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Atletismo na escola em uma perspectiva lúdica

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Stéphanie Gomes dos Santos

Sou Professora do Ensino Fundamental 1 e 2. Atuo na prefeitura do Rio de Janeiro como professora dos anos inicias e na prefeitura de Belford Roxo como professora dos anos finais, atuando com a disciplina de  língua Língua Portuguesa.

E-mail: sd8903@gmail.com

O atletismo no ambiente escolar tem sido comumente visto pelos alunos como um esporte pouco atrativo e “sem graça”. E isso ocorre por conta da desmotivação dos professores que não enxergam no ensino do atletismo um conteúdo capaz de ser ensinado dentro das aulas de Educação Física, o que dificulta a inclusão deste conteúdo em seus planos de aula (MIRANDA, 2012).

Há muito tempo o atletismo vem sendo colocado em segundo plano, dando espaço aos jogos coletivos que grandemente vêm sendo difundidos entre os profissionais da área que atuam principalmente do 6º ao 9º ano e Ensino Médio. Essa modalidade como qualquer outro esporte deve ser vista no espaço escolar como movimentos naturais que o ser humano executa, independentemente das técnicas e treinamento (MARIANO, 2011). 

Compreendeu-se que os processos teórico-metodológicos utilizados para com os alunos nas aulas de Educação Física, em especial na modalidade do Atletismo, fizeram com que esses não se sentissem estimulados a praticar esse esporte, pois muitas das vezes o conhecimento existente a respeito do Atletismo se restringe às experiências pessoais de adultos, jovens e crianças que praticaram ou praticam esta modalidade esportiva. Na grande maioria dos casos, são indivíduos com características sociais de classes menos favorecidas que buscam ascensão social praticando o Atletismo (MATTHIESEN; PRADO, 2003).

O presente trabalho tem como objeto de estudo a análise dos efeitos da ludicidade no processo de ensino do Atletismo na escola através de jogos e brincadeiras. Com a finalidade de responder à questão: “É possível ensinar o atletismo na escola de forma lúdica e através de brincadeiras?” esta pesquisa se propõe a ser uma contribuição para o campo acadêmico e para a área da Educação Física Escolar, de modo a possibilitar estudos futuros e ajudar na prática de outros profissionais da área.

Desenvolvimento

O Atletismo no ambiente escolar

O Atletismo é pautado em movimentos naturais do ser humano, portanto, ideal para iniciá-lo dentro do ambiente escolar, na prática das aulas de Educação Física, uma vez que “iniciar no esporte é, a rigor, uma atividade curricular” (KIRSCH; KOCH; ORO,1984, p. 3). Sendo assim, é possível compreender essa modalidade como uma prática que tanto pode ser desenvolvida nos estádios quanto pode ser trabalhada no espaço escolar (MATTHIESSEN, 2005, p.13).

Segundo Matthiesen (2005, p. 16) “são vários os caminhos possíveis para o êxito nesta tarefa, e o trabalho com crianças é um bom começo para o ensino desta modalidade que envolve habilidades motoras por elas utilizadas cotidianamente”. Mas, ao se trabalhar o Atletismo no ambiente escolar deve-se modificar seu sentido, buscando torná-lo mais atrativo e adaptável na execução das atividades usando sempre as potencialidades dos alunos nesse processo de ensino-aprendizagem e levando-os ao prazer e à satisfação na realização das atividades que envolvem esse esporte. Nas palavras do autor:

Ao dedicar-se ao ensino do atletismo visando, mais do que qualquer coisa, despertar nas crianças o gosto por seus movimentos, o profissional desta área, além da iniciação e aprendizagem dos movimentos básicos dessa modalidade esportiva por meio de jogos pré-desportivos que exploram as habilidades motoras, poderia criar uma base de conhecimentos (MATTHIESEN, 2005, p. 17).

As observações feitas durante as aulas da disciplina Aplicação Pedagógica do Atletismo e Fundamentos do Atletismo, voltada para alunos da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, participantes de um projeto sócio esportivo ministrado na Escola Municipal Tenente Antônio João – EMTAJ (Município do Rio de Janeiro/RJ), que foram feitas no segundo semestre de 2018 e primeiro semestre de 2019, indagaram as seguintes perguntas: Quais as trajetórias, os desafios e as dificuldades enfrentadas durante o processo de inserção da prática do Atletismo nas aulas de Educação Física? E de que forma a participação das crianças nas aulas, através de um olhar lúdico, pode refletir nos processos de educação e socialização?

Segundo Pinto (2007) um dos sentidos atribuídos ao esporte é o da atividade humana, que estaria voltado para o desenvolvimento integral do ser humano, na sua forma individual e social, além de ajudar na preservação da saúde, no desenvolvimento da autoestima, no autoconhecimento e na construção do fazer-se no mundo.

Para Huizinga (2000) o jogo seria uma atividade ou ocupação voluntária que só poderia ser exercida dentro de determinados limites de tempo e espaço, obrigatórios e dotados de um mesmo fim, e que viesse acompanhado de um sentimento de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana.

Segundo Santos (1999) a ludicidade é essencial para o desenvolvimento da criança. Visto isso, as atividades propostas para as aulas de Atletismo foram baseadas em atividades lúdicas, como jogos, brincadeiras e esquemas corporais, mas não deixando de fora os aspectos voltados para a técnica utilizada nessa modalidade.

A prática docente no Atletismo

Segundo Januário (2008) existiriam três etapas para a observação da prática docente no contexto escolar e seriam elas: a etapa de observação, a de participação e a de regência, onde os alunos deveriam observar as propostas das aulas que estavam sendo dadas, em seguida, tentar de alguma forma participar dessas aulas de maneira colaborativa e depois se sentir capaz de lecionar uma aula. Essas três etapas foram bem desenvolvidas durante todo o período de observação e coparticipação das aulas.

Para Godoy e Soares (2014) é na etapa de participação que o indivíduo deve mostrar interesse pelas atividades junto ao profissional que o está acompanhando, pois é nessa fase que os laços de socialização estariam sendo construídos, além de contribuir para a construção de aprendizado significativo por parte do indivíduo participante. Percebeu-se essa abordagem no momento em que o professor orientador solicitou aos graduandos que ficassem responsáveis por participar das aulas dos demais companheiros de grupo, auxiliando-os na regência de suas aulas.

Conforme Godoy e Soares (2014), a atuação é fundamental na formação do professor, sendo esse o momento em que se vivencia a realidade e assim se consegue experiências para a sua futura profissão. A etapa de atuação é a que tem um enfoque maior nesse trabalho, pois o estudante busca correlacionar a teoria e a prática, ou seja, as atividades lúdicas desenvolvidas precisavam ter uma base teórica. O que ocorreu de fato, já que os licenciandos, antes de proporem certas atividades, já deveriam ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo que seria abordado na escola. Nessa etapa o licenciando tem autonomia no trabalho feito em aula com as crianças, e o mesmo precisa dispor de conhecimento prévio para que sejam construídas habilidades e para que haja facilidade no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos.

No decorrer da atuação dos licenciandos no projeto foram utilizadas algumas atividades lúdicas para trabalhar o Atletismo nas aulas de Educação Física de forma mais atrativa, tais como: produção de seu próprio bastão de revezamento (para que os alunos tenham um primeiro contato com sua forma e peso), Pique Pega com bastão (para introduzir o conceito de passagem do bastão de forma descendente),  Pique Ilha (para introduzir o conceito de salto em distância), Vivo ou Morto em posição de cinco apoios (para passar o conceito de partida no revezamento, através da posição de cinco apoios), Pique Gelo do Naruto (para aprender a posição da mão no revezamento, quando for pegar o bastão), Pique Carniça (para trabalhar a introdução ao salto em altura), além de um circuito que trabalhou atividade de elevação de joelho pro salto em altura e as passadas para o mesmo, entre outras atividades.

As brincadeiras descritas acima foram utilizadas como instrumento de inclusão das técnicas do Atletismo nas aulas, trabalhando, respectivamente, como deve ser a posição da mão no revezamento quando for receber o bastão, demonstrar a posição de cinco apoios que é utilizada na partida na modalidade do revezamento e trabalhar o salto junto com a impulsão, a fase de voo e a queda que nos remete ao salto à distância.

Metodologia

Com o objetivo de analisar os efeitos da ludicidade no processo de ensino do atletismo na escola através de jogos e brincadeiras, o trabalho estruturou-se a partir de uma abordagem qualitativa, em uma pesquisa teórico-empírica, que foi subsidiada por uma análise bibliográfica de livros e artigos dos autores Santos (1999), Matthiesen (2005) e  Huizinga (2000), entre outros.

Os livros foram indicados pelo orientador responsável por essa pesquisa, já os artigos foram obtidos através de busca nas bases Capes e Scielo, com as seguintes palavras-chaves: atletismo e ludicidade; atletismo e escola. A pesquisa empírica foi embasada por Souza e Brito (2013) e foi feita através de formulário do Google Forms com alunos do primeiro período de Licenciatura que participaram das aulas de Metodologia do Atletismo na Escola Municipal Tenente Antônio João, no ano de 2018.

Resultado

A análise dos resultados se configurou através da bibliografia estudada e dos resultados obtidos na coleta de dados, que relatou uma compreensão bastante plausível dos entrevistados a favor da possibilidade de se trabalhar o Atletismo e de utilizar-se do lúdico no contexto escolar.

Como foi exposto acima, a pesquisa foi feita através de questionário digital, buscando alcançar um público maior e mais amplo em relação às questões abordadas, a fim de se procurar entender a inserção do Atletismo juntamente com o lúdico no âmbito escolar. Como respostas, tem-se que ao serem questionados sobre a possibilidade de se trabalhar com o Atletismo dentro da escola, 97,6% dos entrevistados acham possível trabalhar com a modalidade no contexto escolar, enquanto 2,4% discordam dessa possibilidade. Ainda, os mesmos 97,6% dos entrevistados acham possível trabalhar a modalidade inserida dentro da perspectiva lúdica, enquanto 2,4% discordam. Nenhum dos entrevistados marcou a opção talvez.

Segundo Souza e Brito (2013) o Atletismo serviria como base para outros esportes por conta de suas diversas habilidades básicas e da fácil realização de seus movimentos. Sendo assim, ele seria uma ótima ferramenta de ensino na escola, nas aulas de Educação Física, uma vez que sua execução e regras simples, acompanhadas da fácil adaptação dos materiais esportivos, facilitariam a inserção desse esporte no âmbito escolar. Ou seja, é visível, nessa primeira análise, que os acadêmicos veem o Atletismo como um possível conteúdo a ser trabalhado nas aulas de Educação Física, já que o mesmo  pode ser adaptável e utiliza-se de materiais simples, que podem ser encontrados ou confeccionados pelos alunos ou pelo professor, fazendo com que o seu uso seja acessível no ambiente educacional.

Conclusão

Foi compreendido, com essa experiência, que as condições de trabalho são precárias por conta da falta de materiais e espaços específicos para as aulas de Educação Física, mas que ainda assim os profissionais podem se dispor a diferentes possibilidades de ensinar os conteúdos do Atletismo, utilizando-se de novas abordagens, indo contra as justificativas normalmente apresentadas que fazem com que os professores não o incluam no programa escolar. Foi possível observar  que o mesmo pode ser trabalhado utilizando-se de materiais adaptados e espaços informais, rompendo com a oferta tradicional dos esportes coletivos.

E foi observado também que é possível trabalhar o Atletismo através do lúdico, utilizando-se de pouquíssimos materiais, criando assim a possibilidade de ser feito um trabalho de excelência nas aulas de Educação Física, já que a mesma tem um papel muito importante na formação do aluno, pois trabalha a autonomia, a individualidade e também a integração social.

Concluiu-se, com o presente estudo, que a inserção do lúdico pode ser uma estratégia aplicável à modalidade do Atletismo no contexto da Educação Física escolar, visto que a abrangência dos seus conteúdos permite que o professor transmita o conhecimento de forma criativa, prazerosa e inovadora, para que os alunos aprendam e compreendam a importância do Atletismo tanto nas aulas de Educação Física quanto para a vida adulta.

 

Referências

GODOY, M. A. B.; SOARES, S. T.. Estágio Supervisionado no Curso de Pedagogia. Guarapuava, PR: Gráfica UNICENTRO, 2014. Disponível em <http://repositorio.unicentro. br:8080/jspui/handle/123456789/938>. Acesso em: out. 2019.

HUIZINGA, J. Homo ludens. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.

JANUÁRIO, G. O Estágio Supervisionado e suas contribuições para a prática pedagógica do professor. In: Seminário de História e Investigações de/em Aulas de Matemática, 2, 2008. Campinas. Anais: II SHIAM. Campinas: 2008, p. 1-8.

KIRSCH, A.; KOCH, K.; ORO, U. Antologia do atletismo: metodologia para iniciação em escolas e clubes. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.

MARIANO, C. Educação física: o atletismo no currículo escolar. Rio de Janeiro: Wak, 2011.

MATTHIENSEN, S. Q. O atletismo se aprende na escola. São Paulo: Fontoura, 2005.

MATTHIESEN, S.; PRADO, V.M. Para além dos procedimentos técnicos: o atletismo em aulas de educação física. Motriz, Rio Claro, v. 13, n. 2, p. 120-127, abr./jun. 2000.

MIRANDA, C. F. O Corpo das Crianças nas Aulas de Atletismo na Escola. Cedes, Campinas, v. 32, n. 87, p. 177-185, mai./ago. 2012.

PINTO, L. M. S. M. Vivência Lúdica no lazer: humanização pelos jogos, brinquedos e brincadeiras. In: MARCELLINO, N.C (org.). Lazer e Cultura. Campinas: Alínea, 2007. p.171-193

SANTOS, S. M. P. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

SOUZA, L. A.; BRITO, A. C. O atletismo na perspectiva educacional. Revista Expressão Católica, Quixadá, v. 2, n. 2, p.114-124, jul./dez.2013.

SANTOS, Stéphanie Gomes dos. Atletismo na escola em uma perspectiva lúdica. Revista Brasileira de Educação Básica, Belo Horizonte – online, Vol. 8, Número 31, julho – outubro, 2024, ISSN 2526-1126. Disponível em: (link). Acesso em: XX(dia) XXX(mês). XXXX(ano).

Imagem de destaque: Original image (Pixabay)

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