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A Matemática no PIBID 2018/2019 – um mosaico dos fatos

Quem somos?

Inúmeras pessoas passaram por essa vivência. Os então licenciandos da Matemática: Alexandre, Ana Luíza, Bruna, Cleusa, Criger, Daniele, Felipe, Gabriel, Hebert, Helizaias, Ingrid, Isabella, João Victor, Julia, Lucas, Marcos, Maurício, Pedro Alves, Pedro Henrique, Pedro Lucchesi, Rafael, Sérgio, Simon, Thais, Wenderson; as professoras supervisoras da escola básica: Angélica, Érica, Petrina e Renata e, finalmente, os dois docentes orientadores: Filipe e Teresinha. Os pibidianos – os bolsistas – se revezaram em grupos de 8 ou 9 estudantes, a cada seis meses, em uma escola: Centro Pedagógico da UFMG, Escola Municipal Minervina Augusta e Escola Municipal Hélio Pellegrino, toda     s na região norte de Belo Horizonte. 

Todos somos licenciandos e licenciados em Matemática e quase todos trazem um traço em comum. Somos um pouco nerds e a experiência com o aprendizado de Matemática nunca foi muito traumática ou, ainda, uma ou outra experiência na vida escolar nos despertou para o gosto com a disciplina. Bons professores também nos despertaram para a escolha da profissão. Em geral, boas são as lembranças de nossas vivências nas aulas dessa disciplina e muitos se aventuravam a lecioná-la      junto aos seus colegas. Em decorrência disso, a docência passou a fazer parte de seus planos de vida. 

Foi nesse momento de disparidade de notas que eu descobri minha aptidão pela Matemática. Cada novo tipo de operação causava o brilho no olhar, descobri que o mundo não girava somente em torno dos números inteiros e muito menos das quatro operações fundamentais (adição, subtração, divisão e multiplicação). A partir do sétimo ano, comecei a participar do projeto de Monitoria Solidária no qual alunos com bom desempenho e disponibilidade são convidados a dar aulas pros colegas de turma, no contraturno, dentro da própria escola (excerto do memorial escrito pela pibidiana Ingrid).

Notavelmente, um professor de Matemática era muito ativo nesse sentido, criando projetos como um campeonato de xadrez entre todos os alunos da escola e utilizando dinâmicas diferentes na sala de aula, como construção de sólidos geométricos e resolução de problemas simples (excerto do memorial escrito pelo pibidiano Pedro Souza).

As supervisoras, professoras da escola básica, Angélica, Érica, Petrina e Renata tiveram papel fundamental no desenvolvimento dos projetos no PIBID. São profundas conhecedoras da escola básica pública, sendo que Petrina e Érica      têm muitos anos de experiência. Com formações e interesses diversos, elas, as professoras-supervisoras, trouxeram para o ensino de Matemática um tratamento além dos moldes tradicionais, contribuições diferenciadas e também diversificadas.    

O que fizemos?

Coletivamente, traçávamos algumas metas. De maneira geral, reuniões a cada duas semanas. Conversávamos, nos colocávamos a par dos movimentos em cada escola e combinávamos o que fazer. Cada escola, uma realidade, uma comunidade, uma proposta. 

Pibidianos, as professoras Angélica e Renata, o Centro Pedagógico da UFMG e a Pedagogia de Projetos

O Centro Pedagógico (CP), escola de aplicação da UFMG, desenvolve, entre várias propostas, o trabalho com projetos.

Ao longo dos dezoito meses do PIBID 2018/2019, a professora Renata atuou nos primeiros seis meses e a professora Angélica nos doze meses restantes. Nos seis meses iniciais, destaca-se o projeto de Educação Financeira desenvolvida pela professora Renata e os pibidianos com turmas do nono ano, a pedido dos alunos, ocasião em que foram compartilhadas experiências de investimentos e análise de mercado. Os estudantes trabalharam em grupos e os pibidianos se organizavam para o esclarecimento de dúvidas e orientação do trabalho (Figura 1). 

Figura 1: pibidianos atendendo os grupos no CP
Fonte: acervo de fotos produzidas pelos pibidianos 

Angélica assumiu o PIBID após o afastamento da professora Renata. Propôs o Grupo de Trabalho Diferenciado – proposta que é parte do projeto pedagógico da escola e que se caracteriza por projetos desenvolvidos por um grupo menor de estudantes (entre 5 e 15), licenciandos estagiários do CP e professor(a)-orientador(a) da casa; caracteriza-se também pelo fato de tratar de temas livres que sejam de interesse comum aos licenciandos e aos estudantes do ensino fundamental – NOVA IMAGEM DA ARTE (ver Figura 2). Este GTD objetivou trabalhar a percepção estética do aluno, permitindo a leitura de obras de artistas que escolheram as formas geométricas básicas como tema para seus trabalhos. Foram analisadas obras artísticas de pintores famosos, como Kandinsky, Mondrian e Dellaunay. Conceitos de geometria emergiram ao longo da realização da atividade, tais como simetria, paralelismo e perpendicularismo, polígono, círculo, circunferência, entre tantos. Os estudantes, participantes desta atividade, também foram expostos à experimentação de alguns recursos do software de geometria dinâmica Cabri Gémètre II. 

Figura 2: visualização de parte da folha de trabalho entregue ao estudante na atividade “Nova imagem da arte”
Fonte acervo de fotos produzidas pelos pibidianos
Figura 3: exposição com as obras dos estudantes do CP, sobre a releitura de obras de arte
Fonte: acervo de fotos produzidas pelos pibidiano

Ao final de 2019, pibidianos, Angélica e estudantes do CP realizaram uma exposição na própria escola (Figura 3), com as obras produzidas pelos estudantes em suas releituras das obras de arte a que foram apresentados neste GTD.

Pibidianos, a professora Érica, a Escola Municipal Hélio Pellegrino e as diversas ações pellegrinas… 

“Ações Pellegrinas”, assim denominamos as ações realizadas nessa escola, devido à forte identificação que sua comunidade possui com esse espaço graças às suas ações integradoras. Em particular a Ação Pellegrina ao qual nos referimos nesse texto é um projeto anual que envolve toda a comunidade, os três turnos, e que surgiu da necessidade de compensar a comunidade que tanto fez pela criação da escola. Essa ação aconteceu no segundo semestre de 2018. Além de serem apresentados alguns trabalhos realizados pelos alunos e professores da escola no formato de feira, também são fornecidos alguns trabalhos voluntários como: aferição de pressão, consulta a um advogado, presença de um médico hebiatra, doação de mudas de verduras e outras atividades. Os pibidianos, juntamente com a equipe dos projetos Museu da Matemática, Física Divertida e Astronomia, participaram desta ação. A equipe do Museu trouxe suas atividades: jogos (Figura 4A e 4B), oficinas e desafios. Nas palavras de Érica, os pibidianos foram importantíssimos para a realização desse evento, pois eles monitoraram atividades realizadas pelo Museu.

Figura 4A: jogos matemáticos – Mancala, Jogo do resto e Xadrez; Figura 4B: jogos de tabuleiro adaptados no chão 
Fonte: acervo de fotos produzidas pelos pibidiano

Sobre o evento e a escola, diz o pibidiano Maurício:

Aprendemos como o Conselho de Classe funciona e como a escola está atenta ao contexto socioeconômico, psicológico de cada aluno. E isso ficou claro quando participamos do dia da Ação Pellegrina, no qual a família/comunidade frequenta a escola com os alunos e participam de várias atividades, deixando esse contato família/escola mais próximo, além de poder trazer jogos matemáticos e atrair o olhar dos alunos para a matemática de uma forma diferente (excerto do relatório do pibidiano Maurício no segundo semestre de 2018).

Outras ações se concretizaram ao longo de 2019. Vale lembrar da palestra ministrada pelos pibidianos sobre as escolas técnicas federais como possibilidade de prosseguir os estudos 

Reunimos e montamos um folheto informativo das instituições e cursos existentes.Com isso foram ministradas palestras esclarecedoras como: local, meios de transporte, condições fornecidas pelas instituições, formas de realização do técnico e etc. Tivemos um retorno satisfatório com uma participação de grande parte dos alunos, eles perguntavam mostrando muito interesse e a cada resposta dos pibidianos percebíamos que os olhinhos brilhavam e que naquele momento estava sendo plantada uma sementinha. E, de fato, os resultados de alunos aprovados no Cefet, Coltec e Ifmg foram recordes na escola, nunca houve um número de aprovação tão alto. Conjecturamos que esse índice de aprovação se deveu ao projeto aliado ao incentivo e auxílio de esclarecimentos de dúvidas dos pibidianos no dia a dia da escola (excerto do relatório final da professora supervisora Érica).

Por iniciativa própria os pibidianos desenvolveram uma planilha Excel que tratava os dados dos simulados da Prova Brasil. Os professores passaram a ter feedbacks rápidos sobre o desempenho dos estudantes. Segundo os professores da escola, esta foi uma grande contribuição para toda a escola que o PIBID/Matemática trouxe. As ações na escola Municipal Hélio Pellegrino foram documentadas em documentário pelo pibidiano João (https://youtu.be/ZGvtMns0Iek). 

Pibidianos, a professora Petrina, a Escola Municipal Minervina Augusta e a modelagem matemática 

A professora Petrina não tem limites para a sua criatividade e seu entusiasmo. Em seu mestrado desenvolveu a pesquisa sobre a sala de aula invertida com atividade didática sobre proporcionalidade em que produziu seus próprios vídeos com base nos feedbacks que os estudantes traziam, durante as aulas presenciais, quando se discutia o conteúdo abordado pelo vídeo. Além da “sala de aula invertida”, Petrina sempre foi uma entusiasta pela Modelagem Matemática como atividade da Educação Matemática, há anos participa de grupo de estudos sobre a Modelagem Matemática, coordenada pela professora do ICEx – Instituto de Ciências Exatas da UFMG – Jussara de Loiola Araújo. A Modelagem Matemática foi um dos recursos didáticos que Petrina e pibidianos lançaram mão amplamente no planejamento de uma atividade didática ampla e de longa duração de Matemática realizada no primeiro semestre de 2019.

A atividade teve como ponto de partida a tragédia ocorrida no início daquele ano. Referimo-nos ao rompimento da barragem de mineração no município de Brumadinho, no estado de Minas Gerais. Nesse semestre desenvolvemos o      projeto “Mar de lama – Modelagem na Educação Matemática”. Infelizmente o ano de 2019 se iniciou com mais uma terrível tragédia de ruptura de barragem de mineração em nosso estado – Minas Gerais. Em uma reunião da coordenação do PIBID, após algumas conversas e exposições, discutimos a possibilidade de trabalharmos no primeiro semestre de 2019 a Matemática em diálogo com temas da atualidade que afetam a população. Rapidamente, o assunto “meio ambiente”, em consequência da tragédia da ruptura da barragem de mineração do córrego do Feijão na cidade de Brumadinho, emergiu de forma quase que espontânea. Petrina e pibidianos optaram por realizar um trabalho de modelagem na educação matemática com o tema da tragédia de Brumadinho. Esta prática exige um certo preparo e, para tanto, o grupo leu artigos, perspectivas – propostas de modelagem, conceitos e diferentes concepções – e autores foram apresentados e discutidos. A proposta foi desenvolvida com as duas turmas de sextos anos. Nessa atividade, os estudantes tiveram de articular fatos da realidade a temas matemáticos. Foi possível discutir conceitos de área (extensão do desastre), volume e capacidade (quantidade de lama que atingiu o município), princípios de matemática financeira no cálculo de investimentos com o objetivo de mitigar os prejuízos causados pela tragédia.     

Ao final do mês de maio, após a finalização do trabalho em sala de aula, soubemos sobre o III Festival de Vídeos Digitais e Educação Matemática que aconteceria na Universidade Federal do Espírito Santo. Foram produzidos dois vídeos, ambos inscritos e premiados, que podem ser acessados pelo site do Festival – https://www.festivalvideomat.com/copia-ii-festival.  O primeiro, produzido pela professora Petrina e os estudantes do ensino fundamental, foi intitulado “Mar de lama – modelagem na educação matemática”, encontra-se no youtube, no canal do festival, e pode ser acessado por meio do link https://youtu.be/YpCteGqjxd0.

Esse vídeo conquistou o primeiro lugar em duas modalidades: júri técnico e júri popular. Tal trabalho teve uma participação efetiva dos bolsistas e uma repercussão incrível. As famílias dos estudantes se empenharam e ao final comemoraram juntas. Recebemos relatos muito incentivadores de que o(a) filho(a) apresentava-se em casa muito envolvido(a) com a Matemática. O segundo vídeo foi produzido por um subgrupo formado pelos pibidianos que estavam no Minervina Augusta naquele semestre – Lucas, Isabella, Bruna, Criger – sob a supervisão da professora Petrina. Esse vídeo, intitulado “Modelagem e Ensino de Matemática O Desastre de Brumadinho”, sobre o mesmo tema, foi produzido na perspectiva dos licenciandos em formação, participantes do PIBID. A produção foi uma das finalistas na categoria “Ensino Superior” e pode ser acessada no site https://youtu.be/WljtAFzyZ6M.

 

O que ficou? Como ficamos?

A experiência PIBID/Matemática foi muito gratificante para cada participante. De formas diferentes, mas unanimemente gratificante. Como orientadores, Teresinha e Filipe mencionaram na entrevista do vídeo produzido pelo estudante João, então pibidiano na Escola Municipal Hélio Pellegrino, sobre o valor inestimável da aproximação universidade-escola básica traduzido pelo trabalho conjunto com os licenciandos da Matemática, as professoras supervisoras e os estudantes do ensino fundamental.

As reflexões da professora Petrina podem ser identificadas nas percepções expressas nos relatórios finais das professoras supervisoras:

Foram três semestres de convívio com jovens licenciandos nos períodos iniciais do curso de Matemática da UFMG. Um convívio incrível com pessoas responsáveis, dedicadas e interessadas na docência. O PIBID é sem sombras de dúvidas um programa fundamental para a formação do futuro professor, em nosso caso de Matemática. A oportunidade da vivência da sala de aula enquanto futuro professor concede ao bolsista uma possibilidade de aprendizado ímpar. Na faculdade não aprendemos a parte burocrática da escola, não conhecemos a função da secretaria, da biblioteca, da coordenação, da direção e de todos os funcionários da escola. Enquanto o bolsista frequenta o dia a dia da escola ele está imerso na realidade que o aguarda, nas demandas, nas dificuldades, nos imprevistos que não temos como mensurar (excerto do relatório final da professora supervisora Petrina). 

Os bolsistas, por sua vez, dizem:

Acredito que, se não tivesse me inscrito no processo seletivo desse programa, não teria tido contato direto com a escola até hoje. Essa experiência foi muito importante, me fez desenvolver várias habilidades e ter vivenciado o cotidiano de uma escola pública brasileira (excerto do relatório final da pibidiana Ana Luíza).

É necessário que seja uma apresentação realista, para que diminua a quantidade de professores infelizes com a sua profissão; além disso, apresentar a vivência na escola para o futuro professor é de extrema importância para que tanto o futuro professor quanto seus futuros alunos não saiam prejudicados em sua relação. (…) é importante a continuação de projetos que ofereçam essa oportunidade e a criação de novos projetos para que a maioria das pessoas tenham essa experiência em sala antes de assumirem uma turma por conta própria sem um professor mais experiente que lhe ajude com os desafios da profissão. Esse tipo de experiência não pode ser removida dos cursos de licenciatura, por isso fico muito feliz porque vai haver mais uma edição tanto do PIBID quanto do Residência Pedagógica e isso, com certeza, ajudará na minha vida profissional e a de muitos colegas também (excerto do relatório final da pibidiana Dani).

Programas como o PIBID têm papel essencial na formação de professores. Especificamente, na formação do(a) professor(a) de Matemática, os aproxima da realidade do ensino de uma disciplina considerada difícil e, em parte, responsável pelo o que chamamos de “fracasso escolar”. 

Referências 

Relatórios, relatos, memoriais e materiais produzidos pelo grupo ao longo da vivência PIBID 2018/2019 UFMG. 

Imagem de destaque: Arquivo do Núcleo de Matemática do PIBID UFMG 2018-2020

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