, 2008. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/oXXUQG0MCrX2gAg_2013-6-28-15-48-26.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2016.
MESQUITA, C. M. S. Representação social de alunos do 3º e 4º ano do ensino fundamental sobre violência no espaço escolar em Blumenau – SC. 2010. 208 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenal, 2010. Disponível em: <http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/FURB_68066c9de3f0ef5d6ab03f333de5507e/Details>. Acesso em: 23 ago. 2016.
MÉXICO. SEGURIDAD, JUSTICIA Y PAZ. CONSEJO CIUDADANO PARA LA SEGURIDAD PÚBLICO Y PENAL A.C. La violencia en los municipios y en las entidades. Ciudad de México. 2014. Disponível em: < http://www.seguridadjusticiaypaz.org.mx/biblioteca/prensa/send/6-prensa/200-as-50-cidades-mais-violentas-do-mundo-em-2014 >. Acesso em: 23 ago. 2016.
MOSCOVICI, S. La psychanalyse, son image et son public. Paris: Press Universitaires de France, 1984. 512p.
REZENDE, V. C. P. O trabalho docente e as representações sociais de violência na escola. Campo Grande. 2015. 363f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Minas Gerais, 2015. Disponível em: < http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFMS_d3ea907832764a65e4ffda4c23ec40b8>. Acesso em: 23/08/2016.
SANTANA, A. F. S. Representações sociais de estudantes do ensino fundamental da rede pública de ensino acerca da violência na escola. Inter-Ação, Goiânia, v. 37, n. 1, p. 113-130, jan./jun. 2012. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/interacao/article/viewFile/18874/11244 >. Acesso em: 23 ago. 2016.
Artigo muito importante para entender uma sociedade cheia de comportamentos violentos, os quais permeiam o espaço da escola também.
Artigo muito bem elaborado e abrangente, realmente muito aplicável ao nosso quotidiano.