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Algumas experiências exitosas do PIBID CIÊNCIAS SOCIAIS

O presente artigo tem por objetivo apresentar algumas atividades desenvolvidas, no ano de 2019, pela equipe do Programa de Iniciação à Docência de Ciências Sociais (Sociologia – UFMG) em três escolas estaduais no município de Belo Horizonte/MG. Dentre as várias atividades desenvolvidas no âmbito do PIBID – Ciências Sociais nas escolas (tais como Cineclube Pibid, produção da Cartografia Social da escola, planejamento e produção de conteúdo para aulas sobre diferentes conteúdos, entre outras), as apresentadas neste artigo são as consideradas as mais exitosas pelas/os autoras/es. Isto porque, de acordo com as/os autoras/es, tais atividades afetaram de forma positiva o processo tanto de formação dos futuros docentes (as/os licenciandos/as em Ciências Sociais bolsistas ou voluntárias/os do PIBID) quanto a atuação das/os  professores/as inseridos nas escola (supervisores/as dos licenciandos/as); visto que tais experiências: i)  colocam em debate os papéis das escolas e das/os docentes no processo educacional, lembrando da importância da escola emancipadora; e ii) despertam a relevância para a ressignificação da relação entre professor/a e aluno/a.

Embora o PIBID Ciências Sociais UFMG, no ano de 2019, tenha planejado as atividades em conjunto, as experiências vivenciadas em cada escola foram diferentes. Isso porque, apesar de as três escolas serem administradas pelo estado e de trabalharem com jovens do ensino regular e EJA – Ensino de Jovens e Adultos,  no ensino médio, os contextos encontrados foram diversos. Cada uma das escolas tem um perfil de discentes, docentes e funcionárias/os com suas especificidades, que acarretam realidades diferentes, trazendo demandas diversas que o PIBID busca compreender e, se possível, atender, propondo atividades diferentes. Por isso, a estrutura do artigo está dividida em três partes, sendo cada uma relativa ao relato das atividades respectivas por escola, além desta introdução e das considerações finais. 

Saúde mental importa: atividades e experiências na escola

O programa PIBID busca, através da inserção de licenciandos em escolas públicas, promover uma imersão no processo de ensino e aprendizagem dentro dessas escolas, realizando também pesquisas e propondo atividades sobre e neste contexto. O relato seguinte refere-se à atuação em conjunto com a professora de Sociologia de uma escola estadual localizada na regional Barreiro de Belo Horizonte. Pensar como o PIBID pode atuar no ensino de Sociologia é abrir um leque muito grande de possíveis ações, uma vez que os conhecimentos da disciplina fogem muito facilmente da sala de aula, acionando elementos da vida pessoal das/os estudantes e de professoras/es, trazendo para o centro da aula e da escola os mundos que estão fora dela, mas que permanecem sempre em constante intercâmbio com o universo escolar. 

O PIBID Sociologia dessa escola decidiu tomar como foco de ação no local a temática da saúde mental, fruto de uma demanda vinda das/os próprias/os estudantes que acompanhamos neste ano. Tal definição surgiu a partir de uma dinâmica aplicada pelas/os bolsistas em sala de aula, intitulada “O que eu quero aprender na Sociologia?”, indagando sobre os temas que as/os alunas/os gostariam de estudar. Observamos a vontade da maioria em compreender melhor sobre bullying, racismo, machismo, LGBTfobia, gordofobia, depressão, síndrome do pânico, suicídio, todos relacionados à temática da saúde mental, embora houvesse outros. 

A dinâmica se estendeu a uma atividade avaliativa, na qual as/os estudantes deveriam escolher temas favoritos da Sociologia que foram sugeridos na dinâmica, e teriam que produzir fotografias relacionadas a eles. Tal atividade rendeu fotografias riquíssimas, o que nos inspirou a montar um mural com algumas fotos selecionadas e autorizadas pelas/os estudantes para a exposição, a fim de chamar a atenção para a proposta do PIBID e aproximar a comunidade escolar do que iríamos produzir durante a estada do programa na escola. Muitas das fotos adquiridas nesse trabalho traziam contextos que podiam ser gatilhos reativos para alguns estudantes, por isso, tivemos de ter o cuidado de escolher as fotos que seriam expostas. A partir daí, sentimos a necessidade de realizar dinâmicas, eventos e atividades para a escola com o tema Saúde Mental. Este relato de experiência prioriza as atividades que julgamos ter tido maior impacto e retorno efetivo para trabalhar a questão do bem-estar e discutir o problema da saúde mental.    

Reconhecendo toda a demanda apresentada pelas/os estudantes nas atividades desenvolvidas pelo PIBID Sociologia nesta escola, tivemos a ideia de analisar, para esse relato, o questionário aplicado às/aos estudantes pelo PIBID no início das atividades do programa na escola. Esse questionário identificava o perfil das/os estudantes e da escola através de 50 perguntas, respondidas por eles nos computadores da própria instituição. Trazemos como exemplo a pergunta 43: Qual ou quais atividades e/ou disciplinas você acha que é necessário para ampliar seu conhecimento e essa escola não lhe oferece?, esta nos surpreendeu ao não apontar uma demanda significativa em relação à saúde mental, pois apenas 3 respostas de 750 consideraram a necessidade do acompanhamento psicológico. Nesse sentido, pode-se reconhecer que houve uma lacuna no questionário aplicado para as/os alunas/os, por não conter perguntas sobre saúde mental e outras questões que poderiam acrescentar no projeto e no desenvolvimento de pesquisa sobre esse tema. Porém, das três escolas acompanhadas pelas/os bolsistas do PIBID Sociologia, essa foi a única a ter respostas voltadas para o assunto, o que mostra que, mesmo sem perguntas diretas sobre o tema Saúde Mental, ele aparece como uma demanda que, no nosso entendimento, deve ser trabalhada pela escola com urgência.

Durante todo o trabalho realizado na escola, essas questões, que pareciam ser secundárias a princípio, foram se tornando centrais e inquietando-nos.  Pensando nos anseios e nas questões trazidas a nós pelas/os estudantes, foram elaboradas diversas atividades dentro da escola. Citaremos, de maneira sucinta, algumas das atividades desenvolvidas e que contribuíram para nossas conclusões apresentadas neste artigo. Das atividades desenvolvidas por nós, destacamos o Cineclube, uma proposta de todo o PIBID Sociologia, que foi discutida em reunião com nossa coordenadora. Selecionamos, a partir de votação, um filme dentro da temática de desenvolvimento mental, no caso Divertida Mente (EUA, 2015). No Cineclube (Figura 1), o filme  nesta escola foi comentado, em seguida à sessão, por uma especialista da área de psicologia, estudante da UFMG convidada por uma bolsista do programa e que atua na nossa equipe. Essa atividade foi importante para tratar de pontos específicos que só um profissional consegue falar com propriedade. 

Figura 1 – Cartaz do Cine-PIBID Sociologia
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

A fim de dar continuidade à discussão da temática e incluir aquelas/es que não puderam comparecer ao Cineclube, fizemos em aula a “Dinâmica do aquário” sobre o tema bullying e dela surgiram demandas com relação a pensarmos caminhos para lidar com as violências e seus efeitos dentro da escola. Partindo disso, articulamos oficinas (Figura 2) como a de Oriki, ministrada por um aluno das Ciências Sociais e ex-bolsista do PIBID de uma escola na região da Pampulha. A oficina foi iniciada com alongamento e exercícios de respiração para incentivar o cuidado com o corpo. Em seguida, foram dadas instruções quanto a essa dinâmica da escrita africana, pensando numa alternativa de desafogar os sentimentos através da escrita. Ao final do processo de escrever, as/os estudantes tiveram a oportunidade de ler o que foi produzido na oficina em um sarau – que já acontece na escola mensalmente e com temáticas diversas, a fim de incentivar que eles se expressassem quando sentissem vontade e para que este evento se perpetue na escola, deixando sempre uma oportunidade, dentro dessa experiência da escrita, ao alcance deles, no ambiente escolar. 

No mesmo dia, produzimos regalos para as/os alunas/os trocarem e levarem para casa; confeccionamos potes com legendas: frases motivadoras, amorosas e reconfortantes e dicas de filmes e músicas. O intuito das mensagens dentro do pote é ajudar quando estamos em uma crise de ansiedade, depressão, ou simplesmente quando queremos ou precisamos de algum tipo de atenção. 

Figura 2 – Cartaz Oficina Saúde Mental
 
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

Cuidamos de perpetuar na escola nosso trabalho em conjunto com as/os estudantes através das dinâmicas, mas também através da produção de um mural sobre a campanha do Setembro Amarelo no Brasil, com cartazes de conscientização sobre saúde mental, e que foram colados não apenas em espaços específicos para as/os alunas/os, mas também na sala das/os professoras/es, pois entendemos que é importante sensibilizar professoras/es e pessoas que trabalham no ambiente escolar para essas condições de distúrbios mentais nas quais alunas/os podem se encontrar. 

No mural, disponibilizamos QR Code´s (ANEXO I) com links de apoio, com textos, telefones de centros de apoio e indicações para quem quisesse se aprofundar sobre a temática ou procurar apoio. Tivemos também um dia de plantio em que, com recursos do PIBID, plantamos mudas de suculentas e hortaliças, dentre elas chás que colaboram para acalmar quem estiver precisando, garantindo que eles tenham recursos e motivação dentro da sua escola (Figura 5).

A experiência com os estudantes no decorrer deste ano nos alertou para uma vivência que, até então, concordamos não ser tão enfatizada na licenciatura, apesar de significar muito para o processo de ensino aprendizagem. Nas dinâmicas, pudemos experimentar o olhar das/os estudantes com relação às temáticas abordadas dentro do contexto proposto inicialmente. Incluímos, por exemplo, a questão sobre como toda a violência do ambiente escolar afetava não somente o cognitivo do estudante, mas sua saúde mental e suas relações interpessoais extrassala. Além disso, pudemos detectar como muitas/os estudantes não entendem alguns casos vivenciados de bullying, racismo, machismo, LGBTfobia e gordofobia na escola como gatilhos que comprometem a sua saúde e bem-estar dentro deste espaço, assim como tivemos acesso às suas necessidades de se expressar e tentar dar um basta no mal-estar cotidianamente gerado pelas violências dentro de seu espaço de convivência, que é, especialmente, a sala de aula, além de outros espaços da escola. 

Muitas/os estudantes manifestaram criticamente a ausência de recursos como psicólogos e assistentes sociais atuando efetivamente na escola, assim como aulas mais dinâmicas e atividades extracurriculares para se falar sobre o tema, para aprenderem como se cuidar emocionalmente, como dar amparo a quem nitidamente está adoecendo emocionalmente ao nosso lado e até mesmo cogitando ocupar espaços da escola com o plantio de ervas, temperos e suculentas (Figura 3) que auxiliam na depressão, como chás por exemplo.

Nos articulamos para levar aos estudantes o máximo de recursos possíveis para que tivessem condições de esclarecer acerca do tema da saúde mental. Não nos resumimos somente às dinâmicas descritas aqui. Partimos das inquietações juvenis para um terreno muito mais amplo, que é o de trazer para a Sociologia a inquietação com relação aos recursos destinados ao tratamento da temática da saúde mental no âmbito escolar, ao posicionamento do Estado com relação ao seu olhar para a instituição escolar, tão tecnicista e meritocrático. As atividades nos enriqueceram como docentes e perpetuaram a ânsia por mais discussões e espaços dentro das nossas disciplinas e da escola, tão carente de tempo e de profissionais especializados e dispostos a aprender para ensinar ao nosso público como desconstruir os tabus e os estigmas sobre a temática da saúde mental na nossa cultura; assim como incentivá-los a minimizar violências no ambiente escolar e saberem como procurar apoio e ajuda nos centros e órgãos especializados.

Figura 3 – Plantio de Suculentas
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

 

A escola sabe o que você sabe?

Outra vivência no PIBID Sociologia se fez em uma escola estadual  localizada entre a região Pampulha e a cidade de Contagem. A escola é relativamente nova, tendo sido inaugurada no início do ano de 2005 como consequência da demanda da comunidade do bairro, que carecia de uma instituição escolar que oferecesse ensino médio. Atualmente, a escola oferece as modalidades de ensino fundamental, ensino médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos), divididas em três turnos, isto é, matutino, vespertino e noturno. Nosso contato com a instituição se deu através do professor de Sociologia, em fevereiro de 2019, e acompanhamos os três períodos citados.

Pensar a dinâmica do ensino de Sociologia dentro da escola e nos afetou diretamente quando pisamos na escola. O texto aqui presente é fruto de nossos trajetos como futuras/os educadoras/es, marcadas/os principalmente pela experiência como pibidianas/os, em que assistimos e conduzimos práticas que ressignificaram nossa ideia do fazer sociológico – que tomou corpo e se movimentou para dentro e para fora da escola.

Nossas primeiras intervenções dentro da escola, para além do acompanhamento das aulas, se iniciaram através de uma cartografia social, em que buscamos não só mapear o entorno e a estrutura da instituição, mas também entender quem eram os sujeitos ali presentes, seus marcadores sociais e suas relações com a Sociologia, com o professor, com a dinâmica e o espaço escolar.   

Assim, a decisão por aplicar um questionário (o mesmo referido no primeiro relato) surgiu desse nosso desejo de compreender melhor as/os estudantes e compreender também suas demandas enquanto alunos daquela instituição. Elaboramos 50 questões em conjunto com as/os demais bolsistas de nosso núcleo, e conseguimos aplicar os questionários em todas as turmas do ensino médio e da educação de jovens e adultos, somando 607 estudantes participantes.

A riqueza das respostas do survey nos levaram a repensar em que medida nossa atuação enquanto PIBID estava relacionada com a escola que os estudantes gostariam de construir, com aquilo que elas/eles ainda acreditavam que não estava presente nas ações realizadas pelo corpo docente e na gestão escolar. Desse modo, nossa reflexão aqui descrita se detém na análise de uma questão aberta do questionário e nossas práticas desenvolvidas no Projeto de Arte e Cultura, que construímos na escola em conjunto com o professor de Sociologia.

Escolhemos uma questão para análise, trata-se daquela que perguntava aos alunos “o que é necessário mudar na escola?”. A finalidade era reunir as demandas das/os alunas/os acerca de melhorias possíveis no ambiente escolar, tanto do ponto de vista da estrutura material quanto das práticas pedagógicas no geral. Como não era obrigatório responder todas as questões do questionário, a porcentagem de alunas/os que responderam essa questão foi de, aproximadamente, 63,8%. Sobre as respostas, algumas delas nos chamaram atenção, tais como: demandas por projetos culturais, exibição de documentários, atividades extracurriculares, oficinas temáticas, atividades ao ar livre, formas de utilizar espaços já disponíveis na escola, dinâmicas pedagógicas, estreitar a relação alunos/escola, melhorar as relações interpessoais e atividades na sala de informática. Dentre as diversas demandas apresentadas pelas/os estudantes, acreditamos que parte dessas foram contempladas durante o ano de 2019, a partir das atividades realizadas em conjunto pelo professor de Sociologia e pelas/os integrantes do PIBID Sociologia.

É importante ressaltar que algumas das atividades citadas acima, como demanda das/os alunas/os, foram realizadas no momento das aulas de Sociologia. Entretanto, a maioria delas foi efetivada a partir do projeto realizado aos sábados intitulado “A Escola Sabe O Que Você Sabe?”. Esse projeto faz parte do Departamento de Arte Cultura Esporte Lazer da escola, idealizado pelo professor de Sociologia, que acabou sendo desenvolvido na escola como uma coprodução entre ele e as/os bolsistas do PIBID, a partir de março de 2019. O projeto teve como objetivo  trazer para dentro da instituição os saberes e expressões culturais que as/os alunas/os vivenciavam em seu cotidiano e que não tinham espaço dentro da lógica do dia a dia escolar.

Realizado aos sábados, de quinze em quinze dias, o projeto começava com os portões da escola se abrindo para receber as/os estudantes dos três turnos, desde o nono ano do ensino fundamental até o terceiro do ensino médio. Desde seu primeiro dia, a ideia foi de dar aos meninos e meninas um lugar em que eles/elas conseguissem se expressar e criassem um grupo em que fosse possível compartilhar suas experiências para além dos muros da escola.

Figura 4 – Grupo da Música,  Projeto de Arte e Cultura dia 15/06/19
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

Construir esse espaço em conjunto com as/os alunas/os se revelou, para nós, como uma grande potência para uma reinvenção do ensino de Sociologia. Com atividades artísticas e culturais propostas pelas/os estudantes e pelas/os bolsistas, abarcando principalmente jogos teatrais e a música, deslocamos nossos olhares para a produção de conhecimentos por aqueles sujeitos ali presentes, de maneira que visualizamos melhor quais práticas educativas faziam sentido, a serem pensadas para aquela escola.

Não fazia muito tempo que éramos nós as/os estudantes de ensino médio e ainda naquele momento, na graduação, nos encontrávamos em lugar muito semelhante no que se refere ao formato das aulas e às abordagens pedagógicas da maioria das/os professoras/es e da instituição. A chance de responder o que era necessário mudar na escola certamente não nos foi dada enquanto estudantes, mas agora, enquanto pibidianas/os, nos encontramos na possibilidade de intervenção. Além de nos deslocarmos e, de certo modo,  forçar-nos à reinvenção da Sociologia na escola, o projeto de Arte e Cultura, em sua construção coletiva (professor, pibidianas/os e estudantes) e contínua, se constituiu ele próprio como lugar de partilha e refúgio para a criação. Estar presente na escola aos sábados com o projeto nos fez sentir bem e tivemos motivos para acreditar que também era assim para as/os estudantes que participavam, haja vista a grande adesão e envolvimento com as atividades. “A Escola Sabe O Que Você Sabe?” pode ter sido, acima de qualquer outra coisa, um espaço de encontro com as/os amigas/os e entre nós mesmos, em estado de alegria.

Uma das práticas marcantes que aconteceu no projeto foi a construção e partilha do “Oriki”, nome de uma expressão poética de origem iorubá que norteia a própria atividade. Tendo esta poética como referência, fizemos o exercício de escrita de si, construindo narrativas acerca de nossas trajetórias, sonhos, ideias, desejos, medos e dificuldades. Este “poema-nome”, como pode ser a tradução de Oriki, foi – entre outras coisas – uma maneira de utilizar a escrita como ferramenta criativa de subjetividades, identidades e formas de ser e estar no mundo. Por se tratar de uma escrita em processo, que acontece em relação de continuidade e reconstrução, com nossos tempos e vivências, o Oriki ali desenvolvido foi uma proposta de apropriação contínua da escrita enquanto linguagem artística. 

Figura 5 – Escrita do Oriki, Projeto de Arte e Cultura, dia 21/04/2019
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

Essa atividade foi pensada para corroborar a tese de que “ não se  pode (…) reduzir o poético ao poema” (RISERIO, 1996), favorecendo o encontro de outras qualidades de expressões. Anteriormente à escrita, houve um momento coletivo de sensibilização, com elementos de práticas teatrais, percepção corporal e meditação. Posteriormente à escrita, aconteceu a partilha do Oriki através de um sarau, por meio do qual provocamos os estudantes a corporificar os elementos de seus textos. O resultado foi vasto, emocionante e potente, o que fortaleceu o enraizamento do projeto e a energia para sua sequência. O restante do encontro desse dia foi simbólico  porque representou uma ocupação diversa do espaço escolar, na medida em que todas/os nós nos envolvemos espontaneamente com outras atividades que ali emergiram em sequência, como uma pequena roda de capoeira, um grupo de música, além de jogos nas quadras da escola.

Nos encontros seguintes, houve também práticas de desenho, exibição de filme com Cineclube PIBID, uma aula de grafite feita por um estudante, práticas de dança, dentre outras atividades.

O PIBID Responde

Este relato tem como objetivo contar o que nos motivou, enquanto  PIBID Sociologia, a idealizar, criar e executar a atividade que demos o nome de “PIBID Responde”, na qual estivemos em contato direto e fora de sala de aula com as/os alunas/os de outra escola que acompanhamos por meio do programa.

A escola em que essa atividade foi realizada fica localizada na regional Nordeste de Belo Horizonte, funcionando como escola estadual há cerca de 30 anos. Apesar de não se tratar de uma escola pequena, chama a atenção a forma como ela é, de certa maneira, escondida em meio ao bairro, que é predominantemente residencial, e como sua estrutura discreta, quando vista do lado de fora, é reconhecível apenas pela placa que a sinaliza. Sobre sua estrutura, a escola conta com 12 salas de aula, quadra poliesportiva coberta, quadra de vôlei/peteca, biblioteca, sala de professores e sala de multimídia. Durante o período de atuação na escola, esta atendia cerca de 925 estudantes, oferecendo o ensino médio regular, nos turnos da manhã, tarde e noite. 

Acompanhamos o supervisor, que é professor de Sociologia, somente nos turnos da manhã e da noite, visto que, à tarde ele atua como vice-diretor. Esse fato foi relevante para nossa experiência no programa, pois nossa vivência não esteve restrita à sala de aula, já que o acompanhamos no papel de vice-diretor nas duas primeiras semanas de inserção na escola, nos restringindo a observar o dia a dia escolar de dentro da sala da direção. Porém, apesar de não trabalhar como vice-diretor nos turnos em que leciona, existe por parte das/os alunas/os dificuldade em fazer a separação entre a figura do professor e a do vice-diretor. Essa relação é marcada por falta de proximidade entre o professor e as/os estudantes, mas, ainda assim, configura-se como uma boa relação.

No decorrer de nossa presença em sala, acompanhando as aulas, sentimos que essa falta de proximidade também acontecia na relação que tínhamos nós com as/os alunas/os. Devido ao fato de a aula estar marcada por essa dualidade da figura professor/vice-diretor, sentimos que o mesmo acontecia com a nossa presença, pois nosso papel ali, para as/os alunas/os, oscilava entre estagiárias/os, pibidianas/os e, até mesmo, estagiárias/os do vice-diretor. Além disso, notamos que as atividades realizadas pelo PIBID fora de sala de aula também contavam com baixa participação das/os alunas/os e falta de interação deles/as com as/os pibidianas/os.

Acreditamos que outro motivo desse distanciamento entre nós e as/os estudantes foi a aplicação de um questionário elaborado por todo o grupo do PIBID Sociologia, com a intenção de conhecer ainda mais o perfil da escola e das/os estudantes. A aplicação desse questionário ocorreu em uma sala anexa à sala das/os professoras/es, equipada com cinco computadores disponíveis durante o turno das aulas (manhã e noite). Ao longo de seis semanas, nossa atuação na escola se restringiu a levar as/os alunas/os para essa sala e explicar o objetivo da pesquisa, além de esclarecer dúvidas referentes ao questionário.

 Com isso, ficamos distantes da sala de aula por mais de um mês, o que impossibilitou observarmos o andamento das aulas, interagir com as/os estudantes nesse espaço e intervir ou auxiliar durante as aulas. Ao voltarmos para a sala após a finalização da aplicação do questionário, sentimos a necessidade de pensar ações e atividades que pudessem proporcionar um contato maior com os estudantes. Desse modo, a atividade “PIBID Responde” começou a ser idealizada, após nos reunirmos e chegarmos em um consenso de que era preciso contornar essa situação de distanciamento entre pibidianas/os e estudantes.

Assim, em decorrência não só da necessidade de aproximação com as/os estudantes, mas também do processo de análise de dados do questionário, pensamos no “PIBID Responde” como uma alternativa, tanto para ouvir o que as/os alunas/os queriam saber sobre o questionário e seus resultados quanto para ser um canal de aproximação entre pibidianas/os e alunas/os. A proposta também tinha como objetivo promover que as/os estudantes participassem do processo de escolha e seleção de quais questões seriam adequadas para ampliar a visão dos docentes sobre a escola e tornar as/os estudantes integrantes do processo de produção de dados sobre a própria realidade, a fim de não reproduzir a lógica do pesquisador que reduz os sujeitos participantes a objetos de estudo estáticos.

Criamos um espaço de conversa com as/os estudantes durante o recreio da escola nos turnos da manhã e da noite, para promover a interação e a discussão sobre demandas e propostas sobre os dados do questionário. Em um local próximo à cantina e à sala de multimídia, montamos uma mesa com cadeiras disponíveis e um pequeno lanche. Para chamar a atenção das/os alunas/os, criamos uma faixa colorida escrita “PIBID Responde” e levamos algumas cópias impressas do questionário, para instigar e iniciar a conversa. A atividade se estendeu por duas semanas, para que todos naqueles dias e turnos que acompanhamos fossem contemplados por ela.

Figura 6 – Espaço do PIBID Responde
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

A realização do “PIBID Responde” foi importante para suprir a demanda de proximidade com as/os estudantes e para notarmos as diferenças entre os apontamentos realizados pelas/os alunas/os sobre o questionário, levando em consideração seu ano/série e turno. Foi nítida a pluralidade de discursos que apareceram acerca do questionário, mas também notamos que a maior demanda das/os estudantes, de modo geral, foi sobre os dados referentes ao perfil e identidade, como gênero, sexualidade e raça. Houve também a preocupação, por parte das/os estudantes, em distinguir os dados por turno e ano/série.

Figura 7 – Espaço do PIBID Responde
Fonte: Acervo PIBID Núcleo Ciências Sociais

Além do “PIBID Responde”, ficamos responsáveis por algumas aulas de Sociologia destinadas à apresentação dos dados do questionário. A seleção dos dados para essa apresentação foi realizada com base nas conversas que tivemos com as/os estudantes durante o “PIBID Responde”, o que nos possibilitou relacionar o conteúdo do bimestre com a demanda das/os alunas/os, criando assim três apresentações diferentes, uma para cada ano do ensino médio. Para além dessas apresentações destinadas aos estudantes, também foi possível estruturar outra com quais as principais questões a levar para o corpo docente da escola e para a direção, em um momento posterior.

Durante essas apresentações dos dados aos estudantes, elas/es tiveram a oportunidade de colocar em pauta demandas sobre a escola, manifestar descontentamentos, relatar situações marcantes e analisar conjuntamente os dados apresentados. Notamos também, após o “PIBID Responde” e as aulas de apresentação dos dados, que a relação entre pibidianas/os e estudantes ficou mais próxima. Ademais,  passamos a atuar como um meio de comunicação entre estudantes e a direção da escola, podendo apresentar demandas que muitas vezes não são escutadas, consolidando assim uma relação de confiança.

Longe de ser apenas um momento de reclamações improdutivas, as/os alunas/os também ressaltaram aspectos positivos da escola e demonstraram se sentir responsáveis pelo sucesso, ou não, de propostas e mudanças. Enfim, esses momentos foram exemplos de balanço da situação escolar feito pelas/os estudantes, que consideramos indispensáveis. Evidenciaram, ainda, que há o desejo de construir uma comunidade escolar participativa e engajada e que, para isso, é necessária a total participação das/os estudantes no processo de escolha e execução de diferentes ações.

Considerações finais

Com esses relatos, nosso objetivo é demonstrar o quanto o PIBID é de extrema importância para a nossa formação enquanto futuras/os professoras/es pesquisadoras/es de Ciências Sociais. A oportunidade de entrarmos na escola, de fazer parte do ambiente escolar, nos possibilitou colocar em prática toda a teoria com que temos contato dentro da universidade, de modo que encontramos diferentes maneiras de transmitir esse conteúdo, que nos é passado em uma linguagem acadêmica, para as/os estudantes do ensino médio, a partir de suas demandas.

Nas três escolas em que atuamos durante o PIBID 2019, os desdobramentos de nossas atividades se deram de maneiras distintas. Isso se deu em razão de todo um mapeamento que realizamos do espaço de cada escola, em que percebemos quais questões emergiram dentro do cotidiano escolar e, a partir delas, decidimos para onde deveríamos voltar nossos olhares na construção de nossas intervenções. Desse modo, organizamos e planejamos cada atividade proposta pensando nas peculiaridades dos sujeitos ali presentes. Essas ações, dentro e fora de sala de aula, representam, para nós, a potência das Ciências Sociais na educação básica. Como colocado nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (MEC BRASIL, 2006), a Sociologia tem como papel no ensino médio a “desnaturalização e estranhamento dos fenômenos sociais”. Enquanto PIBIDianas/os, nossas práticas perpassaram justamente esse processo, partindo desse lugar de compreender quais as questões que afetavam a juventude de cada escola, do que elas/es sentiam falta e o que elas/es mais gostavam, para, a partir disso, ressignificar a instituição escolar e apresentar novas dinâmicas para o processo de ensino-aprendizagem de Sociologia.

Em todos os sentidos, com o PIBID aprendemos a ser professoras/es. Não só por poder observar as aulas de nossos professores/as supervisores/as, mas também por nos colocarmos no lugar de educadoras/es, de construirmos com nossas próprias mãos nossas ferramentas para o ensino de Sociologia, movimentando os saberes das Ciências Sociais para além dos muros da universidade. Além disso, através do PIBID conseguimos realizar esse processo em conjunto com as/os educandos das três escolas em que atuamos. Percebemos, assim, como aproximar todo o conteúdo da Sociologia para a realidade dessas/es meninas/os.

Referências

MEC BRASIL. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Ministério da Educação: Brasília, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf, Acesso em: 20 nov. 2021

RISERIO, Antonio. Oriki Orixa. São Paulo: Perspectiva, 1996.

ANEXO I

Acesse o QR Code de Saúde Mental:

Imagem de destaque: Photo by Yingchou Han on Unsplash

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