A Geografia possui imenso potencial de ação política e exercício prospectivo de cunho transformador, por meio de seu entendimento enquanto uma filosofia das técnicas, como propõe a obra de Milton Santos. Ao dar aulas de Geografia na educação básica e pública, vivo da segurança interior no que faço, errando ou não, assim como das fundamentais parcerias para qualquer triunfo. Certo é que tudo está em movimento e que a educação é sempre um movimento plural: seja na sala de aula, ou não. Educar pressupõe disposição de viver com seres diversos e reconhecê-los igualmente, cultivando suas potências em seus desenvolvimentos. Enquanto educadora, sustento no amor as lutas pela defesa da biodiversidade e combate às variadas desigualdades. Ao estudar a linguagem cartográfica dialógica e buscar meios de resistir coletivamente ao duplo processo de colonialismo/racismo, defendo o enfrentamento constante da falsa universalização de uma humanidade cindida, mantida por uma cultura excludente, produzida pela ideologia ocidental, desde a formação socioespacial dos diferentes Estados Nacionais, assim como de suas instituições. Pobre como uma monocultura, esse modelo é ainda mais estéril e covarde para os povos colonizados. Porém, continuar estudando me faz entender, principalmente ao ler as obras de Frantz Omar Fanon, que é o colonizador que se desumaniza ao lançar mão de tanta violência em seu modo de existir no mundo: perde sua humanidade e nega tudo a quaisquer outros. Essa cultura única insiste em se reproduzir no cotidiano e na organização hierárquica do espaço e do currículo escolar. Ao se pretender imutável tal qual se apresenta, tende a desencorajar qualquer união e engajamento, sobretudo na era neoliberal contemporânea, de extrema individualização alienante. Uma educação escolar que seja pensada e cultivada de forma popular, democrática e inclusiva visa o efetivo êxito de todos os envolvidos, mas demanda coletividade dentro da escola, com as famílias e também a abertura do espaço escolar para moradores do local. Conhecer as famílias permite, no geral, compreender melhor os estudantes e saber respeitar seus modos viver e de lutar. Mas é preciso avançar, ao estudar e vivenciar todos esses saberes dentro da escola, com disputa curricular por diversidade, fortalecimento dos Conselhos Escolares e real democratização desde as concepções dos Projetos Políticos Pedagógicos, espera-se que a organização social transforme as deliberações coletivas em políticas públicas. Sou bacharel, licenciada e mestre pela Universidade de São Paulo, hoje professora efetiva do município de Florianópolis e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina.
Contato: aline.bittencourt@prof.pmf.sc.gov.br