Lagoa Do Uruau Ce

Água e os impactos causados pelo homem

carlos

Carlos Henrique Felipe dos Santos

Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará/Universidade Aberta do Brasil (UECE/UAB). Atualmente é professor da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Roldão de Oliveira – Beberibe/CE.

E-mail: carloshenrique16.2009@yahoo.com.br

laura

Laura Helena Pinto de Castro

Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), possui especialização em Formação de Formadores pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Atualmente é professora de Biologia na rede estadual de ensino em Fortaleza-Ceará e tutora à distância do Curso de Ciências Biológicas à distância UECE/UAB.

E-mail: laura.castro@uece.br

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Ivo Batista Conde

Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Atualmente é Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará e Coordenador de Estágios do Curso de Ciências Biológicas a distância da Universidade Estadual do Ceará-Universidade Aberta do Brasil/UECE-UAB.

E-mail: ivo.conde@uece.br

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Roselita Maria de Souza Mendes

Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do Ceará (1985), mestrado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal do Ceará (1991) e doutorado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal do Ceará (2003). Professora adjunta da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Membro da Comissão Coordenadora de Concurso Docente (CCCD) da UECE. Coordenadora de Tutoria do curso de Licenciatura a distância em Ciências Biológicas UECE/UAB-MEC do Centro de Ciências da Saúde.

E-mail: roselita.mendes@uece.br

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Lydia Dayanne Maia Pantoja

Doutora em Engenharia Civil (Saneamento Ambiental) pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre em Microbiologia Médica pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Atua como Professora Assistente Nível D da Universidade Estadual do Ceará e é coordenadora de Pesquisa do Curso de Ciências Biológicas à distância UECE/UAB.

E-mail: lydia.pantoja@uece.br

INTRODUÇÃO

De acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 2008) são inúmeras as relações entre o ensino de ciências naturais e o meio ambiente. Nessa conjectura, cabe ao professor possibilitar meios de facilitar o processo de ensino-aprendizagem de seus alunos, por exemplo, através de uma aula de campo, que pode proporcionar ao aluno uma relação maior entre os conteúdos estudados em sala de aula, com a realidade concreta, instigando a construção de um pensamento crítico. Portanto, a aula de campo pode modificar o potencial de aprendizagem trazendo para educação novos caminhos para o ambiente escolar. (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009).

Nesse ínterim, uma aula de campo, que visa tratar sobre o estudo da água, torna-se relevante para o aluno compreender o funcionamento do ciclo da água, mudanças de estados físicos, identificar sua importância e os impactos causados pelo homem, dentre outros. Assim, na aula de campo o professor disponibiliza para o aluno conteúdo, capacitando-o a raciocinar criticamente sobre a preservação do meio ambiente e conscientização para uso sustentável da água.

A relevância deste trabalho advém de observações realizadas com os alunos de uma escola pública que questionavam sobre o baixo nível da água presente em uma lagoa do município, bem como quais seriam as causas desse problema. Constata-se que os alunos empiricamente já faziam observações, mas não eram estimulados a pensar criticamente sobre a situação vivenciada.

Levando em consideração a problemática, justifica-se este estudo que buscou pesquisar o ponto de vista dos alunos através de observações realizadas durante uma aula de campo em uma lagoa existente na comunidade. Além disso, os alunos foram instigados a pensar criticamente sobre o que estaria causando a redução do nível da água presente na lagoa e a refletir sobre o problema, adquirindo diversos conhecimentos aplicáveis ao seu cotidiano.

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi do tipo descritiva, com abordagem mista (quantitativa e qualitativa) (GIL, 2008). O locus da investigação foi uma escola de ensino fundamental, no distrito de Caetanos, a 9 km da sede no município de Beberibe, Ceará, que conta com 490 alunos matriculados, funcionando integralmente, com educação infantil e ensino fundamental (EF) I e II; além disso, estendeu-se pela Lagoa do Uruaú.

Participou do estudo uma turma do 6º ano do EF da referida escola, com 22 alunos. A pesquisa seguiu as exigências éticas e científicas contidas na Resolução 466/2012. (BRASIL, 2012).

A aula de campo foi elaborada de forma que os alunos pudessem obter conhecimentos sobre o ciclo da água e também refletir sobre as causas do baixo volume de água da lagoa. Como suporte didático foi usado Campanha das ciências, de Usberco et al. (2012), livro utilizado pelo professor da disciplina, e orientado por um roteiro de aula previamente estabelecido em um plano de aula.

A aula de campo ocorreu em torno da Lagoa do Uruaú, localizada no município de Beberibe, na costa leste do estado do Ceará, e abrange uma área de 2.672,58 hectares. A turma seguiu por determinado trajeto que apresentava impactos ambientais e com baixo nível de água. Durante todo o percurso (aproximadamente duas horas), os alunos foram estimulados a refletirem sobre a situação observada no ambiente, e para isso foi elaborado um plano de aula estabelecendo os lugares de passagem, o conteúdo, as orientações e perguntas que deveriam ser feitas aos alunos, visando observar o impacto ambiental.

Em um segundo momento, foi aplicado um questionário que abordava a temática social e a problemática da água, e os dados coletados foram organizados de forma que se pudesse analisar o uso da aula de campo como ferramenta de ensino: um bloco sobre o perfil sociodemográfico (5 questões objetivas) e um bloco sobre a temática da água e a aula de campo (13 questões objetivas). Em seguida, as respostas foram analisadas através do Excel, bem como os dados referentes à análise dos alunos foram apresentados através de frequências simples e relativas, e os pontos centrais das discussões foram debatidos à luz da literatura pertinente sobre a temática. (TEIXEIRA, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de 22 alunos questionados sobre o aumento de a temperatura ser o único agente responsável pela diminuição do volume de água da lagoa, 23% responderam sim e 77% responderam não. Quanto a isso, os alunos puderam fazer suas ponderações, pois analisaram e observaram que existem outras ações acontecendo na lagoa. (Figura 1).

Figura 1 – Alunos analisando as prováveis causas da diminuição do nível da água da Lagoa do Uruaú, Beberibe – Ceará.

figura-1
Fonte: Registro dos autores (2016).

Quando questionados sobre a ação do homem em relação à lagoa, 82% detectaram malefícios e 18% benefícios. Esses dados revelam a clara percepção dos alunos sobre a ação maléfica do homem e o uso descontrolado dos recursos hídricos. Durante o trajeto foi observada e discutida a presença de objetos boiando na água (como garrafas PET, material de construção, entre outros), bem como foram constatadas ligações clandestinas de retirada de água.

Os discentes ao serem questionados sobre os conteúdos que compreenderam na aula de campo, 95% compreenderam sobre o ciclo da água; 82% compreenderam sobre os impactos que o homem vem causando ao meio; 91% compreenderam o que foi explicado na aula de campo. Ao serem questionados sobre as possíveis causas da redução do volume de água na lagoa, 77% disseram que foi devido à ação do homem; 95% disseram que foi devido às mudanças climáticas.

Esses resultados mostram que os alunos identificaram que não existe apenas um agente responsável pelos impactos recorrentes na lagoa. As diversas instalações continuam a retirar água da lagoa de forma descontrolada (MACIEL; DOMINGUES, 2001), bem como o aumento da temperatura e os longos períodos de estiagem vêm influenciando no nível da água.

Quanto à existência de poluição na lagoa, 100% dos alunos afirmaram que existe poluição na lagoa; 95% viram garrafas PET; 82% encontraram restos de materiais de construção e 95% viram animais mortos dentro da lagoa (Figuras 2, 3 e 4). Pereira (2004) relata que a água pode ter sua qualidade afetada pelas mais distintas atividades do homem, sejam elas domésticas, comerciais ou industriais, que geram poluentes característicos e impactam na qualidade do corpo receptor.

Figuras 2, 3 e 4 – Garrafas PET, pedras de construção, peixe morto na Lagoa do Uruaú, Beberibe – Ceará.

figura-2

Fonte: Registro dos autores (2016).

Quando perguntados sobre as soluções que podem ser dadas para diminuir os impactos vistos na lagoa, 77% afirmaram que a retirada das encanações clandestinas iria amenizar esse problema e 23% disseram que apenas a limpeza iria resolver. Isso mostra que em uma aula de campo os alunos podem entrar em contato direto com a problemática que estão investigando, logo estarão aptos a conceber possíveis soluções.

A AULA DE CAMPO EM FOCO

Quando perguntados se a aula de campo facilitou a aprendizagem do conteúdo explorado, 100% dos alunos responderam sim. Nesse sentido, é possível afirmar que se uma aula de campo for bem planejada, existe a probabilidade de proporcionar a compreensão da dinâmica exposta naquele espaço previamente determinado e não uma mera observação da paisagem, pois no decorrer dos questionamentos foram propostas e cobradas discussões a respeito do impacto observado, envolvendo a dinâmica de perguntas e possíveis respostas estimuladas durante o trabalho de campo, situação esta já demonstrada por outros autores (MAGALHÃES; PEREIRA; LIMA, 2010).

Ao serem perguntados, entre a aula de campo e a aula em sala, qual delas permitiu que eles compreendessem melhor o conteúdo, 59% responderam aula de campo e 41% aula teórica em sala. Esses dados evidenciam a importância de ambos os tipos, pois em sala de aula são trabalhados conceitos teóricos, e a aula de campo leva os alunos a terem contato pessoal mais amplo com determinada questão estudada. Portanto, a aula de campo é uma atividade importante e desponta como uma possibilidade a ser utilizada pelo professor.

Foi solicitado também que os alunos classificassem a aula de campo (poderiam marcar mais de um item), dessa forma, 32% disseram que foi boa; 32% importante; 14% divertida; 14% interessante; 4% chata e 4% prazerosa. Esses dados apontam uma satisfação dos alunos com relação à aplicação da aula de campo. Lepienski e Pinho (2009) ressaltam que as aulas de campo são excelentes para que os alunos possam relacionar as aulas tradicionais com a aula de campo, tornando-a um recurso interessante que permite contato direto dos alunos com o meio.

Percebe-se, segundo a perspectiva dos alunos, o quanto é satisfatório e importante ter essa vivência por meio das aulas de campo, pois as emoções e sensações surgidas durante a aula em um ambiente natural podem auxiliar na aprendizagem dos conteúdos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo pondera-se que a aula de campo é vista como uma ferramenta facilitadora pelo discente melhorando a compreensão de conceitos trabalhados em sala de aula. Além disso, pode proporcionar aos alunos conhecimentos diversos sobre problemáticas vivenciadas no cotidiano.

No entanto, torna-se relevante a realização do planejamento prévio da aula de campo para que possa resultar em disseminação de conhecimentos. Além disso, uma aula de campo bem planejada leva os alunos a terem uma visão mais complexa sobre o assunto estudado.

Por fim, quando os alunos são levados e estimulados a aplicar seus conhecimentos em uma aula de campo, diante de uma problemática inserida em seu cotidiano, eles podem ser estimulados a se tornarem cidadãos mais conscientes do meio onde vivem.

 

 

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas de pesquisa em seres humanos. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. 2012. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>. Acesso em: 14 out. 2014.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação ambiental básica. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente; UNESCO, 2008. 350p.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LEPIENSKI, L. M.; PINHO, K. E. P. Recursos didáticos no ensino de biologia e ciências. 2009. Disponível em: <http://www.diadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/400-2.pdf>. Acesso em: 29 out. 2015.

MACIEL, L. S. B.; DOMINGUES, A. L. A água e seus múltiplos enfoques no ensino de ciências no nível fundamental. Acta Scientiarum, Maringá, v. 23, n. 1, p. 183-195, 2001.

MAGALHÃES, S. C. M.; PEREIRA, N. V.; LIMA, S. C. do. Trabalho de campo: vivências e experiências na Amazônia brasileira. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, 16., 2010, Porto Alegre. Anais… Porto Alegre: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2010.

MARANDINO, M.; SELLES, S. E; FERREIRA, M. S. Ensino de biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.

PEREIRA, R. S. Identificação e caracterização das fontes de poluição em sistemas hídricos. Revista eletrônica de recursos hídricos, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 20-36, 2004.

TEIXEIRA, E. B. A análise de dados na pesquisa científica: importância e desafios em estudos organizacionais. Desenvolvimento em questão, Ijuí, v. 1, n. 2, p. 177-201, 2003.

USBERCO, J. M.; SCHECHTMANN, E.; FERRER, L. C.; VELLOSO, H. M. Companhia das ciências. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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