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Transdisciplinaridade entre Língua Portuguesa e Matemática no processo de ensino e aprendizagem: relato de experiência em escola da rede privada em Natal (RN)

Heriberto Siva

Heriberto Siva Nunes Bezerra

O autor é Mestre em Educação pelo PPGEP/IFRN, licenciado em Matemática pela mesma instituição. Atualmente é professor de Matemática e robótica educacional no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.

E-mail:heribertobezerra@rn.sesi.org.br

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Tatiani Daiana de Novaes

A co-autora é doutora em Estudos da Linguagem pela UFRN, atualmente é coordenadora de pesquisa e professora de Língua Portuguesa do IFRN Campus Cidade Alta em Natal.

E-mail: tatiani.novaes@ifrn.edu.br

INTRODUÇÃO

A Matemática e a Língua Portuguesa são duas disciplinas essenciais na formação educacional dos estudantes. Percebemos que suas aplicações estão diretamente relacionadas ao mundo profissional e social, pois, como afirma D’Ambrósio (2012), a Matemática é uma ciência viva, em constante interação com a sociedade e com o mundo do trabalho.

A esse respeito, Nascimento (1998) ainda complementa que a Matemática, ao longo da história da humanidade, mostra-se uma ciência viva, dinâmica, em constante evolução e que interage com a realidade em uma relação de reciprocidade. Assim, a Matemática é a ciência que, através da harmonia entre seus aspectos práticos e formalistas, permite o estudo analítico e quantitativo das relações estabelecidas entre o homem e a realidade que o cerca, instrumentalizando-o, desta forma, para uma ação participativa e transformadora sobre a sociedade em que vive. Nesse sentido, compreendemos que ela permite ao ser humano um novo olhar sobre sua realidade e reais possibilidades de mudanças em aspectos de suas vidas, seja pessoal e/ou profissional.

Referente à Língua Portuguesa, Lima (2014) afirma que essa disciplina é fundamental para o sucesso do processo comunicativo, na forma escrita e oral, e ainda complementa que a prática da leitura e a da interpretação de textos são atividades que devem ser desenvolvidas frequentemente, pois são conhecimentos essenciais nas relações sociais, em diferentes contextos e para a conquista de bons cargos de trabalhos.

Porém, em nossas rotinas diárias em sala de aula, especificamente no primeiro semestre de 2019, constatamos que nossos estudantes, em escola da rede privada na cidade de Natal, encontravam dificuldades em resolver problemas matemáticos, que exigiam a leitura e a compreensão de enunciados.

Percebemos também que, quando eram propostas atividades diretas, nas quais não havia uma contextualização, alguns poucos estudantes conseguiam aplicar corretamente os conhecimentos da Matemática. Logo, pensamos que o problema da falta de êxito na resolução de questões de cálculos estava relacionado às dificuldades na leitura e interpretação de enunciados, além de défices na base Matemática.

A partir dessa problemática enfrentada em sala de aula, nos questionamos como seria possível realizar a transdisciplinaridade entre Matemática e Língua Portuguesa por meio de material lúdico e jogos. Ainda nos indagamos se a utilização de aulas mais interativas, dinâmicas, despertaria nos estudantes uma maior curiosidade e vontade em aprender os saberes inerentes dessas disciplinas.

Deste modo, esta pesquisa tem como objetivo geral refletir sobre a importância da transdisciplinaridade entre Língua Portuguesa e Matemática no processo de ensino e aprendizagem. Ainda, busca-se inicialmente discutir a temática a partir de estudos de teóricos que dialogam sobre transdisciplinaridade, Educação Matemática e práticas pedagógicas, além de relatar experiência em escola da rede privada na cidade de Natal, na qual se utilizou de práticas lúdicas e interativas no processo de ensino e aprendizagem de educandos.

Para alcançarmos nossos objetivos, escolhemos a metodologia do estudo de caso, relatando experiência vivenciada em escola privada na cidade de Natal, durante o ano de 2019. Além do mais, realizamos uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, por meio de estudo de teóricos que debatem temas como Educação Matemática, práticas pedagógicas e transdisciplinaridade, tais quais: Freire (1996), Nascimento (1998), Nicolescu (1999), D’Ambrósio (2012) e Rodrigues (2018).

Esse estudo contribuirá para que os futuros e atuais educadores reflitam sobre suas práticas pedagógicas em sala de aula. Além disso, essa investigação permitirá uma nova discussão referente à transdisciplinaridade entre Língua Portuguesa e Matemática, as quais são disciplinas essenciais na formação educacional, profissional e social dos estudantes.  Portanto, a partir desse estudo espera-se um novo olhar do estudante sobre essas duas ciências, em especial a Matemática, desmistificando a falsa ideia de que é uma disciplina difícil e complicada, ao demonstrarmos, por meio dos relatos de experiências práticas, que ela pode ser divertida e interativa.

Desse modo, esse trabalho científico encontra-se estruturado em (4) quatro blocos: o primeiro é essa introdução, na qual realizamos uma breve contextualização e exposição da problemática, além de apresentarmos aos leitores os objetivos, a metodologia e a justificativa da pesquisa. Posteriormente, discutimos a transdisciplinaridade entre Língua Portuguesa e Matemática, práticas pedagógicas e Educação Matemática, a luz de teóricos supracitados. No terceiro bloco, relatamos experiência em uma escola privada na cidade de Natal, onde utilizamos de estratégias pedagógicas para fortalecer a base matemática dos estudantes e desenvolver a prática da leitura e compreensão de enunciados de questões matemáticas, obtendo, assim, êxito em seus exames escolares, e, por último, apresentamos as considerações finais.

O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA E MATEMÁTICA NUMA PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR

Curtis (2014) explica que a matemática é apontada pelos estudantes como uma disciplina difícil e complexa, a qual somente um seleto grupo de estudantes é capaz de compreender e aplicar corretamente. O autor ainda complementa que foi construída historicamente uma imagem negativa sobre essa ciência.

Todavia, sua aprendizagem é necessária, pois, segundo D’Ambrósio (2012), a Matemática é uma ciência viva, suas aplicações estão em nossas ações cotidianas, estando em constante interação com a sociedade e com o mundo do trabalho, logo o processo de construção da base matemática é um desafio enfrentado diariamente pelos educadores e pelos estudantes.

A esse respeito, Nascimento (1998) ainda considera que a Matemática permite ao homem estabelecer relações desta disciplina com outras ciências, tais como: história, geografia, sociologia, artes, etc. “[…] seus conteúdos não são isolados e permitem uma articulação interdisciplinar em sala de aula, que tende a assegurar ao aluno a apreensão do saber”. (NASCIMENTO, 1998, p. 12).

Logo, constata-se que a aprendizagem da base Matemática é essencial aos estudantes, pois esses conhecimentos apreendidos serão necessários para suas relações sociais, acadêmicas e profissionais. Por isso, a escola deve estar atenta ao processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, tendo em vista que muitos dos déficits de aprendizagem de conteúdos matemáticos apresentados ocorrem por causa de lacunas epistemológicas desenvolvidas durante as séries iniciais.

Ainda no contexto escolar, por meio de nossas experiências em escola privada na cidade do Natal, observamos que os estudantes apresentavam dificuldades em resolver problemas matemáticos que exigiam leitura e compreensão do enunciando, porém, quando estes eram solicitados a realizar cálculos diretos e sem contextualização, obtinham, em alguns momentos, êxito. Supomos, assim, que eles possuíam dificuldades na leitura e na interpretação, havia um déficit em Língua Portuguesa, além de uma frágil base Matemática. Logo, pensamos ações que pudessem contribuir na aprendizagem dessas duas ciências, utilizando-se para tal a transdisciplinaridade.

Desse modo, Rodrigues (2018) afirma que a transdisciplinaridade é uma estratégia pedagógica que possibilita maior apreensão de conhecimentos. É um caminhar que visa ultrapassar as fronteiras das disciplinas, pois permite uma forte articulação entre diferentes áreas do saber. A pesquisadora também destaca que:

A transdisciplinaridade supõe agir sobre os saberes que vimos produzindo, atuando sobre os valores que os mantêm, o modo de praticá-los, questionando as “chamadas” novas competências individuais e coletivas; faz-nos retomar as marcas profundas que a história nos legou, utilizando este aprendizado como experiência essencial na reorientação de novas ações e de uma nova ética. Consiste, portanto, no exercício crítico em que concorre pensamento, ação, experiência, diferença, valores. (RODRIGUES, 2018, p. 3).

Então, compreendemos que, ao utilizarmos dessa perspectiva transdisciplinar em nossas aulas, poderíamos pensar estratégias pedagógicas e metodologias de ensino divertidas e interativas que possibilitariam mudar a realidade observada. Ou seja, que nossos estudantes conseguissem compreender os enunciados das questões e fortalecessem a base Matemática, consequentemente que alcançassem melhores resultados em atividades e avaliações de Língua Portuguesa e Matemática.

Convergindo com os pensamentos de Rodrigues (2018), Nicolescu (1999, p. 161) afirma que “[…] a transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar; faz emergir do confronto das disciplinas novos dados que as articulam entre si; e ela nos oferece uma nova visão da natureza e da realidade”. Assim, compreendemos que a transdisciplinaridade não busca o domínio de várias disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa, é uma estratégia pedagógica que favorece o processo de ensino-aprendizagem e permite ao educando estabelecer relações entre disciplinas e saberes.

Referente ao ensino de Matemática, Engelmann (2014) assegura que o uso de materiais lúdicos em sala de aula colabora para que os estudantes enxerguem essa disciplina com uma ciência divertida e fácil de aprender, além do mais o uso do lúdico permite a esses indivíduos identificarem as aplicações dos conceitos estudados em suas vidas.

O material lúdico e o jogo introduzem os estudantes à leitura e à interpretação das regras e objetivos propostos pela atividade. Além do mais, essa estratégia pedagógica é uma oportunidade de se promover a transdisciplinaridade entre Língua Portuguesa e Matemática, visto que, para se alcançar as metas do jogo, se faz necessária a interação de saberes de ambas as ciências, por meio da leitura, compreensão e do cálculo algébrico.

Indo ao encontro dos pensamentos de Engelmann (2014), os Parâmetros Curriculares Nacionais da Matemática – PCN (BRASIL, 1998) explicam que o professor deve utilizar atividades que exijam o trabalho em grupo, o uso de jogos em sala de aula também contribui para a aprendizagem, para a socialização dos estudantes e fortalece o coletivismo e o compartilhamento do conhecimento.

Referente à Língua Portuguesa, no livro PRALER (Programa de Apoio a Leitura e a Escrita), material disponibilizado pelo MEC – Ministério da Educação – (BRASIL, 2007) às escolas e professores de Língua Portuguesa, destaca-se que a prática da leitura e interpretação deve ser incentivada pelos educadores, de modo que permita ao estudante aprender essas habilidades fundamentais em suas vidas. Para tal, pode-se utilizar da leitura compartilhada por meio de círculos de leituras.

Acreditamos que, escolhendo-se temas pertinentes à  realidade dos estudantes e atrelando-os com as aplicações da Matemática no cotidiano, indubitavelmente contribuiria para que esses jovens se sintam motivados e interessados em aprender ambas as disciplinas. Freire (1996) afirmou que a aprendizagem por meio de elementos e situações do dia a dia do indivíduo contribui para que ele interiorize o conhecimento e o utilize em sua vida, o que compreendemos como uma aprendizagem significativa.

A seguir, relataremos experiência em escola privada na cidade de Natal, na qual, a partir de uma problemática apresentada pelos nossos estudantes, no que tange à dificuldade em leitura e interpretação de enunciados de questões e frágil base Matemática, desenvolvemos atividades pedagógicas, utilizando da transdisciplinaridade. Isso possibilitou a reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem e novas estratégias que fomentassem êxito em avaliações bimestrais, consequentemente proporcionando maior confiança, fortalecendo as relações sociais por meio do trabalho em grupo e estimulando a curiosidade e a criatividade dos estudantes.

RELATO DE EXPERIÊNCIA EM ESCOLA DA REDE PRIVADA NA CIDADE DE NATAL

No final do primeiro semestre de 2019, especificamente no mês de maio, no conselho de classe realizado com a participação da supervisão pedagógica, coordenadoras, diretora e professores, de uma renomada escola privada na cidade de Natal, percebemos que nossos estudantes do primeiro ano do Ensino Médio apresentavam dificuldades em resolver problemas matemáticos contextualizados, os quais necessitavam de leitura e interpretação dos enunciados.

Consequentemente, essa conjuntura acarretava baixas notas nas avaliações de Língua Portuguesa, mas principalmente em Matemática, ciência essa em que os estudantes demonstravam, em sala de aula, pouco interesse em aprender e algumas lacunas referentes às operações básicas, necessárias na resolução dos cálculos. Ademais, ao se depararem com as situações-problema aparentavam desconforto e insegurança, logo não respondiam corretamente.

Diante disso, em um trabalho cooperativo, decidimos pensar estratégias pedagógicas que promovessem a transdisciplinaridade entre Língua Portuguesa e Matemática, a fim de colaborar no processo de ensino-aprendizagem de nossos estudantes, além de contribuir para uma maior autoconfiança durante a realização de seus exames escolares e incentivar a socialização por meio do trabalho em equipe.

Nesse sentido, optamos por realizar oficinas de jogos matemáticos utilizando situações-problema do cotidiano desses estudantes, as quais demandariam leitura e interpretação de textos, além do conhecimento da Matemática básica, para alcançar os objetivos propostos. Essas oficinas aconteceram durante os primeiros meses do segundo bimestre de 2019 e tiveram a participação de todos os estudantes do primeiro ano do Ensino Médio, como também dos professores das disciplinas envolvidas no projeto.

Além disso, ficou acordado pela supervisão pedagógica que as oficinas ocorreriam nas sextas feiras, durante o contraturno desses estudantes. Previamente os pais foram avisados e de imediato a proposta foi abraçada pelos familiares, os quais também se comprometeram em apoiar os estudantes, cobrando a realização das atividades propostas para serem feitas em casa e determinando horários de estudos. Assim, em um trabalho abraçado pela escola e pela família, iniciamos o projeto transdisciplinar.

No dia 12 de julho de 2019 ocorreu a primeira oficina, tivemos a participação de 34 estudantes, sendo a turma regular composta por 39. Essa quantidade significativa motivou não somente os professores envolvidos como também os estudantes presentes, os quais percebiam que as dificuldades em leitura, interpretação de enunciados e de base Matemática não eram individuais, mas sim coletivas.

Os professores iniciaram a aula com uma leitura compartilhada referente a uma situação-problema, na qual uma jovem gostaria de formar a maior quantidade de “looks” possíveis utilizando-se de 03 blusas e 04 saias distintas. A leitura e interpretação contaram com a participação dos estudantes, os quais iam indagando as hipóteses e conjecturando sobre quais conceitos matemáticos eram necessários para a conclusão.

Salientamos que, ao longo da leitura, os professores faziam as correções necessárias no que tange à pronunciação e interpretação do texto. Em seguida, os estudantes foram divididos em pequenos grupos de 05 integrantes cada, os quais receberam papéis e canetas coloridas, a fim de que desenhassem as blusas e as saias anunciadas no problema. Essa estratégia pedagógica utilizou a ludicidade, permitindo que os estudantes, por meio do desenho e do uso de setas, realizassem as possíveis combinações de figurinos.

Por exemplo, temos: possibilidade 01, saia amarela com blusa vermelha; possibilidade 02, saia amarela com blusa preta; e assim sucessivamente, até encontrarem 12 combinações de “looks” distintos. O professor então afirmou que, matematicamente, os estudantes estão utilizando conceitos de análise combinatória, especificamente do princípio multiplicativo, além do conhecimento das operações básicas, tais como adição e multiplicação.

Dito isso, percebemos o encanto nas faces de nossos alunos, pois conseguiam compreender os conteúdos matemáticos de forma divertida, interativa e relacionando-os com as situações-problema em seus cotidianos. Podemos assim inferir que aquele saber foi apreendido pelos estudantes e, ao desenvolverem a articulação do conhecimento com suas vidas, a Matemática para eles tornou-se significativa.

Nas semanas seguintes, planejamos uma nova aula transdisciplinar, envolvendo as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Para tal, buscamos uma nova situação problema, que relacionasse leitura e interpretação de texto, por meio da leitura compartilhada, junto ao conteúdo da geometria plana, especificamente as propriedades do quadrado, triângulo, retângulo, losango e trapézio, além de determinar o perímetro e a área desses sólidos geométricos utilizando, para tal, questões contextualizadas.

Iniciamos a aula com uma alegre historinha da Turma da Mônica, na qual o personagem Cebolinha apresentava dificuldades em associar as propriedades das figuras geométricas planas, em um dos trechos ele questiona Mônica se todo quadrado é um retângulo e se todo retângulo é um quadrado. A leitura ocorreu de modo semelhante ao da primeira aula, os alunos iam sendo convocados a lerem pequenas partes do gibi, os professores faziam as ressalvas e corrigiam os erros de pronunciação e interpretação, colaborando, assim, com a aprendizagem.

Em seguida, a pedido dos educadores, os estudantes organizaram-se em grupos de 05 componentes cada e em seguida receberam um uma pequena caixa de madeira na qual continham peças de Tangram. Esse famoso jogo chinês consiste em um quebra-cabeça geométrico formado por 07 peças, chamadas tans: são 02 triângulos grandes, 02 pequenos, 01 médio, 01 quadrado e 01 paralelogramo, utilizando todas essas peças sem sobrepô-las, podemos formar várias figuras.

Antes de usarem a criatividade e representarem imagens distintas por meio das peças do jogo, os professores realizaram algumas indagações aos estudantes, tais como: “observem a medida dos lados do quadrado, eles são iguais ou diferentes?”.[…] “E referente ao retângulo, seus lados possuem as mesmas medidas?”.[….] “Como posso determinar o perímetro do triângulo menor?”.

Por meio de perguntas como essas, os discentes compartilhavam o conhecimento com os demais, eles se auxiliavam e conseguiam apreender as principais propriedades das figuras geométricas planas. Além do mais, ocorriam integração e socialização dos alunos, o que foi importante, tendo em vista que alguns eram tímidos e introspectivos em sala de aula. Outrossim, um dos grupos, durante a atividade, indagou aos professores, aonde aquele conhecimento iria ser utilizado em suas vidas. Imediatamente, os demais estudantes citaram alguns profissionais que necessitavam desse saber em seus ofícios, por exemplo, arquiteto, engenheiro, pedreiro, costureira ou pizzaiolo, todos recorrem à geometria plana em suas atividades. Ainda, os professores complementaram que a geometria plana está presente em nosso cotidiano, o quadro-branco da sala de aula possui a forma de um retângulo, as cerâmicas em que eles estavam pisando eram quadradas e o birô tinha o formato de trapézio, outros objetos foram sendo lembrados, inclusive pelo próprio grupo. Desse modo, a geometria plana é um conteúdo matemático que deve ser aprendido não somente para alcançar boas notas nas avaliações, mas sim utilizado para vida.

Finalmente, as equipes começaram a representar imagens utilizando todas as peças do tangram. Entre as figuras elaboradas tivemos animais, objetos, bandeiras de países e até mesmo pessoas em movimento, a criatividade e a animação dos estudantes surpreenderam os professores, os quais estavam satisfeitos com a aceitação desse trabalho transdisciplinar pelos estudantes.

Ao longo dos meses de agosto e setembro, outras oficinas foram realizadas semelhantes às relatadas anteriormente, como por exemplo, o dominó das operações básicas, iniciando-se a partir da leitura de uma situação problema, e o jogo da Matemática financeira, no qual se discutiram questões de empreendedorismo e investimento, temas presentes no ambiente social e profissional. Percebemos que o comprometimento dos educadores e dos educandos permaneceu constante, as estratégias pedagógicas pensadas pela coordenação e pelos professores surtiram resultados positivos, tendo em vista que, na avaliação do terceiro bimestre, realizada no final de setembro, os estudantes estavam mais confiantes e seguros diante dos exames, principalmente nos de Língua Portuguesa e Matemática.

Antes, o que se observava em sala de aula eram estudantes apreensivos, nervosos e muitas vezes pessimistas, alegando inclusive que iriam obter notas ruins, mesmo sem ter feito as provas. Um cenário totalmente oposto do que observamos nas avaliações do terceiro bimestre. Nas semanas seguintes tivemos a confirmação dos estudantes e dos professores de que houve uma significativa melhoria nos resultados, os quais refletiram até mesmo nas disciplinas de Geografia, História e Filosofia.

Nos meses seguintes, concernente às disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, atentamos que os estudantes formaram grupos de estudo, os quais frequentemente se reuniam na biblioteca para estudarem os conteúdos ministrados em sala de aula. Eles aprendiam compartilhando o conhecimento, tendo em vista que aqueles que possuíam dúvidas se juntavam ao grupo para pesquisar e para apreender o saber com os demais.

O uso do material lúdico tornou-se ferramenta pedagógica frequentemente utilizada pelos professores, o qual tornou as aulas mais interativas e divertidas. Além disso, houve uma maior recorrência à prática da leitura compartilhada e análise de situações-problema, permitindo assim que os estudantes melhorem na pronunciação, na interpretação de textos, utilizem a criticidade e o raciocínio lógico, como também estabeleçam relações entre o conhecimento ensinado e suas atividades do dia a dia.

Logo, acreditamos que, por meio de um trabalho transdisciplinar desenvolvido pela supervisão pedagógica e pelos professores, tendo o apoio da direção escolar, foi possível alcançar os objetivos esperados. Conseguimos identificar as lacunas epistemológicas de nossos estudantes e posteriormente pensar estratégias de ensino e aprendizagem embasadas por um material lúdico e por jogos. Concluímos também que os estudantes conseguiram apreender os conhecimentos de Língua Portuguesa e Matemática, desenvolveram-se cognitivamente demonstrando uma maior autoconfiança, coletivismo, criatividade, criticidade e curiosidade, o que consequentemente lhes proporcionou melhores resultados em suas avaliações e exames escolares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deste modo acreditamos que o educador, junto à escola, ao refletir sobre suas práticas e pensar estratégias pedagógicas que utilizem a transdisciplinaridade, pode potencializar a aprendizagem dos educandos, além de dinamizar o processo de ensino-aprendizagem ao propor as atividades lúdicas e os jogos, os quais tendem a tornar as aulas mais divertidas, criativas e interativas.

A partir da breve análise dos apontamentos feitos por Rodrigues (2018) e Nicolescu (1999), entendemos que a transdisciplinaridade propõe a integração entre as disciplinas e entre os conhecimentos, permitindo ainda aos estudantes estabelecerem relações entre esses saberes com suas atividades do cotidiano e desenvolverem o pensamento crítico, analítico e a curiosidade.

Constatamos também, por meio das ideias de Engelmann(2014), Lima (2014), D’Ambrósio (2012) e Nascimento (1998) que a aprendizagem da Língua Portuguesa e da Matemática é fundamental aos educandos, não somente para a aprendizagem escolar, visando obter boas notas em avaliações, mas para a vida, tendo em vista que seus conhecimentos são essenciais para as atividades pessoais e profissionais do ser humano.

Consideramos ainda que, por meio do relato de experiência em escola da rede privada na cidade de Natal, durante o ano de 2019, os educadores foram desafiados a refletirem sobre suas práticas pedagógicas e desenvolverem estratégias de ensino-aprendizagem transdisciplinares, partindo-se de uma adversidade vivenciada na escola – a dificuldade dos estudantes em resolver problemas matemáticos contextualizados.

Verificamos então que, através de práticas pedagógicas transdisciplinares, os discentes conseguiram obter melhores resultados nas avaliações de Língua Portuguesa e Matemática, as quais necessitavam de leitura, interpretação texto e de uma sólida base Matemática. Além disso, eles apresentaram em sala de aula um crescimento cognitivo, tornando-se mais curiosos, críticos e criativos, e se organizaram semanalmente, em grupos de estudos na biblioteca para estudar e tirar dúvidas dos colegas. No tocante ao período de avaliações bimestrais, os estudantes aparentaram mais confiança e serenidade, fatores que colaboraram para obtenção de melhores notas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação: Programa de Apoio à Leitura e à Escrita – PRALER -, Brasília, 2007.

CURTIS, William. How to improve your math grades. Berkeley (CA): Occam Press, 2014. Disponível em:<goo.gl/zXFM15>. Acesso em: 02 jul. 2018.

D´AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. 23. Ed. Campinas (SP): Papirus, 2012.

ENGELMANN, Jackeline. Jogos matemáticos: experiências no PIBID. Natal (RN), IFRN, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Papiru, 1996.

LIMA, Edivânia Maria Barros. A Língua Portuguesa no cotidiano dos estudantes do ensino médio: experiências pedagógicas do núcleo de linguagem e comunicação dos centros juvenis deciência e cultura– Centra (SEC). Salvador, 2014. Disponível em:<http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/11/416.pdf>. Acesso em: 19 de ago.

NASCIMENTO, Heitor do. Licenciatura em Matemática: metodologia e didática de matemática. Salvador: FTC/EAD, 1998.

NICOLESCU, B. O manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: TRIOM, 1999.

RODRIGUES, Maria Lúcia. Caminhos da transdisciplinaridade: fugindo às injeções lineares. PUC/SP. São Paulo: Nemess, 2018.

Imagem de destaque: Gerd Altmann por Pixabay

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