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Novos desafios da educação básica pós-pandemia

10 – Cópia

Marcus Periks Barbosa Krause

Marcus Periks Barbosa Krause, graduado em Letras, bacharel em Teologia, Capelão Cristão, graduando em Pedagogia, Especialista em Língua Portuguesa, com ênfase em Gramática e Literatura; Especialista em Dependência Química; Especialista em Gestão e Governança em Ministério Público e especialista em Educação Especial Inclusiva; Mestre em Ciências da Educação. Membro do colegiado do programa de Pós-Graduação da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão; Membro das Academias: Pedreirense de Letras, Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil e Academia Intercontinental de Artistas e Poetas; Membro da Organização Mundial para Educação Pré-Escolar e membro do conselho municipal de Alimentação Escolar do município de Pedreiras/MA.
Escritor, com 3 livros publicados: A vida Sob Meu Olhar, Memória e História da Educação de Pedreiras e Educação, Inclusão Digital e Empatia: reflexões de um educador; Co-autor em diversas antologias nacionais e internacional; Poeta, Servidor público e professor da educação básica e superior; Articulista do Jornal Pensar a Educação em Pauta da UFMG e colunista do blog do Joaquim Filho poeta.

RESUMO: O presente trabalho visa trazer à reflexão os desafios que teremos que enfrentar na educação básica do nosso país, após a pandemia do Coronavírus, uma vez que o ensino híbrido passará a permear todos os níveis de educação, até mesmo a educação básica.  Em pleno século XXI, não podemos pensar em escolas desconectadas da rede mundial de computadores e desprovidas de equipamentos tecnológicos que auxiliem o processo ensino-aprendizagem. Será necessária uma reflexão por parte dos gestores de modo a transformar a realidade das nossas escolas, fazendo investimentos em recursos tecnológicos, democratização do acesso à internet e qualificação dos professores em novas tecnologias.

Palavras-chave: Inovação. Inclusão Digital. Ensino a Distância. Educação Básica.

Vivemos um tempo nunca visto na história da humanidade, pois estamos passando por um momento no qual todas as nossas relações sociais foram afetadas, trazendo com isso prejuízos imensuráveis, não somente de ordem econômica, mas que englobam todas as relações típicas da civilização humana.

Toda essa situação resultante da pandemia ocasionada pela disseminação do Coronavírus trará consequências imensuráveis, e uma das áreas que sofrerá efeitos negativos em decorrência desta pandemia é a educação.

Logo que o COVID-19 começou a se proliferar em nosso país, uma das primeiras medidas de combate e prevenção adotadas pelos governos foi a suspensão das aulas, tanto da rede pública quanto da rede privada, em todos os níveis da educação, por recomendação da Organização Mundial de Saúde – OMS, tendo em vista ser o isolamento social, até então, único meio de evitar contágios do vírus.

Como resultado dessas paralizações nos calendários escolares, somente na América Latina, mais de 95% das crianças ficaram sem aulas, o que corresponde a aproximadamente 154 milhões de crianças, segundo dados veiculados no dia 23 de março de 2020, em vários sites na rede mundial de computadores. Estima-se que, no Brasil, o número de alunos sem aulas, por conta da pandemia, gire em torno de 48,4 milhões de alunos, considerando que este é o quantitativo de alunos registrado no censo escolar de 2018.

Diante dessa preocupante situação de suspensão das aulas, as escolas, tanto públicas quanto privadas, passaram a adotar prática de ensino a distância, por meio de métodos on-line, sendo indiscutível a necessidade de adoção de medidas alternativas para minimizar os impactos da perda de aulas. Contudo, existem inúmeros desafios a serem vencidos antes de se adotar um ensino EaD, em face da grande exclusão digital existente em nosso país.

Segundo a UNICEF, o fracasso escolar, de modo geral, se dá por diversas situações, dentre elas, faz-se referência, em especial para este contexto, a uma das condições citadas que é “a falta de acesso a insumos de qualidade, como tecnologia e Internet”.

A evolução tecnológica cada dia nos assusta pelo seu avanço e cada vez mais somos dependentes da internet até para situações simples da vida. A tecnologia causou mudanças em muitas profissões, extinguindo muitas, penetrou no campo dos aparelhos domésticos, transformando fogões e geladeiras em verdadeiros computadores; transformou carros em verdadeiras máquinas que se locomovem sozinhas; tomou conta dos aparelhos de telecomunicações, transformando aparelhos celulares, que outrora eram utilizados apenas para ligações telefônicas, em verdadeiros ferramentas de subsistência, uma vez que dependemos deles para quase todas as situações da vida.

A pandemia do Coronavírus surgiu no mundo, e com ela nascem muitas indagações acerca do futuro da humanidade, após essa crise sanitária. Uma dessas indagações referem-se ao uso dos recursos tecnológicos e da internet, que nos mostrou não se tratar apenas de opção de consumo ou de lazer, mas uma necessidade real.

Para exemplificar tal necessidade, citamos as diversas medidas adotadas como forma de manutenção e garantia de direitos à população, que perdura durante a pandemia: o acesso aos aplicativos de celulares para requerer Auxílio Emergencial; a adoção da telemedicina por médicos em todo o país, devidamente regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina; os registros de boletins de ocorrência policial por meio eletrônico; as aulas, no formato à distância, fazendo uso das novas tecnologias para acesso aos recursos didáticos; entre tantas outras medidas.

Pretende-se deter, com essa análise, neste último ponto, como forma de refletir sobre os desafios da educação em nosso país e a necessidade de investimentos tecnológicos e democratização do acesso à internet, como garantia dos direitos à educação de nossas crianças e adolescentes.

No Brasil, os investimentos em tecnologia nas escolas públicas nunca foram satisfatórios, a prova está aí, diante das dificuldades que o país encontra para lidar com a situação das aulas para os alunos da educação básica, sendo que muitas redes de ensino municipal e estadual ainda estão paralisadas, outras estão “engatinhando” no processo de adaptação de aulas on-line, porém grande parte delas vai esbarar em um outro problema, o da exclusão digital.

Os dados da exclusão digital são preocupantes, uma vez que segundo a Fundação Getúlio Vargas, descritos no MAPA DA INCLUSÃO (2012), o Brasil está na 63ª posição, com 33%de pessoas conectadas na rede, entre os países que foram mapeados.

Quando o assunto é a conectividade dos alunos, a pesquisa mostra que entre os que frequentam a escola, apenas 33,51% possuem computadores ligados à internet. Isso nos mostra que não se conseguirão resultados satisfatórios na educação enquanto não se fizerem investimentos na democratização do acesso à internet e em novas tecnologias.

A realidade do país em relação à educação é a de muitas escolas sucateadas, sem nenhum recurso tecnológico presente no ambiente escolar; a maioria das escolas não possui salas de vídeo/multimídia ou salas de informática para fomentar o uso de práticas didáticas e metodologias ativas; escolas que sequer possuem acesso à internet ou computadores disponíveis aos alunos ou professores para pesquisas; projetos, como rádio escolar ou jornais produzidos pelos alunos, dentre tantas outras medidas que poderiam ser utilizadas para proporcionar melhores condições de aprendizagem inexistem.

Em tempos comuns de aula presencial, não era difícil encontrar um professor que, após dedicar-se horas preparando uma aula lúdica, com uso de recursos tecnológicos, chegava em sala de aula e ali não conseguia executar seu plano de aula, em razão da carência ou mesmo da ausência de condições mínimas estruturais e tecnológicas para execução de tal atividade. Ora faltava um notebook, ora faltava um projetor de slide, ou até mesmo uma tomada que funcionasse dentro da sala de aula para ligar tais aparelhos. São desafios que precisam ser superados, urgentemente.

Fala-se muito em tecnologia da informação no ambiente escolar e em investimentos tecnológicos, contudo, a realidade brasileira, no que tange ao uso da tecnologia no processo de educação, ainda é precária. Segundo levantamento realizado pelo IEDE- Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional, no ano de 2015, apenas 28,3% dos estudantes brasileiros afirmaram ter acesso a computadores conectados à internet nas escolas. Segundo esse mesmo levantamento, o Brasil tinha, na época, a segunda pior conectividade nas escolas, o que é preocupante.

Por isso, colocar o ensino EaD na educação básica de forma impositiva, sem que primeiramente haja investimentos em políticas públicas de inclusão, poderá trazer prejuízos a milhares de crianças e adolescentes, pois tal processo não será capaz de contemplar 100% do alunado, grande parte vítima de exclusão digital no país. Segundo o IBGE (2016), 51% dos brasileiros ainda não estão incluídos no mundo digital, ou seja, mais da metade da população, isso implica dizer que, no atual momento, a adoção do ensino EaD não será eficaz e estará excluindo do processo de aprendizagem uma grande parcela de alunos, que já vive em situação de vulnerabilidade socioeconômica, agravando-se mais ainda os inúmeros problemas sociais existentes em nosso país, cujos reflexos podem até não serem perceptíveis a curto prazo, mas é certo que um dia eles refletirão na sociedade.

No mais, o acesso à internet, atualmente, é um direito universal, declarado pela Organização das Nações Unidas – ONU, em 2011, sendo a internet um direito fundamental do ser humano. Portanto, não se pode achar que aqueles que não possuem acesso à internet ou um dispositivo compatível para acesso às ferramentas sejam obrigados a providenciar estes meios como condição para sua integração ao processo de ensino utilizado no país, sendo que, por se tratar de um direito fundamental aos seres humanos, caberia ao Estado a garantia desses direitos e não privar os indivíduos deles.

Vivemos em uma Era tecnológica, onde nossos alunos nasceram manuseando um celular, contudo, a realidade é assimétrica em relação aos professores, pois muitos deles não cresceram neste contexto e tiveram que se adaptar de forma brusca a muitas situações, diante das condições de isolamento social.

Mesmo após o encerramento do período de isolamento social, e com o retorno das aulas presenciais, não quer dizer que não precisaremos mais dos conhecimentos tecnológicos, pois agora é que eles deverão ser aplicados, já que a educação híbrida será uma realidade mais presente em nosso país.

Será necessário vencer muitos desafios, dentre os quais: um alto investimento em inovações tecnológicas; serviços como assessorias de startups, que se dedicam a auxiliar escolas fornecendo um leque de alternativas pedagógicas e tecnológicas para melhorar o processo ensino-aprendizagem; qualificação contínua dos docentes na área das novas Tecnologias de Informação e Conhecimento; adoção de plataformas virtuais de gestão e monitoramento de resultados pedagógicos; aquisição de equipamentos digitais para uso nas escolas; democratização do acesso à internet.

REFERÊNCIAS

Artigo por Paula Pedroza. Disponível em: https://digitalks.com.br/artigos/o-que-e-inclusao-digital-e-em-que-estagio-estamos-no-brasil/. Acesso em: 06 abr. 2020.

Folha de Londrina. Disponível em:  https://www.folhadelondrina.com.br/cadernos-especiais/uso-de-tecnologias-nas-escolas-ainda-e-precario-1001410.html. Acesso em: 06 abr. 2020.

Câmara dos Deputados. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2198615. Acesso em: 06 abr. 2020.

Disponível em: https://www.leiaja.com/coluna/2017/11/14/inclusao-digital-no-brasil-ainda-e-um-desafio Acesso em: 06 abr. 2020.

https://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2011/06/onu-declara-o-acesso-internet-como-direito-universal.html. Acesso em: 06 abr. 2020.

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/28/Os-desafios-de-ensinar-crianças-em-casa-na-quarentena.  Acesso em: 06 abr. 2020.

https://www.infoescola.com/noticias/homeschooling-pratica-de-educacao-domiciliar-ainda-nao-e-regulamentada-no-brasil/. Acesso em: 06 abr. 2020.

DECRETO Nº 9.057, DE 25 DE MAIO DE 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/d9057.htm. Acesso em: 07 abr. 2020.

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. LDB. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art32%C2%A74.

Guia COID-19 – Educação e Proteção de crianças e adolescentes: Tomadores de decisão do poder público, em todas as esferas federativas. Disponível em:   https://plan.org.br/wp-content/uploads/2020/03/COVID-19_Guia2_FINAL.pdf.

Guia COID-19 – Educação e Proteção de crianças e adolescentes: comunidade escolar, família e profissionais da educação e proteção da criança e adolescente. Disponível em: https://plan.org.br/wp-content/uploads/2020/03/COVID-19_Guia1_FINAL.pdf.

Fundação Getúlio Vargas. Mapa da Inclusão Digital. Coordenação Marcelo Neri. Rio de Janeiro. FGV. CPS. 2012.

Imagem de destaque: Armthele/Pixabay

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