Choral Gb73347abd 640

A experiência de interação MÚSICA/TEATRO no PIBID

A Arte, no meio educacional brasileiro, tem enfrentado desafios para sua consolidação como campo de conhecimento e, apesar de alguns avanços já alcançados, há ainda um caminho a ser construído nesse sentido. Ações advindas de políticas públicas, ainda que esparsas, bem como o gradativo surgimento das licenciaturas nas diferentes áreas artísticas são resultantes de esforços das classes artística e docente e têm contribuído para o crescimento desse campo do saber no âmbito da educação básica (ALVARENGA e SILVA, 2018).

Nesse contexto, o PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, ao promover o contato entre a educação universitária/licenciatura e a educação básica, constitui-se em valiosa oportunidade de valorização da Arte no meio educacional, uma vez que insere práticas e reflexões que promovem a superação da cultura do entretenimento e da recreação, papéis que, de um modo geral, são atribuídos ao fazer artístico nos espaços escolares. 

O núcleo PIBID Música/Teatro, no período entre agosto de 2018 e janeiro de 2020, teve como centro de sua ação pedagógica a proposta interartes, não somente pela própria configuração mista do grupo, como pelo interesse nesse tipo de proposição, acrescido do fato de que a maioria dos professores de Arte – supervisores/as do núcleo – possuía graduação em Artes Visuais, sem experiência anterior mais aprofundada com a Música ou com o Teatro. Dessa forma, partindo dos planejamentos dos professores/as supervisores/as e da realidade escolar vivenciada, o núcleo optou pela experimentação e pelo desenvolvimento coletivo de possibilidades de interação entre as linguagens artísticas. Foi um caminho desafiador, que trouxe surpreendentes conquistas e também momentos frustrantes, mas todos, sem dúvida, muito ricos e plenos de aprendizado para todas e todos os envolvidos. 

Neste texto, estão registradas as vozes dos bolsistas e dos supervisores no âmbito de descrição de cada experiência. As coordenadoras participaram de perto e acompanharam a escrita coletiva, propondo questões e reflexões.

A experiência do PIBID Música/Teatro no Centro Pedagógico da UFMG (CP/UFMG)

Compreendendo a formação humana como formação da sensibilidade, seja ela estética, ética ou política, o núcleo de Arte do Centro Pedagógico da UFMG assume a responsabilidade de fomentar a arte e a cultura na vida de seus estudantes por meio de princípios inovadores, coerentes com a proposta da BNCC – Base Nacional Comum Curricular –  e com a sua posição de Colégio de Aplicação¹ comprometido com a formação de crianças, adolescentes, assim como de professores em formação inicial ou continuada. Nesse sentido, oferta a seus estudantes cinco linguagens artísticas na grade curricular do ensino fundamental: Artes Visuais, Audiovisual, Dança, Música, Teatro, além das Artes Integradas, como espaço interdisciplinar entre as artes e com diversos saberes. Em todas elas, conta com professores que possuem formação acadêmica na área em que atuam e, ainda, com salas especializadas para o desenvolvimento das aulas. Para além da oferta de seis unidades temáticas, na parte diversificada do currículo, desenvolve, também, no formato de GTDs – Grupos de Trabalho Diferenciados, atividades direcionadas à inclusão, como o “Dança e Potencialidades”, “Musicoterapia na Escola”, assim como à formação de corpos artísticos, como Grupos de Teatro e de Música, que se apresentam regularmente em eventos internos e externos e já foram objetos de investigações e apresentações em eventos científicos, integrando ensino, pesquisa e extensão. 

No ano de 2019, o Centro Pedagógico da UFMG recebeu 08 bolsistas do PIBID dos cursos de graduação em Música e Teatro. Como o ano letivo já havia se iniciado quando da chegada desses bolsistas, não foi possível que todos trabalhassem apenas com o professor supervisor Paulo Henrique Alves, da área de Música, uma vez que o CP recebe graduandos também de outros programas; assim, outros professores do Núcleo de Arte da escola também acolheram o grupo, o que contribuiu positivamente para uma grande variedade de projetos nos quais os pibidianos foram envolvidos. Buscaremos, a seguir, trazer de forma sintetizada, as principais ações realizadas por elas e eles no CP:

Grupo de música – Este grupo foi criado em 2018 pelos professores de Música Paulo Henrique e Evandro Menezes, com a proposta de fomentar as questões da performance musical na formação artística do 3º ciclo do ensino fundamental. Neste ano, o grupo foi formado como um GTD, composto por 18 alunos dos 8º e 9º anos. Os trabalhos realizados envolveram tanto o ensino de técnicas de instrumentos e canto, apreciação, aquisição de repertório do cancioneiro popular brasileiro, rodas de conversa acerca das produções e questões históricas associadas aos fonogramas, além das preparações e apresentações do Grupo de Música em datas do calendário escolar: Festa Junina e Festa da Consciência Negra. Neste grupo, um bolsista do PIBID desenvolveu trabalhos de arranjos musicais e também esteve à frente de ensaios de naipes instrumentais e vocais; participando, ainda, como instrumentista em diversos eventos da escola nos quais o grupo se apresentou.

GTD Coral Ofertado por três pibidianos do curso de Música, juntamente com o professor Paulo Henrique, a prática de canto coral para os alunos do 1º ciclo, contemplando uma faixa etária de cinco a oito anos, contou com 18 alunos na turma. Tendo em vista a noção contemporânea de ensino musical infantil por meio de jogos, brincadeiras e o “fazer musical”, procurou, durante as aulas, romper com o estereótipo do coro focado única e exclusivamente em resultados e apresentações de fim de ano. Proporcionou aos alunos uma experiência de musicalização construída por meio da expressão vocal, amadurecendo noções de afinação, desenho melódico, ritmo, movimento, dentre outros. Optou-se por um planejamento de aula que abrangeu exercícios de vocalização, respiração, movimentação, jogos musicais e, principalmente, o canto. Surpreendentemente para essa faixa etária, foi introduzido, com sucesso, noções de manossolfa (sistema de solfejo por meio de gestos manuais) e cânone em algumas aulas, que foram experiências muito enriquecedoras tanto para os alunos quanto para os bolsistas.

Esculturas sonorasEste projeto, idealizado pelo Prof. Cláudio dos Santos, de Artes Integradas, no primeiro semestre, consistiu na realização de esculturas sonoras feitas pelos alunos do 7º ano, inspiradas no trabalho do artista Walter Smetak. Foi utilizado o conceito de esculturas sonoras como encontros de objetos com códigos reconhecidos que resultam em um novo significado plástico para a imagem; sendo crucial que a peça produza sons que contribuam na percepção total da obra. Como resultado final, uma bolsista do PIBID, junto a um pibidiano voluntário, produziram uma catalogação (voltada para a futura produção de um livro) de imagens, entrevistas, textos e áudios, que tem como proposta discutir sobre o trabalho dos estudantes e a relação com o ensino-aprendizagem das artes integradas, ou seja, como as linguagens artísticas (plasticidades, teatralidades e musicalidades) dialogam e como conversam com as/os estudantes nesse projeto.

Produção de cenas teatraisNeste projeto, coordenado pelo professor Fernando Augusto (Teatro), estudantes do 7º ano do ensino fundamental foram estimulados a conhecer algumas maneiras de ser e se fazer teatro para que então pudessem experienciá-las na prática, desde as possíveis dramaturgias e roteiros até o figurino e iluminação. Como resultado, foram realizadas três cenas: uma de teatro fórum, na estética do teatro do oprimido de Augusto Boal; uma de teatro dramático e outra de teatro contemporâneo. Os alunos se mostraram extremamente ativos nas criações. Ficou bastante evidente para a bolsista e o professor parceiro a necessidade desses alunos de se expressarem; de trazerem para o diálogo relações de opressão como: racismo, bullying e violência nas favelas. Foram propostas diversas atividades, no formato de minioficinas, pela bolsista do PIBID, buscando trabalhar as temáticas discutidas em cada aula; e diariamente, no início de cada aula, jogos teatrais eram desenvolvidos com o grupo de alunos.

O teatro nas artes integradas No projeto sobre Música Eletrônica, idealizado pelo professor Cláudio dos Santos com os alunos dos 8º anos, as bolsistas do PIBID realizaram jogos teatrais utilizados como aquecimento para o trabalho com a Música, buscando a concentração, criatividade e presença dos participantes. No final do semestre, foi realizada uma festa na escola com as músicas produzidas pelos grupos, além de cartazes e desenhos que eles fizeram, promovendo a confraternização entre estudantes de diferentes turmas e a valorização de seus trabalhos artísticos. 

Contação de histórias afro-brasileiras Com as turmas dos 4º anos do ensino fundamental, além de exercitar a docência, os bolsistas do PIBID puderam também aprofundar os estudos sobre a ancestralidade. Foi desenvolvida a técnica da contação de histórias utilizando as de origem africana, enquanto o professor explicava a origem da música afro-brasileira, sendo tal conteúdo ancestral ensinado de maneira didática e a partir da oralidade. Para a Festa da Consciência Negra, em novembro, foi desenvolvida uma apresentação a partir dos contos africanos e da música afro-brasileira trabalhados em classe.

Jogos e brincadeiras musicaisTal projeto foi desenvolvido pelo professor Paulo Henrique (Música), junto aos alunos do primeiro ciclo, crianças de 6 a 9 anos, e propôs às crianças participarem da alegria do jogo, da brincadeira e da música para cantar, dançar, tocar, inventar e reinventar. O projeto explora os versos cantados, cantigas de roda, brincadeiras musicais e ritmos tradicionais. Além de contribuírem na aquisição de uma “atitude” musical, os jogos e brincadeiras se mostram também um campo fértil para promover a incorporação de elementos estruturais musicais, já que muitas das brincadeiras musicais que as crianças praticam versam justamente sobre o ritmo, a forma e o caráter da música, havendo espaço, inclusive, para improvisações. Neste projeto participaram tanto bolsistas da Música como também do Teatro. Foi muito interessante a participação dos pibidianos, pois cada um(a) deles(as) teve a chance de assumir, junto ao professor referência, a regência das atividades com os alunos; além disso, foram momentos muito enriquecedores para a formação de todos, uma vez que pudemos aprender e apreender inúmeros jogos cênico-musicais.

A experiência do PIBID Música/Teatro no Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG)

Durante o segundo semestre de 2019, os bolsistas do PIBID, estudantes da graduação em Teatro e da graduação em Música, integraram a equipe do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG). Sob a supervisão do professor Antonnione Franco Leone Ribeiro, o grupo acompanhou as aulas da disciplina Arte em turmas de 2º e 3º Ano do ensino médio. Além do processo observacional, propuseram atividades e fizeram intervenções nas aulas. 

O supervisor e o grupo de bolsistas identificaram um desinteresse inicial por parte dos alunos, originado, provavelmente, por questões estruturais do Instituto e de seu sistema educacional, que, na avaliação feita por eles, inibe os corpos e suas ações. Foram percebidos como dificultadores os seguintes tópicos: as barreiras de espaço físico geradas pela gestão destes, que dificultam a versatilidade das aulas; a falta de alguns recursos, como projetor multimídia e de salas específicas para a disciplina de Arte, que força improvisos e atrapalha os processos didáticos; certas formalidades pedagógicas que desestimulam atividades inovadoras, como a inviabilização pela gestão de datas e espaços para eventos artísticos; a propagação, entre professores junto aos alunos, de uma hierarquia entre as disciplinas em detrimento da Arte e da Educação Física; a falta de conhecimento de professores das demais disciplinas sobre o que é a Arte na educação e nas escolas de ensino básico e até mesmo o que são produções artísticas; a cultura estabelecida na instituição de total liberdade dos discentes para transitarem pelo espaço físico, saindo e entrando nas salas, o que dificulta que as classes tenham o número adequado de alunos e que exista uma regularidade nas atividades, pois a cada aula o público pode ser diferente; o recorrente pensamento materialista que gera uma busca exclusiva do discente por “pontos”, excluindo a Arte da sua área de interesse, já que é divulgado pela instituição como desnecessária para a aprovação no ano letivo.

A partir dessas constatações, a equipe concentrou seus esforços na criação de dispositivos para superar a passividade e o distanciamento dos discentes, tentando deixar as aulas ainda mais lúdicas e divertidas. Parte da equipe atuou nas turmas de ensino médio nos horários de aula e uma bolsista acompanhou os ensaios do Coral IEMG, regido pelo professor Sérgio Guimarães, contando com a participação do professor Antonnione Leone. Nas turmas que não puderam receber bolsistas, as mesmas atividades foram mantidas pelo professor Antonnione, com o intuito de harmonizar o trabalho entre todos os alunos.

Três das atividades se destacaram quanto ao envolvimento dos alunos e obtiveram bom feedback. A primeira delas foi conduzida pelos bolsistas de Música, usando tubos sonoros e compondo um arranjo para a música Asa Branca, de autoria de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Após explorarem o som de cada tubo, os alunos foram separados em grupos de mesma nota musical, experimentaram ritmos musicais variados, incluindo trechos de Asa Branca, canção que todos reconheceram depois de ouvir uma parte da letra e em seguida executaram por inteiro. Essa última etapa foi alvo de dedicação e comemoração do resultado final. Alguns disseram se sentir “um músico de verdade”. A equipe externou sua gratidão pela abertura e entrega dos discentes, visto que a atividade demandava muita disponibilidade corporal, prontidão e precisão, para que todos tocassem suas notas no momento e ritmo certo, formando uma atuação coletiva. Essa atividade foi muito bem-sucedida em algumas das turmas, conquistando a atenção e participação de um número expressivo de alunos. Entretanto, esse resultado não foi suficiente para determinar um envolvimento definitivo dos discentes com a Arte e a Educação, sendo que a aula em questão foi percebida pela grande maioria como um entretenimento. É inevitável argumentar que para redesenhar os valores de uma comunidade escolar são necessárias ações constantes e persistentes, logo, essa foi uma grande contribuição para o processo de sensibilização dos educandos. 

A segunda atividade foi conduzida pelas bolsistas de Teatro. Numa estrutura semelhante ao jogo de dança das cadeiras, o estudante que ficasse em pé no centro da roda exclamava “eu procuro alguém que…”, o complemento da sentença deveria ser relacionado ao seu gosto pessoal sobre o tema “arte”, como, por exemplo, “gosta de dançar” ou “de colorir”. Aquele que se identificasse deveria levantar e trocar de lugar, assumindo o centro. Nessa proposta era preciso manter o ritmo e estar em prontidão corporal para que o jogo continuasse dinâmico, o que se mostrou desafiador. O jogo envolveu escuta e respeito às opiniões, gostos e desgostos dos colegas. Nesse dia, uma das reflexões do alunado foi que mesmo convivendo todos os dias, juntos, eles desconheciam muitas informações sobre os colegas. Essa atividade contribuiu para a desinibição dos alunos, gerando um ambiente atrativo para eles durante o momento da aula. Em algumas das salas a atividade cativou os alunos a participarem das dinâmicas nas seguintes aulas de Artes. 

A terceira atividade foi realizada com o coral do Instituto. Foram propostas aulas de Teatro após os ensaios e bom número de coralistas participou desses encontros. As atividades tinham como objetivo explorar a sensibilidade expressiva e a disponibilidade corporal. Destacou-se a experiência proposta a partir da música “Oração” (2011), da “Banda mais bonita da cidade” (banda brasileira de MPB e Indie rock formada em 2009). Montou-se uma cena em que os cantores deveriam se relacionar performando a letra da música. Após esse momento, eles foram orientados a fechar os olhos e uma pessoa os colocou em locais diferentes da sala. Cada aluno com os olhos fechados poderia cantar a música que mais gostasse e as pessoas que estavam ouvindo deveriam identificar quem estava cantando. Apesar de o desejo de conquistar um desenvolvimento performático para as apresentações do coral ainda não ter sido totalmente alcançado, as intervenções da bolsista PIBID no grupo contribuíram para o entrosamento dos integrantes, melhor conhecimento do corpo e suas possibilidades rítmicas, respiratórias e cênicas. Isso resultou em um maior domínio das intenções vocais, faciais e corporais para com as sensações e sentidos da música interpretada. 

Diversas outras atividades, como a sonoplastia com percussão corporal, a criação de poemas ritmados, a exibição de vídeos de performance, música e dança, fomentaram o léxico artístico dos alunos. Essas experiências e informações contribuíram na elaboração do trabalho final para a disciplina Artes, que foi exposto no Encontro Cultural IEMG 2019, promovido pelos professores de Arte do Instituto.

Os alunos do 2º ano criaram cenas curtas teatrais e vídeos. As turmas dos 3º anos elaboraram performances de arte contemporânea. Todas essas criações seguiram diversos métodos de tempestade de ideias propostos pelo professor, e os bolsistas auxiliaram o desenvolvimento das ideias, estimulando os alunos. Em determinados momentos, a equipe sentiu necessidade de auxílio para que as obras não contivessem equívocos éticos. Destaca-se a roda de conversa com o músico e drag queen Junin, com a turma 2A, cujo tema da cena curta foi a dor de uma drag queen gerada pelo processo discriminatório.  

Os resultados observados contribuíram com o trabalho que o professor supervisor realiza no Instituto. Houve uma troca criativa com os bolsistas: de um lado, eles mostrando modos lúdicos de se trabalhar Música e Teatro e, de outro, o professor atribuindo isso à sua prática caracterizada por aulas interativas de História da Arte, estímulo ao pensamento crítico, análise contextual e capacidade de conhecimento das diversas linguagens, produções em audiovisual, material gráfico e periódicos, criação de performances, instalações, peças teatrais e poesias, visitas a museus e produção de eventos culturais. 

Ainda existe um descaso por parte de alguns discentes pelo espaço escolar, mas também da própria equipe docente, pedagógica e administrativa da instituição pela disciplina Arte. Os pibidianos foram desrespeitados certas vezes na instituição e tiveram seu trabalho impedido em alguns momentos, algo que levou o seu supervisor a ter severas discussões com seus gestores. Os eventos (feiras e mostras) propostos pelo professor supervisor e sua colega de disciplina, a professora Neide Aparecida Alberto, foram negligenciados e recorrentemente cancelados sem o conhecimento de seus organizadores. Esse cenário encontrado pelos bolsistas não parecia muito profícuo ao trabalho, tendo em vista o grande esforço que os professores de Arte da instituição demandam para conquistar seus alunos diariamente. Logo, a participação do projeto encontraria dificuldades para alterar essa questão de forma imediata, mas contribuiu muito para estimular os professores de Arte a continuarem suas pesquisas pedagógicas e didáticas para uma aula cada vez mais atrativa, dinâmica e interativa sem perder o valor da produção do conhecimento. 

A experiência do PIBID Música/Teatro na Escola Municipal Lídia Angélica

A vinda dos pibidianos para a Escola Municipal Lídia Angélica foi uma experiência nova e desafiadora, pois foi necessário abrir mão de alguns conteúdos comumente desenvolvidos nas aulas, isto para dar oportunidade aos bolsistas de experimentar e crescer enquanto profissionais em formação. Do ponto de vista da professora supervisora, permitir que pessoas que ainda não conhecem bem o trabalho docente se apropriem da sua sala de aula é delicado, pois, no final das contas, a responsabilidade pelos alunos e pelo processo de ensino é da professora supervisora.

Apesar dos desafios e da ansiedade trazidos por algo novo, a experiência foi positiva para todos os envolvidos: para os bolsistas, que tiveram apoio nesse momento de sua formação; para a professora supervisora, que é formada em Artes Plásticas e ampliou o conhecimento em outras linguagens da Arte, a Música e o Teatro; e para os alunos, que puderam vivenciar esses campos do conhecimento artístico. Para elaboração das aulas, ocorreram vários momentos de planejamento, troca de ideias e vivências, buscando uma experiência efetiva para os alunos da educação básica. Os temas foram escolhidos pela professora supervisora, almejando desenvolver habilidades e mudanças de olhar estético.

As atividades dos pibidianos iniciaram-se no ano de 2018 com um teatro musicado nos 6° anos, quando a turma foi separada em dois grandes grupos. Em um grupo, foram ensinadas técnicas de atuação pelos pibidianos do curso de Teatro e, no outro, práticas musicais com os pibidianos do curso de Música. 

Outra ação pedagógica desenvolvida foi o festival de curtas (vídeos). Em 2019, nos 9° anos, destacaram-se três temas que foram de grande impacto: Cor, teoria das cores, combinação e significado; Publicidade e Arte, em que pudemos analisar material publicitário e exercitar um olhar mais crítico; e Cinema, no qual retomamos os conteúdos de cor e publicidade, produzindo vídeos desenvolvendo produtos inventados pelos próprios alunos. Já nos 8° anos, os temas foram: parâmetros musicais e animação stop motion, nos quais se trabalhou a criação da ideia, escrita e elaboração do roteiro e confecção do vídeo.

Com os vídeos de animação resultantes nos 8° e 9° anos, foi realizado um festival em que foram premiadas as melhores produções do ponto de vista da aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula. Esse festival havia acontecido noutros anos e, em 2019, ocorreu sua terceira edição. Os resultados foram mais ricos nessa última edição, mais lapidados, pois, na preparação, os alunos passaram por conteúdos não somente de Artes Visuais, mas também das áreas de Teatro e Música. Por exemplo, antes da presença dos bolsistas, os vídeos não possuíam trilha sonora. Percebeu-se, também, que a maioria das ideias para a criação desses vídeos partiu de experiências em sala de aula, e os alunos se colocaram menos retraídos ao estarem diante de uma câmera, por terem participado de exercícios teatrais. Quanto às atividades desenvolvidas em sala de aula, estas serão descritas, a seguir, pelos bolsistas a partir de suas vivências.

Cores e a relação com os elementos cênicos Relacionamos o tema cores ao Teatro e realizamos encontros com temáticas que pudessem levar as/os estudantes à experiência com o tema. No primeiro encontro, os alunos e alunas foram estimulados a pensar em cores, objetos e momentos, por meio da escuta de quatro músicas instrumentais previamente escolhidas, com o intuito de transmitir atmosferas diferentes. Ao fim de cada música, eles descreviam as imagens, emoções, sentimentos e, principalmente, as cores que lhes vieram à mente. No segundo encontro, levamos as/os estudantes à sala de vídeo, com o ambiente previamente modificado. Ao entrarem na sala, se depararam com um refletor (fonte de luz artificial utilizada para iluminação cênica), que continha uma gelatina vermelha (folha de acetato translúcida colorida). Com o ambiente em tom avermelhado, alguns estudantes se manifestaram dizendo que a sala estava mais quente, trazendo memórias de outros espaços. Explicamos aquele objeto utilizado no Teatro e demonstramos as possibilidades de modificar as cores trocando as gelatinas ou sobrepondo uma à outra, transmitindo sensações e criando ambientes diversos. Além disso, a iluminação pode alterar a cor da roupa do ator e dos objetos cênicos, por isso as gelatinas devem ser escolhidas previamente para que as cores do espetáculo estejam relacionadas à história encenada. Dando continuidade ao estudo da percepção das cores, desenvolvemos uma atividade de prática corporal com os/as estudantes. Foi pedido a eles e elas que levassem para a aula objetos que lhes agradassem. No encontro seguinte, grupos foram formados para a criação de um cenário com os objetos trazidos. O passo seguinte foi fotografá-los, explorando diferentes ângulos.

Com o progresso desse processo de ensino e aprendizagem, especificamente, notamos que é possível engajar e atingir as pessoas que se encontram dentro da sala de aula de diferentes maneiras, promovendo o desenvolvimento da criatividade de forma singular e em grupo para a construção de um trabalho artístico, que seja expressivo e autêntico.

Notamos que essa experiência no PIBID Música/Teatro foi mais que enriquecedora nesse sentido, pois, além de criarmos as aulas, tivemos a oportunidade de pensá-las englobando campos das Artes que não estão costumeiramente presentes na maioria das escolas, tornando-as mais completas e potencializando o conhecimento que é transmitido.

Paisagem sonora e sonorização de uma história Começamos com uma aula geral sobre os parâmetros do som: timbre, duração, intensidade e altura. A aula foi planejada em torno de quatro atividades diferentes, cada qual para um desses parâmetros. Em sequência dos trabalhos, foi desenvolvida a atividade “Paisagem Sonora”, que tem como base o conceito desenvolvido pelo educador musical canadense Murray Schafer (1933-2021). Tal atividade consiste em pedir aos alunos que façam silêncio durante determinado tempo para que possam perceber e registrar todos os sons do ambiente (na própria sala de aula, outros espaços da escola, lugares externos, etc). Após esse momento de escuta, os alunos compartilham os sons registrados e são feitas perguntas para uma discussão sobre a paisagem sonora daquele local, como, por exemplo: “de onde vem esse som?”, “está perto ou longe?”, “foram percebidos mais sons da natureza, de objetos ou humanos?”, etc. Também foram retomados os conceitos dos parâmetros sonoros, analisando os sons e percebendo suas diferenças de timbre, intensidade, altura e duração. O objetivo foi desenvolver a percepção e sensibilizar os alunos em relação ao ambiente sonoro da escola e de outros diversos lugares, tendo o ambiente sonoro como fonte de informação, composição e conscientização (SCHAFER, 2012). Desse modo, as turmas foram preparadas para a próxima atividade e, também, para trabalhos futuros que envolveriam esses conceitos.

Todas essas atividades auxiliaram a construir a aquisição das habilidades e recursos necessários para o próximo passo – a sonorização de tiras em quadrinhos. A sonorização foi realizada em grupos, nos quais novas questões, como criação e aceitação coletiva de uma estética e a habilidade de trabalhar em equipe, se tornaram relevantes no processo. Após estruturar os sons, os alunos os reproduziram em apresentação ao vivo e, dessa maneira, houve um encontro interdisciplinar muito interessante entre a Música, as Artes Visuais e o Teatro.

Ainda no tema de sonorização e trilha sonora, houve uma atividade na qual trabalhamos a apreciação musical e a escolha de diferentes trilhas para algumas cenas de filmes. Essa atividade apresentou um potencial de expressão emocional interessante, tendo em vista que cada aluno sentiu e relacionou as músicas às cenas de um jeito particular, o que expõe o caráter subjetivo da Arte. Do mesmo modo, certas reações foram predominantes, como, por exemplo, uma música lenta com tonalidade menor muitas vezes evocou uma reação melancólica. No que diz respeito ao material apresentado pelos bolsistas, no contexto da atividade, selecionamos as trilhas sonoras do filme The Avengers (2012), um trecho da obra O Carnaval dos Animais – Aquarium (1886), do compositor Camille Saint-Saëns, e da obra As Quatro Estações – Primavera (1723), do compositor Antonio Vivaldi, entre outras.

Considerações Finais

O processo de construção das relações interartes no decorrer desta experiência foi profícuo para estudantes e professores/as envolvidos/as, porque solicitou reflexões e revisões de pensamentos e de propostas pedagógicas. Estudantes universitários/as enxergaram a escola como espaço de fazer e criar, bem como a área de Artes como lugar de sensibilização e elaboração do aspecto sensível da aprendizagem dos/as alunas/os da educação básica. Como conclusão, apareceu no discurso desses/as universitários/as a perspectiva de que o professor/a de Artes não está na educação básica como quem ensina técnicas, mas, sim, como quem desperta a percepção estética e o pensamento criador a partir da convivência com a Arte e suas áreas. Esse pensamento parece ter estimulado a atitude de buscar a parceria e a relação plural com os campos de conhecimento que estão na escola e que compõem o currículo da educação básica como forma de atender a formação integral e humanista de crianças e jovens. 

Não podemos dizer que alcançamos a plena realização de todas as ideias e propostas, e isto porque a escola também é um território de afirmação política, no qual as várias metodologias disputam espaço de experimentação e desenvolvimento. Podemos dizer e comemorar o fato de que todos saímos fortalecidos na perspectiva de ampliar o espaço da Arte na escola, nos valendo da união e interação das áreas, vendo-as como parceiras e complementares. Esperamos repetir a experiência no futuro próximo e com um PIBID fortalecido e ampliado!

___

  1. O Centro Pedagógico recebe estudantes da graduação de diversos cursos e programas institucionais, da UFMG e de outras universidades.

Referências

ALVARENGA, Valéria M.; SILVA, Maria Cristina R. F. Formação Docente em Arte: percurso e expectativas a partir da lei 13.278/16. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 43, n. 3, p. 1009-1030, jul./set. 2018.

SCHAFER, M. O Ouvido Pensante. SP: Editora UNESP, 2012.

Imagem de destaque: Imagem de Gustavo Rezende por Pixabay

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *