PIBIDGEOGRAFIA

O PIBID e a prática na formação docente de Geografia na UFMG

O PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – é uma política pública de formação de professores do Ministério da Educação – MEC – criada pelo Decreto n.º 7.219/2010 e regulamentado pela Portaria 096/2013 – cujo Edital 07/2018 teve início no segundo semestre de 2018, no mês de agosto, e se estendeu por todo o ano de 2019, sendo finalizado em janeiro de 2020, totalizando um período de dezoito meses de duração

O programa pode ser visto na perspectiva de um movimento das instituições de formação docente, no sentido de aumentar a carga horária prática na formação de professores. O PIBID-Geografia buscou refletir sobre a prática na formação de professores a partir das experiências desenvolvidas nas escolas parceiras pelos professores supervisores e seu significado para pensar o que há de afirmativo naquelas vivências. Trata-se, como bem esclarece Nóvoa (2017), de “(…) pensar a formação de professores como uma formação profissional universitária, isto é, como a formação para o exercício de uma profissão, a exemplo da medicina, da engenharia ou da arquitectura” (NÓVOA, 2017, p.1109). Desse ponto de vista, a experiência de participação no PIBID-Geografia revelou-se muito proveitosa, uma vez que, efetivamente, inseriu os licenciandos e, por conseguinte, a universidade, no cotidiano escolar, envolvendo os discentes participantes na prática do ensino de Geografia, de maneira regular, por um total de dezoito meses.

O núcleo de Geografia do PIBID/UFMG foi composto de três grupos de bolsistas e voluntários que atuaram em três escolas parceiras, duas da rede pública municipal de Belo Horizonte e uma da rede estadual de Minas Gerais. Em cada escola os licenciandos do PIBID contavam com a orientação de um professor supervisor da área de Geografia, que, além de ser um mediador do diálogo entre a Coordenação do PIBID-Geografia e as escolas, projetava-se igualmente como indutor do processo de criação e comprometimento das experiências desses professores em formação. Dessa maneira, configurou-se a presença ativa “(…) da universidade no espaço da profissão e a presença da profissão no espaço da formação” (NÓVOA, 2017, p. 1116).

Durante a vigência do programa, a coordenação, os supervisores e discentes do PIBID optaram pela permanência dos bolsistas e voluntários na mesma escola durante todo o período de vinculação de cada um. As atividades desenvolvidas em cada escola foram variadas, porém, partiu-se de uma orientação geral da coordenação institucional do PIBID, que sugeriu que se fizesse, inicialmente, uma cartografia social das escolas parceiras para que os discentes pudessem conhecer melhor a inserção dessas escolas em sua realidade socioespacial.

Ao aproximar a universidade da escola básica, o PIBID desempenhou uma importante função na dimensão prática da formação de professores. Dessa maneira, a prática não se constituiu como mera adequação às normas legais, mas sim uma verdadeira oportunidade de os discentes bolsistas e voluntários terem uma experiência em que a reflexão teórica e os desafios da prática caminharam juntos. Permitiu consolidar uma relação necessária entre a universidade e as escolas de ensino fundamental e médio, em uma perspectiva de formação de professores de Geografia, na qual as experiências e a reflexão sobre as experiências tomaram a centralidade no projeto de formação emancipadora dos licenciandos. 

São apresentadas, em seguida, algumas práticas desenvolvidas pelos professores em formação na Escola Municipal Dora Tomich Laender, Escola Municipal Belo Horizonte e Escola Estadual Professor Affonso Neves.

Práticas desenvolvidas no âmbito do PIBID-Geografia no processo de formação de professores

A Escola Municipal Dora Tomich Laender, onde atuou um dos grupos de licenciandos do Núcleo de Geografia do PIBID-UFMG, localiza-se no bairro Minas Caixa, na região administrativa de Venda Nova, na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A escola atende alunos do ensino fundamental regular e da modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) e constitui um espaço de muito valor para a comunidade, visto que o bairro onde está inserida, na periferia de Belo Horizonte, possui poucos equipamentos públicos destinados ao lazer e à cultura. 

A escassez, ou mesmo ausência de equipamentos públicos destinados aos jovens, reforça a marca da violência nesses espaços, em especial contra a juventude negra. A escola, nesse contexto, acaba tornando-se um lugar de convivência, onde os estudantes constroem relações sociais importantes para sua formação individual e coletiva. É um verdadeiro espaço de encontro de culturas e saberes, que possibilita a construção de conhecimentos necessários para o convívio com a diversidade e para o enfrentamento das diversas situações de vulnerabilidade social em que os jovens, as crianças e os alunos adultos e idosos estão inseridos.

A opção dos bolsistas e voluntários/as de não mudar de escola a cada semestre durante a participação no programa permitiu conhecer e conviver em profundidade com os sujeitos que frequentam este ambiente escolar. Permitiu, de fato, construir um conhecimento maior sobre a escola e sobre quem são os sujeitos envolvidos no processo educativo. O PIBID, pensado no sentido da formação docente, constituiu uma caminhada que possibilitou a imersão dos licenciandos nas complexas questões que surgem na experiência escolar. Dessa forma, foram construídas relações afetivas ao longo do percurso, envolvendo todos os participantes.

A sensação inicial de medo de exercer a profissão de professor foi aos poucos dissipada, na medida em que houve a construção de autonomia e, também, pelo conhecimento e aproximação com cada sujeito que ali se encontrava, possibilitada pela associação entre o comportamento em sala com a realidade vivenciada. Entretanto, outros medos surgem em relação ao exercício da carreira docente quando se vê, em escala nacional, o forte ataque que a educação vem sofrendo, com os cortes e contingenciamentos de verbas, além da ameaça à liberdade de cátedra, que podem impossibilitar e desmotivar os que escolheram essa profissão. 

Nesse sentido, o PIBID mostra-se como uma ferramenta democrática de resistência e fortalecimento da luta em favor da profissão de professor e da educação pública de qualidade e socialmente referenciada, sendo a construção coletiva uma tarefa fundamental à manutenção do programa, tanto para a academia quanto para a comunidade escolar. Além das dificuldades, há muitos elementos motivadores, sendo o principal deles a compreensão de que temos a responsabilidade de trazer, organizar e analisar temas importantes para a vida dos educandos, sobre os quais dialogamos com eles.

O PIBID atuou com o terceiro ciclo do ensino fundamental, buscando conhecer inicialmente esses sujeitos estudantes e o contexto socioespacial em que a escola se insere. Foram realizadas intervenções na escola de acordo com o perfil dos discentes, sempre tentando analisar a espacialidade dos fenômenos que acontecem em diferentes escalas e buscando associar os elementos físicos e sociais que se relacionam com a realidade dos educandos.  As experiências trataram tanto de temas que estavam diretamente relacionados com a matéria estudada em sala de aula quanto com os contextos que extrapolavam o conteúdo programático, visando contribuir para a construção da criticidade dos estudantes e licenciandos.

Na Escola Municipal Dora Tomich Laender, destacamos o desenvolvimento de três experiências de aprendizagem prática e teórica. Por meio de trabalhos de campo, aproximamos o conteúdo da Geografia da realidade dos educandos. O projeto “História de Bairro” permitiu conhecer melhor os bairros da regional Venda Nova e a realidade onde a escola está inserida; o “Projeto de Futuro” possibilitou visitar os Institutos Federais de ensino médio de Sabará e de Santa Luzia, o CEFET-MG e o COLTEC-UFMG, na perspectiva de discutir as expectativas de futuro e ampliar o horizonte de possibilidades profissionais dos educandos; excursões a museus fizeram parte dos projetos “História de Mulheres” e “Ciências e Tecnologia”. 

Outras experiências foram desenvolvidas no dia a dia dos educandos por meio de discussões, como a conscientização sobre políticas públicas; a importância da luta pela conquista de direitos no período da ditadura (1964 a 1985); a reforma da previdência e seu impacto sobre a classe trabalhadora; e a formação do povo brasileiro sob uma perspectiva contra-hegemônica, não eurocêntrica. Além disso, o protagonismo juvenil foi incentivado com o apoio à criação do Grêmio Estudantil e a participação na Mostra de Investigação Científica Escolar (MICE), organizada pela Prefeitura de Belo Horizonte, para proporcionar visibilidade aos projetos desenvolvidos na escola. Uma parte importante do trabalho foi o auxílio ao professor supervisor, em sala de aula, na elaboração, aplicação e correção de avaliações. 

A Escola Municipal Belo Horizonte (EMBH), um dos subnúcleos do PIBID-Geografia, está localizada no bairro São Cristóvão, na região administrativa Noroeste de Belo Horizonte. Além dos estudantes que moram no bairro São Cristovão e adjacências, a escola atende a moradores da Pedreira Prado Lopes. Trata-se da mais antiga favela de Belo Horizonte, surgida em 1910, após a fundação da cidade em 1895. Desde sua origem, foi ocupada por trabalhadores da construção da nova capital, submetidos à reprodução precária da força de trabalho. Os moradores da favela Pedreira Prado Lopes se apropriaram desse espaço e, não diferentemente de outras favelas localizadas em áreas centrais de Belo Horizonte, convivem com “(…) as precárias condições de moradia e infraestrutura que atualmente ainda podem ser observadas, agravadas pelo aumento do número de habitantes” (NASCIMENTO; RODRIGUEZ; PESSOA; OLIVEIRA, 2018, p. 2). 

Atualmente, a Escola Municipal Belo Horizonte atende turmas do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, nos turnos da manhã e da tarde, e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no turno da noite. Além do ensino regular, oferece serviços de Atendimento Educacional Especializado (AEE), Escola Integrada e Escola Aberta, todos eles fundamentais para a formação dos discentes da região. A EMBH conta, ainda, com uma biblioteca, dois auditórios e um ginásio esportivo. 

A insuficiência ou ausência de equipamentos públicos destinados ao lazer e à cultura juvenil na favela Pedreira Prado Lopes contribuem para que a Escola Municipal Belo Horizonte se transforme num espaço que integra a juventude à cidade, por meio da educação pública gratuita e socialmente referenciada. Nesse sentido, o direito à cidade, tal como apresentado por Lefebvre (2008, p. 11), é um “(…) movimento orientado para confrontar e superar os descompassos do real em relação ao possível, as contradições entre sociedade e civilização (as amplas possibilidades desta sendo frustradas, não se realizando, ou se realizando empobrecidamente, através daquela)”. A EMBH, nesse contexto, torna-se um espaço de recusa à realidade urbana discriminatória e segregadora, ao inserir os jovens moradores de uma área favelizada na vida em sociedade, para uma formação individual e coletiva emancipadora. Desse modo, a presença do PIBID nessa escola proporcionou outro olhar sobre a docência e sobre a relevância da escola pública. 

No primeiro trimestre letivo, as experiências desenvolvidas na Escola Municipal Belo Horizonte aconteceram principalmente na elaboração de conceitos e temas geográficos, a saber: noções sobre categorias geográficas e fundamentos de cartografia, geologia e geomorfologia. Inicialmente foram discutidos os conceitos de paisagem e lugar. Preparamos um trabalho de campo para a realização de registros fotográficos das paisagens do entorno da escola. Encerramos com a discussão da noção de lugar de vivência dos estudantes, analisando a música “Rap da Felicidade, que trata da favela e seus conflitos. O rap canta a necessidade de as comunidades pobres e segregadas reconhecerem seu pertencimento ao espaço onde vivem, como lugar de luta contra o desrespeito e a violência, mas também lugar para ser feliz. 

No segundo trimestre letivo, foram realizadas atividades práticas lúdicas, como a confecção de maquetes, de rosa-dos-ventos e a disputa do jogo batalha naval, que ajudaram os estudantes no processo de ensino e aprendizagem de conceitos operacionais da cartografia. Na última etapa do semestre letivo, trabalhamos o conceito de estrutura da Terra – formação geológica, camadas da Terra, seus movimentos e consequências. Essa prática foi desenvolvida com a orientação do supervisor do PIBID na Escola Municipal Belo Horizonte, resultando na oportunidade de os licenciandos ministrarem aulas. A experiência de lecionar fez com que os pibidianos/as atuantes nessa escola refletissem sobre a relevância da prática na formação de professores de Geografia.

Ao final de cada semestre, foram realizados seminários do PIBID-UFMG. Em um desses seminários, foi adotada uma dinâmica em que os subnúcleos prepararam apresentações com banners e/ou vídeos em que se mostrava a escola onde cada grupo de estudantes estava inserido. A EMBH se reuniu no primeiro seminário com os estudantes do PIBID-Música e Teatro e Educação Física atuantes na Escola Municipal Lídia Angélica e na Escola Municipal Aurélio Pires, respectivamente. Dessa maneira, pode-se compartilhar as experiências vivenciadas nas escolas parceiras.  Para a realização desse seminário, cada subnúcleo apresentou um trabalho de cartografia social da escola onde atuava, levantando dados socioespaciais daquela escola e do seu entorno, de forma que possibilitasse um entendimento do contexto social dos alunos. No segundo seminário PIBID-UFMG, o núcleo de Geografia se reuniu com os núcleos de História e Sociologia. Foram apresentados vídeos e relatos das experiências vividas nas escolas participantes.

A Escola Estadual Professor Affonso Neves (EEPAN) está localizada no bairro São Francisco, região administrativa da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Encontra-se próxima do campus da UFMG e de trecho do Anel Rodoviário (Rodovia Fernão Dias).  O bairro, muito provavelmente por sua localização estratégica em relação à logística do transporte terrestre, é predominantemente empresarial-industrial. A paisagem urbana do bairro São Francisco é constituída predominantemente de galpões, pequenas e médias empresas e garagens de transportadoras, dentre outras. A problemática urbana no bairro São Francisco se expressa também pela presença de várias vilas, a exemplo da Vila Nova Cachoeirinha (3ª Seção), Vila Ermelinda, Vila Sumaré, Vila Maloca e o bairro Nova Cachoeirinha, nos quais se localizam as residências da maioria dos alunos/as que estudam na escola parceira.

A inserção dos licenciandos do PIBID-Geografia nessa escola se deu através do contato semanal com estudantes do ensino fundamental II e do ensino médio. A primeira atividade desenvolvida pelo núcleo de Geografia na instituição foi denominada de “Cartografia Socioespacial”. Por meio de um questionário semiaberto, buscamos conhecer os estudantes com perguntas sobre o bairro onde vivem, com quem, as motivações para irem à escola, o que fazem em seu tempo livre, entre outras. Essa ação foi essencial para orientar os passos seguintes, uma vez que, com base nas respostas obtidas, foram formuladas estratégias de atuação pedagógica a partir dos desafios e potencialidades encontrados, desenvolvendo-se um plano de ação junto aos discentes.

O plano de ação consistiu na elaboração de atividades que respondessem às demandas de cada turma, de modo que a Geografia escolar fosse trabalhada numa perspectiva cidadã e de maneira dinâmica, com o intuito de possibilitar aos estudantes aulas com maior interatividade. Dentre essas atividades, ressaltamos três nas quais consideramos ter havido um maior envolvimento dos alunos: a Gincana Geográfica, a Simulação Diplomática e o Jogo da Vida.

A proposta da Gincana Geográfica, desenvolvida com os alunos do sexto ano, foi feita após a análise do questionário que subsidiou a Cartografia Socioespacial. Nas respostas, muitos alunos mencionaram a falta de espaço e de momentos dedicados ao lazer. Dessa forma, pensamos em desenvolver uma Gincana Geográfica em que a equipe vencedora seria premiada com uma tarde no Centro Esportivo Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (CEU-UFMG). Ao longo de um mês, semanalmente, as equipes enfrentaram situações- problema em que a solução dialogava com o conteúdo que estava sendo trabalhado nas aulas de Geografia. Como atividade final da gincana, propusemos aos alunos realizar uma revisão dos conteúdos da avaliação bimestral de forma lúdica. Na quadra da escola, as equipes passariam por uma série de atividades envolvendo movimentos do corpo, para, ao final, responderem a questões do conteúdo a ser avaliado.

A Simulação Diplomática foi pensada em função de opiniões xenofóbicas emitidas por estudantes do terceiro ano do ensino médio e de seu interesse por questões de política internacional. A atividade consistiu em um debate entre dois grupos: um a favor e outro contra o uso do Jihab pelas mulheres islâmicas no território da União Europeia. A atividade instigou os alunos a pesquisar informações estatísticas e outras de órgãos oficiais, para a elaboração de argumentos fundamentados e coerentes. O debate possibilitou a interação de todos os estudantes, fato que contribuiu para a desconstrução de percepções inconsistentes e contraditórias, baseadas no senso comum e sem fundamentação histórica, cultural, ética e social sobre o uso do Jihab

O Jogo da Vida foi desenvolvido com alunos do oitavo ano e teve como objetivo tratar situações reais do mundo do trabalho como se fossem um jogo de tabuleiro. À medida que as equipes avançavam no jogo, passavam por situações comuns ao mundo do trabalho, tais como: aumento salarial por se especializarem; desemprego sem direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), dentre outras. Esses eventos, colocados no tabuleiro como sorte ou azar e, portanto, como possibilidade de avançar ou recuar casas, permitiram aos estudantes compreenderem melhor as relações envolvidas no mundo do trabalho, preparando-os para futuras experiências laborais. O jogo causou inquietação, pois os alunos perceberam que as chances de chegarem ao final e conquistarem bens como a casa própria eram mínimas, devido aos inúmeros obstáculos. Isso abriu espaço para discussões sobre o preparo para o trabalho e como as políticas públicas referentes a esse tema interferem diretamente na vida pessoal e social dos trabalhadores.

O contato com o ensino fundamental II e com o ensino médio na Escola Estadual Professor Affonso Neves foi essencial para a compreensão de questões práticas e teóricas referentes ao currículo escolar da Geografia, incluindo a necessidade de abordar problemas pessoais dos alunos, recobrindo o amplo contexto socioespacial do qual participam.

Considerações Finais

O PIBID é um programa de aprendizado, tanto pessoal quanto profissional. A chance de viver o cotidiano escolar, combinada aos conhecimentos teóricos adquiridos na universidade, torna-se um momento único na formação docente. A experiência prática permite aos bolsistas e voluntários do programa colocarem-se diante de situações e problemas que são vividos e percebidos apenas no cotidiano da escola. A oportunidade de contato com diferentes turmas e alunos viabiliza o entendimento de como as atividades pedagógicas devem ser pensadas, levando em conta a heterogeneidade dos sujeitos. Nesse sentido, o PIBID possibilitou um melhor entendimento da importância do professor e de seu papel na sociedade. 

A prática oportunizou perceber também os desafios e limites impostos à atuação docente pelo projeto de educação em curso, que é excludente. Isto provocou uma ruptura com as projeções idealistas do que é a escola pública em áreas de vulnerabilidade social. Semanalmente, durante três semestres, os bolsistas e voluntários/as tiveram contato com as escolas parceiras e com os educandos.  Além disso, reuniões semanais com a coordenação do núcleo e com os supervisores ajudaram a construir um olhar mais investigativo sobre a rotina da escola e a entender a importância da participação em todos os espaços e tempos dessa instituição, reconhecendo que nada é trivial, mas rico em possibilidades de aprendizagem. O PIBID contribuiu para um maior entendimento do que acontece dentro e fora da escola, além de explicitar as relações complexas existentes na realidade escolar. Nesse sentido, serviu como um importante marco na trajetória universitária, que levará os bolsistas e voluntários/as à tomada de decisão sobre ser ou não ser professor e por quais percursos pretendem seguir em seu curso de graduação. 

No currículo das licenciaturas, de modo geral, o contato com o ambiente escolar fica restrito aos estágios obrigatórios. O PIBID ajuda a perceber a importância de um prolongamento desse contato, pois em pouco tempo não é possível perceber a complexidade que é inerente a esse espaço. No período de um ano e meio de vigência do programa, é possível vivenciar mudanças no desenvolvimento social e escolar dos alunos. As atividades em muito ultrapassam o acompanhamento do professor na sala de aula. Com o passar do tempo e o amadurecimento no projeto, os pibidianos participam do planejamento das atividades práticas juntamente com o professor supervisor. Desse modo, o PIBID mostra-se uma experiência exitosa para compreender o cotidiano de uma escola.

Com a realização das atividades, não foi difícil perceber que ser professor é uma tarefa desafiadora e implica aprender a lidar tanto com o conteúdo curricular quanto com as demandas dos sujeitos no ambiente escolar. A preparação para a docência pode ser grandemente beneficiada por iniciativas como o PIBID, que possibilitam a imersão na docência e contribuem para a compreensão de que as práticas pedagógicas utilizadas devem ser reinventadas diariamente.

Como política pública, é essencial que haja uma disposição do Estado brasileiro de reconhecer e reafirmar a importância do PIBID no processo de formação de professores. Não há dúvida de que se trata de uma proposta inovadora, aberta à criatividade e que demanda continuação de modo a garantir a melhoria da formação docente no Brasil.

Fonte das Imagens: Arquivo do Núcleo de Geografia do PIBID UFMG 2018-2020

Referências

LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

NASCIMENTO, Alexandra; RODRIGUEZ, Martin Nicolas; PESSOA, Stenia Carvalho; OLIVEIRA, Talita Freitas de. Dilemas e perspectivas dos processos participativos nos projetos de urbanização de assentamentos precários no município de Belo Horizonte: a Pedreira Prado Lopes. URB Favelas. III Seminário Nacional Sobre Urbanização de Favelas. Salvador (BA), 2018.

NÓVOA, Antônio. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Cadernos de Pesquisa, v. 47, n. 166, p. 1106-1133, out./dez. 2017.

Imagem de destaque: Arquivo do Núcleo de Geografia do PIBID UFMG 2018-2020

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