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Arte e Desvio: Como psiquiatrização do discurso prejudica o ensino da literatura

Rafaela Vianna

Rafaela Faria Vianna

Rafaela Faria Vianna é graduada em Letras pela UFMG e pós-graduanda em Literatura Comparada pela mesma instituição. Em 2019, morou por seis meses em Paris, na França, onde cursou um semestre de intercâmbio na Universidade Paris 3 – Sorbonne. Seu trabalho de conclusão de curso, sob a orientação da Prof.Dra Márcia Maria Valle Arbex, foi desenvolvido na área de Literatura Moderna e Contemporânea, com foco em Literatura Francesa e Comparada e defendido em novembro de 2020. Ingressou no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG em maio de 2021, no qual desenvolve atualmente uma pesquisa na área de Teoria da Literatura e Literatura Comparada, cujo corpus é formado por obras das escritoras Clarice Lispector e Marguerite Duras, sob orientação da Prof. Dra. Maria Juliana Gambogi Teixeira.

Há uma tendência do discurso clínico contemporâneo de enquadrar as diferenças, percebidas no âmbito da escola, como patologias, de acordo com Michele Kamers. O objetivo deste breve ensaio é mostrar como essa onda “medicalizante” pode ser prejudicial ao ensino da literatura, uma vez que enquadra tudo que é desviante de uma suposta “norma” como patologia, reprimindo, assim, impulsos criativos essenciais para estabelecer um contato profundo e significativo com a obra de arte no ambiente escolar.

Para sustentar tal hipótese, faz-se primeiramente um breve histórico da associação entre a doença mental e a literatura, que remonta à Antiguidade. Em seguida, será o momento de  interrogar sobre o conceito de normalidade difundido por esse discurso “medicalizante”, com base no artigo “A fabricação da loucura na infância: psiquiatrização do discurso e medicalização da criança”, de Michele Kamers e nas reflexões de Michel Foucault em História da Loucura. Finalmente, essas reflexões serão associadas a afirmações sobre o ensino, feitas por Freud em “O interesse educacional da psicanálise”, de modo a construir uma relação entre os textos aqui estudados e a prática educacional de literatura.

LITERATURA E DESVIO PSÍQUICO: DUAS FACES DA MESMA MOEDA?

Em primeiro lugar, tem-se de traçar um histórico da associação entre patologias mentais e a atividade literária, não com o objetivo de estetizar esse tipo de doença, mas para ressaltar que existe essa relação histórica e tentar analisar o que ela significa no âmbito educacional. Embora extremamente ligada à noção romântica da genialidade do artista, essa ideia tem raízes ainda mais antigas, na própria cultura grega. Segundo Jacyntho Lins Brandão, “a loucura nunca deixou de ser sentida na Grécia como uma doença sagrada” (LINS BRANDÃO, 1990, p. 155). Ora, a associação da doença mental ao sagrado abre espaço para uma valoração positiva daquela, apesar de seu caráter patológico. Pigeaud menciona essa contradição, analisando as figurações da melancolia ao longo da história:

[…] o melancólico é esse indivíduo prostrado, abatido, com o metabolismo lentificado, silencioso, entorpecido. Que relação pode haver entre o artista, o criador, o “gênio”, como se sustentou? Seria preciso que os gregos fossem loucos para ver no mesmo ser qualidades tão opostas! (PIGEAUD, 2009, p.150).

Assim, a doença, mesmo no momento em que ainda é majoritariamente tratada como castigo divino contra uma comunidade (cf. Sontag), já é simbolizada como uma experiência diferenciada da dor humana e, nesse sentido, análoga à atividade do artista. Essa analogia se reforça no Romantismo, momento histórico-literário em que a imagem do gênio de fato se cristaliza como exemplar da experiência artística.

Ora, é possível pensar que essa valorização da melancolia está diretamente ligada à difusão, na modernidade, do que a própria Susan Sontag batiza de “estética do silêncio”, em outro ensaio. Segundo ela, a relação entre arte e consciência se torna cada vez mais complexa, uma vez que há um padrão valorativo que busca na arte um antídoto para a consciência:

Negando que a arte seja simples expressão, o mito mais novo relaciona a arte à necessidade ou capacidade da mente para a autoalienação. A arte deixa de ser entendida como a consciência que expressa e, portanto, implicitamente afirma a si própria. Ela não é a consciência per se, mas, ao contrário, seu antídoto, que deriva do âmago da própria consciência. (Os padrões valorativos gerados por tal versão do mito mostraram-se muito mais difíceis de ser alcançados.). (SONTAG, 2015, p.7).

Também Julia Kristeva, em seu livro Soleil Noir: Dépression et mélancolie, aborda a relação entre a modernidade literária e doenças mentais:

Nós, civilizações, sabemos agora que não somente somos mortais, como proclamava Valéry depois de 1914, mas que nós podemos provocar nossa própria morte. Auschwitz e Hiroshima revelaram que a “doença da morte”, como dizia Marguerite Duras, constitui nossa intimidade mais dissimulada. […] Uma crise formidável do pensamento e da fala, crise da representação, manifestou-se […] o impacto das forças destrutivas nunca apareceu como tão incontestável e tão imparável como hoje, fora e dentro do indivíduo e da sociedade. A destruição da natureza, das vidas e dos bens se desdobra em uma recrudescência, ou simplesmente em uma manifestação mais latente, das desordens cujos diagnósticos a psiquiatria refina: psicose, depressão, mania, borderline, falsas personalidades, etc. (KRISTEVA, 1987, p. 229, tradução nossa).[1]

Ainda segundo Kristeva, a literatura, como resposta a esse momento, confina-se aos limites da linguagem, o que desemboca em uma tentação à estética do Nada — do silêncio:

Uma das maiores questões da literatura e da arte está, de agora em diante, situada na invisibilidade da crise que afeta a identidade da pessoa, da moral, da religião ou da política. Crise, ao mesmo tempo religiosa e política, ela encontra a sua tradução radical na crise da significação. A partir de agora, a dificuldade de nomear desemboca não mais na “música das letras” (Mallarmé e Joyce eram fiéis e estetas), mas no ilogismo e no silêncio. (KRISTEVA, 1987, p. 230, tradução nossa).[2]

Ora, aqui, nos confrontamos com a mesma noção presente no artigo já mencionado de Sontag, “A estética do silêncio”, no qual ela destaca a relação entre o rompimento moderno da linguagem e a tentação da arte de caminhar em direção ao silêncio, aos limites da consciência e, possivelmente, à própria loucura:

Quão literalmente o silêncio figura na arte?

O silêncio existe como uma decisão — no suicídio exemplar do artista (Kleist, Lautréamont), que desse modo testemunha que foi “demasiado longe”, e nas já mencionadas renúncias modelares à vocação artística.

O silêncio também existe como uma punição (autopunição) — na loucura exemplar de artistas (Hölderlin, Artaud) que demonstram que a própria sanidade pode ser o preço da violação das fronteiras aceitas da consciência e, com certeza, nas penalidades (que vão da censura e da destruição física das obras de arte às multas, ao exílio, à prisão do artista) impostas pela “sociedade” face ao inconformismo espiritual ou à subversão da sensibilidade do grupo, por parte do artista. (SONTAG, 2015, p.10).

Kristeva, para aprofundar sua análise dessa estética que, segundo ela, caminha para uma glorificação do Nada e para uma visão fatal do mal-estar, analisa a obra de Marguerite Duras, escritora francesa da segunda metade do século XX. Segundo a filósofa, na obra de Duras, “A melancolia se torna o motor secreto de uma nova retórica: trata-se dessa vez de seguir o mal-estar passo a passo, quase que clinicamente, sem jamais o superar.” (KRISTEVA, 1987, p. 232, tradução nossa)[3]. Chama a atenção na análise de Kristeva a insistência no caráter não catártico da obra da escritora, que, segundo a ensaísta, é violenta e não apresenta nenhuma saída para a depressão e a melancolia: “Sem cura nem Deus, sem valor nem beleza além daquela da própria doença considerada no lugar de sua ferida essencial, jamais, talvez, a arte foi tão pouco catártica.” (KRISTEVA, 1987, p. 235, tradução nossa)[4].

Assim, Kristeva vê na escrita durasiana um beco sem saída da doença mental, que representa uma apoteose da crise da literatura da qual falavam Blanchot e Valéry:  “Sem catarse, essa literatura encontra, reconhece, mas também prolonga o mal que a mobiliza. Ela é o inverso do discurso clínico.” (KRISTEVA, 1987, p. 235, tradução nossa)[5]. Nesse sentido, embora valorize o imenso poder da narrativa durasiana, justamente por ela enfrentar de forma direta o “mal que a mobiliza”, Kristeva identifica nessa abordagem da melancolia pela literatura algo de paralisante. É justamente esse elemento paralisante que Sontag denuncia no que ela batiza “estética do silêncio”:

A arte, concebida como um projeto espiritual, não é uma exceção. Como réplica abstrata e fragmentada do niilismo positivo exposto pelos mitos religiosos radicais, a arte série de nosso tempo deslocou-se acentuadamente na direção das mais cruciantes inflexões da consciência. É compreensível que a ironia seja o único contrapeso possível a esse uso grave da arte como arena para a ordália da consciência. A perspectiva presente é a de que os artistas continuarão a abolir a arte, apenas para exumá-la em uma versão mais retraída. Enquanto a arte resistir sob a pressão da interrogação crônica, parecerá desejável que algumas das questões tenham uma certa qualidade espirituosa. (SONTAG, 2015, p.31).

LOUCURA E RACIONALIDADE: COMO O DESVIO É CONSTRUÍDO?

Essas reflexões servem para perceber que há algo do desvio próprio ao discurso literário — e à arte de modo geral, mas sobretudo moderna — que confina com o desvio à normalidade psíquica, ou ao menos àquilo que é construído como tal. Afinal, é importante lembrar que os conceitos de loucura e de sanidade são histórica e ideologicamente construídos, como coloca Michel Foucault em História da Loucura. Nesse livro, o filósofo situa a evolução do conceito de loucura como intrínseco à racionalidade: nesse sentido, o que percebemos como aquilo que escapa à razão é, na verdade, construído nos limites e nos padrões dela:

Pouco a pouco, a loucura se encontra desarmada, e os mesmos tempos deslocados; investida pela razão, ela é como se fosse acolhida e plantada por ela. Esse foi, portanto, o papel ambíguo desse pensamento cético, ou melhor, dessa razão tão vivamente consciente das formas que a limitam e das forças que a contradizem: ela descobre a loucura como uma de suas próprias figuras — o que é uma maneira de conjurar tudo que pode ser poder exterior, hostilidade irredutível, signo de transcendência; mas, ao mesmo tempo, ela coloca a loucura no cerne de seu próprio trabalho, designando-a como um momento essencial de sua própria natureza. […] Agora, a verdade da loucura está diretamente ligada à vitória da razão, a seu domínio definitivo, pois a verdade da loucura é a de ser interior à razão, de ser uma figura desta, uma força e uma espécie de necessidade momentânea para que esta se garanta mais de si mesma. (FOUCAULT, 1972, p.46-47, tradução nossa).[6]

Isso nos leva a concluir que todo olhar em relação a patologias mentais se constrói em um discurso que se autodefine racional e que fabrica os desvios à normalidade também dentro de uma perspectiva limitada, de forma a “domesticar” tudo aquilo que lhe escapa. Nesse sentido, a medicalização excessiva de crianças e adolescentes em idade escolar aparece como uma consequência natural desse discurso clínico da domesticação da diferença, enquadrada como patologia:

Essa lógica instaurada na Modernidade, a ilusão de controle daquilo que Freud chama de impossibilidade e Lacan de impossível, nos parece ser o mecanismo que torna o uso da medicação como a grande promessa do século XXI. Trata-se de um dispositivo de nomeação do mal-estar, sua classificação e apresentação do fármaco específico para combatê-lo. (KAMERS, 2013, p.162).

Cabe ressaltar, contudo, que não é o objetivo neste trabalho descartar de todo esses diagnósticos, ou questionar a validade dos psicofármacos: eles possuem, de fato, um papel importantíssimo no tratamento de muitas doenças. Todavia, a sua generalização — sobretudo no quadro escolar — aponta para uma excessiva patologização de processos naturais e essenciais do comportamento humano. O impulso e a melancolia, dentre outras características valorizadas negativamente no processo de desenvolvimento do aluno, têm o seu lugar na educação, sobretudo naquela que objetiva levar em conta o desejo do sujeito e proporcionar-lhe um ambiente propício para o contato com aquilo que há de mais belo no desvio à “normalidade” racional: a arte.

Além disso, as considerações de Kristeva sobre a particularidade do discurso, ou melhor, do antidiscurso da arte e da civilização contemporâneas, são essenciais para pensar essa “crise dentro da crise” que é o adolescer na contemporaneidade. Nesse sentido, os sintomas apresentados por nossos alunos são, não raro, manifestações valiosas de uma ordem representativa em colapso e, em vez de serem silenciados e domesticados, devem ser ouvidos e canalizados para a construção de uma sensibilidade individual e social em relação aos males que os cercam:

Essa tentativa de apagamento do Real, desse resto implicado em todo ato educativo (Lajonquière, 1999), poderia ser pensado como a substituição do significante loucura, enquanto representante da representação da relação do homem com seus fantasmas e com seu impossível, pelo significante doença mental, que consiste em uma forma de neutralização e apagamento da dimensão da loucura, da dimensão pulsional do sujeito, a fim de que a sociedade possa prever para cada sujeito um modo de neutralização que lhe convém (Foucault, 2010). (KAMERS, 2013, p.162).

Nesse sentido, esse “impossível” que a patologização do discurso tenta domesticar confina com o “impossível” da arte e, se adotarmos o raciocínio de Kristeva e de Sontag, sobretudo da arte moderna. É justamente no furo, no resto, que se constrói uma relação com esses fantasmas humanos, o que, historicamente, confina com a experiência estética no que ela tem de mais particular e valioso.

Freud aborda esse risco de patologização de comportamentos naturais, no texto “O interesse educacional da psicanálise”, e ressalta como a não repressão desses impulsos pode ajudar o educador a construir o caráter do aluno:

E a psicanálise pode também demonstrar que preciosas contribuições para a formação do caráter são realizadas por esses instintos associais e perversos na criança, se não forem submetidos à repressão, e sim desviados de seus objetivos originais para outros mais valiosos, através do processo conhecido como “sublimação”. Nossas mais elevadas virtudes desenvolveram-se, como formações reativas e sublimações, de nossas piores disposições. A educação deve escrupulosamente abster-se de soterrar essas preciosas fontes de ação e restringir-se a incentivar os processos pelos quais essas energias são conduzidas ao longo de trilhas seguras. Tudo o que podemos esperar a título de profilaxia das neuroses no indivíduo se encontra nas mãos de uma educação psicanaliticamente esclarecida. (FREUD, 2013, p. 2938).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Da mesma forma que não é preciso salvar a literatura de uma certa dor psíquica por vezes paralisante, não é necessário “curar” os nossos alunos de todos os incômodos — que, muitas vezes, são mais nossos do que deles: é justamente no desvio, no furo, que é possível construir uma educação voltada à arte e à experiência estética como vivência excepcional, que é enquadrada pela racionalidade, mas que sempre escapa a ela. Nesse sentido, adotar um discurso menos clínico e mais individual sobre a vivência de cada aluno é essencial para construir um ensino de literatura que faça sentido para o aluno e que consiga, ao invés de transmitir saberes estanques, incentivar a criação de uma sensibilidade artística, essencial para a própria construção da subjetividade e para o que Freud chama de “sublimação”.

É claro que, na arte como na educação, e sobretudo na educação sobre a arte, sempre haverá o impossível que escapa ao processo de transmissão. Todavia, reconhecer esse vazio da representação, esse ponto em que o discurso falha, é essencial para ensinar a lidar com a particularidade do estético e para incentivar o aluno a construir uma relação, senão catártica, ao menos bela e enriquecedora com a literatura e a arte em geral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Jacyntho Lins. Doentes, doença, médicos e medicina em Luciano de Samósata. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, Campinas, Série 2, 2(2): 145-164, jul-dez 1990.

FOUCAULT, Michel. Histoire de la folie à l’âge classique. Paris: Éditions Gallimard, 1972.

FREUD, Sigmund. “O interesse educacional da psicanálise”. In: Obras Completas: Volume XIII. Imago: Edição Standard, 2013.

KAMERS, Michele. A fabricação da loucura na infância: psiquiatrização do discurso e medicalização da criança. Estilos clin., São Paulo, v. 18, n. 1, jan./abr. 2013, 153-165.

KRISTEVA, Júlia. L’infirmité de la douleur. In: Soleil noir: dépression et mélancolie. Paris: Éditions Gallimard, 1987.

PIGEAUD, Jackie. Metáfora e Melancolia: ensaios médico-filosóficos. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio/Contraponto, 2009, p. 135-152; 173-199.

SONTAG, Susan. A vontade radical. Trad. João Roberto Martins Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 10-43.

 

[1]“Nous autres civilisations, nous savons maintenant que non seulement nous sommes mortelles, comme le proclamait Valéry après 1914, mais que nous pouvons nous donner la mort. Auschwitz et Hiroshima ont révélé que la “maladie de la mort”, comme dirait Marguerite Duras, constitue notre intimité la plus dissimulée. […] Une formidable crise de la pensée et de la parole, crise de la représentation, s’est en effet manifestée […] la puissance des forces destructrices n’est jamais apparue aussi incontestable et aussi imparable comme aujourd’hui, au-dehors comme au-dedans de l’individu et de la société. La destruction de la nature, des vies et des biens se double d’une recrudescence, ou simplemente d’une manifestation plus patente, des désordres dont la psychiatrie raffine le diagnostic: psychose, dépression, manie, borderline, fausses personnalités, etc.”

[2] “Un des enjeux majeurs de la littérature et de l’art est désormais situé dans cette invisibilité de la crise qui frappe l’identité de la personne, de la morale, de la religion ou de la politique. Crise à la fois religieuse et politique, elle trouve sa traduction radicale dans la crise de la signification. Désormais, la difficulté de nommer débouche non plus sur la ‘musique des lettres’ (Mallarmé et Joyce étaient des croyants et des esthètes), mais sur l’illogisme et le silence.”

[3] “La mélancolie devient le moteur secret d’une nouvelle rhétorique : il s’agira cette fois de suivre le mal-être pas à pas, cliniquement presque, sans jamais le surmonter.”

[4] “Sans guérison ni Dieu, sans valeur ni beauté autre que celle de la maladie elle-même prise au lieu de sa brisure essentielle, jamais, peut-être, art ne fût aussi peu cathartique.”

[5] “Sans catharsis, cette littérature rencontre, reconnaît, mais aussi propage le mal qui la mobilise. Elle est l’envers du discours clinique”

[6]Tradução minha do original: “Peu à peu, la folie se trouve désarmée, et les mêmes temps déplacés; investie par la raison, elle est comme accueillie et plantée en elle. Tel fut donc le rôle ambigu de cette pensée sceptique, disons plutôt de cette raison si vivement consciente des formes qui la limitent et des forces qui la contredisent: elle découvre la folie comme l’une de ses propres figures – ce qui est une manière de conjurer tout ce qui peut être pouvoir extérieur, irréductible hostilité, signe de transcendance; mais en même temps, elle place la folie au coeur de son propre travail, la désignant comme un moment essentiel de sa propre nature. […] C’est que maintenant la vérité de la folie ne fait plus qu’une seule et même chose avec la victoire de la raison, et sa définitive maîtrise : car la vérité de la folie, c’est d’être intérieure à la raison, d’en être une figure, une force et comme un besoin momentané pour mieux s’assurer d’elle-même.”

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