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Centenário Paulo Freire: celebrar, resistir e avançar!

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Débora Souza

Débora é graduanda em Gestão Pública na UFMG e bolsista no programa de extensão Pensar a Educação Pensar o Brasil.

e-mail: deborasouzago.1405@gmail.com

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Maria Inês de Oliveira Sousa

Débora é graduanda em Gestão Pública na UFMG e bolsista no programa de extensão Pensar a Educação Pensar o Brasil.

E-mail:ines.sol1@hotmail.com

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Luciano Mendes de Faria Filho

Pedagogo, mestre e doutor em educação, professor titular da UFMG, um dos Coordenadores do Pensar a Educação e membro do Portal do Bicentenário.

e-mail: lucianom@fae.ufmg.br

Ocorre, hoje, uma guerra no Brasil e, nela, as forças da vida lutam obstinadamente para evitar que as forças da morte façam mais estragos. Se, até há pouco tempo, essa visão nos pareceria dicotômica e maniqueísta, hoje, infelizmente, ela expressa a mais pura verdade. Depois de mais de 579 mil mortes e de o Presidente da República se colocar, mais uma vez, contra as políticas relativas à preservação da vida, não nos faltam elementos para a constatação de que estamos numa guerra, na qual a necropolítica se mostra na relação do governo brasileiro COM A população.

Nessa guerra, uma das principais trincheiras de resistência[1] é, sem dúvida, a educação. Alvo contínuo dos ataques das forças neoliberais após o Golpe de 2016, depois das eleições de 2018, a essas forças juntaram-se grupos reacionários que já vinham atuando no campo da educação. Ao desmonte das políticas públicas passou a se somar, então, o autoritarismo, a censura, a dilapidação do patrimônio público, os negacionismos de toda a ordem e a mentira como forma de governo.

Nesse processo, há uma contínua luta pelos sentidos da educação no espaço público. Quando o estatal é privatizado e dilapidado, há que se reinventar a escola pública, e esse tem sido o papel fundamental dos setores populares e das instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão. Não é por acaso, portanto, que, no centro dessa luta e dessas controvérsias, sobressaia-se a disputa pela memória da educação brasileira e pelo legado de seus autores fundamentais, dentre eles, seguramente, Paulo Freire.

Na última década, o ataque à escola pública e aos seus profissionais manifestou-se também a partir de diversas formas de ataque a Paulo Freire, às suas teorias, ao seu legado. Patrono da Educação Brasileira, o educador brasileiro mais conhecido e estudado no exterior é, aqui, alvo contínuo de ataques e descrédito por amplos setores sociais.

Defensor de uma pedagogia dos oprimidos, que estabelece que nas camadas populares estão os sujeitos da educação (e de sua própria educação), o pensamento de Paulo Freire inspira práticas educativas disruptivas e democráticas em praticamente todas as áreas do conhecimento e em vastos domínios culturais. Inspira professores e professoras na escola e na universidade; educadores populares; estudantes da educação básica e do ensino superior, sobretudo os extensionistas, em sua relação com a população; o artista em sua criação.

Nesse sentido, a Faculdade de Educação da UFMG e o Programa de Extensão Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022 (PEPB) – não poderiam deixar de celebrar com grande potência o Centenário de Paulo Freire. E aqui propomos fazê-lo explorando e destacando as várias faces do seu pensamento sobre a universidade – a questão da formação docente e da extensão; sobre a educação básica – as epistemologias e as práticas pedagógicas; ­a potência dos saberes e das pedagogias do Sul; as apropriações inspiradoras realizadas no campo das artes, notadamente no teatro.

Os objetivos do projeto são organizar a celebração do Centenário do nascimento de Paulo Freire como um momento de retorno ao seu legado, de resistência política e de produção de novos parâmetros para a educação brasileira – da educação infantil à pós-graduação; mobilizar as/os alunas/os dos cursos de licenciatura e professoras/es da educação básica para a celebração do Centenário de nascimento de Paulo Freire; divulgar o pensamento e o seu legado entre as/os alunas/as dos cursos de licenciatura e as/os professoras/es da educação básica; contribuir com a formação inicial e continuada de professoras/es a partir de uma perspectiva crítica e dos direitos humanos.

Coerentes com o pensamento e com as práticas de Paulo Freire, ao propor esse Projeto de Extensão articulado à Pós-Graduação, a metodologia que abraçamos é a de FAZER COM os sujeitos da educação. Nesse sentido, como tem sido tradição do Programa de Extensão Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022 –, a nossa perspectiva é desenvolver um conjunto de ações para celebrar o Centenário do pedagogo junto com as professoras e os professores da educação básica, nossos parceiros desde a primeira hora. Assim, na projeção e organização das ações e na sua operacionalização e avaliação, contaremos com a ativa participação de nossos parceiros institucionais – o SINDUTE e o APUBH, notadamente –, bem como de uma rede de professoras e professores que já colaboram assiduamente com o Programa Pensar a Educação.[2]

Para a operacionalização da proposta atuaremos em comum acordo com a Comissão do Centenário de Paulo Freire constituída na Faculdade de Educação e em diálogo contínuo com os nossos parceiros acima identificados. Mais especificamente, faremos reuniões com os sindicatos e com as/os professoras/es que participam de nossas atividades, convidando-as/os a colaborarem com a proposta ora apresentada em todas as etapas de sua organização e operacionalização.

Nesse projeto, como no conjunto das ações do PEPB, partimos do suposto de que uma relação dialógica entre a universidade e a escola básica se faz, fundamentalmente, pelo reconhecimento e pelo fortalecimento da autoria de suas protagonistas. Há, na escola, um conjunto expressivo de experiências que podem (e devem) ser discutidas pelos e entre os próprios pares e divulgadas amplamente. Tais práticas são criativas e reconhecedoras das diferenças e das diversidades que constituem a educação pública básica, ainda que seus profissionais sejam continuamente constrangidos pelas difíceis condições de trabalho, pelas péssimas carreiras e pelos diminutos salários. Ademais, há que se reconhecer que as escolas não são feitas apenas e tão somente pelas profissionais da educação e que tanto as/os alunas/os quanto suas famílias são interlocutores não apenas legítimos, mas necessários, para construirmos uma educação pública com uma qualidade socialmente referenciada.

Lives para celebrar a vida e a obra de Paulo Freire!

Como parte das comemorações do centenário de nascimento de Paulo Freire (1921-2021), o Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil promove, uma vez por mês, ao longo do ano de 2021, dentro da programação do Pensar ao Vivo, uma live sobre o legado e as contribuições do Patrono da Educação Brasileira.

Dando início às comemorações do centenário (1921 – 2021), o Pensar Educação, Pensar o Brasil para o ano de 2021, através do Pensar ao Vivo, realizou no dia 24 de fevereiro, a primeira de várias ações, tematizando, refletindo e homenageando a vida e obra de Paulo Freire. O tema da live foi “Paulo Freire, ontem e hoje” e ambicionou discutir a obra e os conceitos de Freire, ressaltando a atualidade de suas ideias.

Na segunda live da série, realizada no dia 24 de março, também no canal do Pensar a Educação, Pensar o Brasil no Youtube, conversamos sobre as inspirações de Paulo Freire para fora do campo da educação escolar. A conversa contou com a presença de Vanessa Soares, Fernanda Resende, Bya Braga e Mônica Abranches. As pesquisadoras relatam as práticas extensionistas e projetos nas áreas de Arte, Psicologia e Serviço Social que têm, ou tiveram, o educador pernambucano como referência.

No ano de comemoração do Centenário de Nascimento de Paulo Freire (1921 – 2021), uma das formas de valorizar e atualizar seu pensamento é entender as condições históricas, sociais, políticas e culturais que presidiram o aparecimento público de Freire como um teórico da educação. Sem desprezar os anos iniciais de sua formação, a terceira live, realizada no dia 7 de abril, se deteve sobre os anos de 1950 e 1960, momento em que, no interior dos debates sobre a educação, discutia-se também os rumos do Brasil. A live “Paulo Freire não nasceu PAULO FREIRE (Brasil, 1950/1960)” teve o desejo de “devolver” o Patrono da Educação Brasileira à densidade dos tempos, dos debates e das angústias de um momento central de sua formação e para aquilo que ele viria a ser no Brasil e no mundo nas décadas posteriores.

A quarta live ocorreu no dia 19 de maio. Desta vez, o nosso encontro contou com a participação de grupos e comissões envolvidos nas comemorações e discussões em torno do Centenário de Paulo Freire. De diferentes lugares do país, nos encontramos com as utopias postas em circulação neste ano que celebramos o patrono da Educação brasileira. No já conhecido formato roda de conversa, bem ao gosto de Paulo Freire, reunimos, de forma bastante descontraída, professoras/es, estudantes, grupos e ativistas, nos dois lados da tela, neste período tão importante.

A quinta live ocorreu no dia 16 de junho e buscou discutir a presença de “Paulo Freire pelo mundo”. Na conversa, convidados de diversas regiões do Brasil e do mundo refletiram sobre o legado de Freire no país e no exterior e como suas obras são tratadas nas universidades e no sistema de ensino dentro e fora do Brasil.

A sexta live aconteceu no dia 21 de julho e abordou sobre “Reinventar freire: teorias e práticas”. Na conversa, convidados discutiram sobre como o legado freiriano é reinventado e aplicado nos diversos espaços e processos educacionais.

Os encontros ocorrem mensalmente e trazem temáticas distintas em torno de Freire com a finalidade também de compreender o momento atual, que é atravessado por profundas crises, especialmente no que diz respeito ao cenário educacional. Os círculos de conversa, mesmo que virtualmente, buscam também revisitar Freire através de distintos convidados que, a partir de suas vivências e experiências em diferentes contextos educacionais, contribuem para a defesa de seu legado e nos convoca a repensar a escola, as práticas de ensino e formação dos sujeitos.

Além de celebrar a vida e obras de Paulo Freire, as lives realizadas também buscam fazer um contraponto à ofensiva ideológica reacionária que tenta a todo custo deslegitimar a importância do nosso Patrono da Educação Brasileira. As lives são uma forma de reinventar Freire, sua pedagogia e mostrar sua diversidade. Dessa forma, os encontros de fácil acesso no YouTube podem contribuir para a formação de diversos professores (as), estudantes, pesquisadores (as), gestores (as) da rede pública e particular, militantes, ativistas e educadores (as) de movimentos sociais que buscam repensar teorias e reinventar suas práticas.

Nota: O Projeto Centenário Paulo Freire: celebrar, resistir e avançar! Conta com o apoio da PROEx-UFMG, do PPGE, do APUBH e do SINDUTE-MG.

[1] A linguagem bélica e de guerra é, aqui, utilizada propositalmente.

[2] Parte significativa das articulistas do Jornal, das participantes das lives e vídeos, bem como das autoras dos textos da Revista Brasileira da Educação Básica – RBEB são professoras da educação básica. No caso da RBEB, mais de 80% dos artigos contam com tal autoria e coautoria.

Imagem de destaque: Painel Paulo Freire. CEFORTEPE – Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional Prof. “Milton de Almeida Santos”, SME-Campinas.

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