
Diálogos entre Brasil-Portugal e a História da educação: profissionalização docente, práticas, tempos e espaços escolares
Miriã Lúcia Luiz
Pós-doutora em História da Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Membro do Núcleo Capixaba de Pesquisas em História da Educação. É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, na linha de Educação, Formação Humana e Políticas Públicas. Coordena o grupo de pesquisa Memórias, Narrativas e Histórias das/nas escolas capixabas: diálogos na formação de professores. Atua nas áreas de História da Educação, Ensino de História e Formação e prática de professores.
E-mail: mirialuiz@gmail.com
Maria Lúcia de Resende Lomba
Residente pós-doutoral (2023-2025) no programa de pós-graduação Mestrado Profissional Educação e Docência (PROMESTRE) da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-doutora em Educação (2023/2024) pela FaE/UFMG, com bolsa CNPq. Pós-doutora (2022) pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Portugal. Doutorado pela UFMG e Mestrado pela UFES com graduação em História, em Filosofia e em Pedagogia. Compõe o Conselho Editorial da Revista Brasileira de Educação Básica (RBEB) e coordena o Grupo de Estudos e Escrita de Professores e Pesquisadores da Educação Básica (Geeppeb), um coletivo que visa contribuir com a prática formativa de autoria de professoras/es das três etapas da Educação Básica de diferentes regiões brasileiras por meio da escrita autobiográfica. Mais informações sobre este grupo pelo Instagram @geepeb_
E-mail: mlresende@gmail.com
Vanessa Macêdo
Eu sou a editora executiva da Revista Brasileira de Educação Básica e com a equipe do Programa de Extensão Pensar a Educação Pensar o Brasil construímos cotidianamente estratégias para fazer circular as ações, reflexões e investigações de professoras, professores e pesquisadores do largo campo da Educação. Sou doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG e pesquisei projetos editoriais na década de 1930 e 1940 onde o debate da educação se estabeleceu e construiu diversas políticas que temos hoje. Também sou historiadora pela UFCG e fiz meu mestrado em educação na UFPB. Sou paraibana e vivo em Belo Horizonte desde 2012. Tenho construído minha carreira no campo da Educação entre a pesquisa, a editoração e a divulgação cientíca. Meus interesses investigativos estão ligados ao trabalho que desenvolvo neste periódico desde 2018, ou seja, contribuir para a compreensão dos modos de circulação das práticas docentes na divulgação do conhecimento e do seu debate na esfera pública. CURRÍCULO LATTES
Email: vcmacedo@gmail.com
Este texto aborda o intercâmbio de experiências que ocorreram no Seminário Memórias, identidades e profissionalização docente: diálogos Brasil-Portugal, realizado no dia 14 de novembro de 2024, pela Revista Brasileira de Educação Básica (RBEB) e pelo Programa de Extensão Pensar a Educação, vinculados à Faculdade da Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG). A proposta do seminário foi a de aproximar duas investigações em História da Educação, uma delas realizada por Miriã Lúcia Luiz, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito (PPGE/UFES), no Brasil, e a outra por Ana Isabel Madeira, professora do Instituto de Educação (IE) da Universidade de Lisboa, em Portugal. Os trabalhos discutem os processos de escolarização e de profissionalização a partir das experiências narradas por meio da evocação das memórias, tanto de professores como de sujeitos que vivenciaram suas experiências de escolarização em territórios rurais. Esse encontro teve a mediação de Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG), Luis Correia Grosso, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Maria Lúcia de Resende Lomba (UFMG) e Vanessa Costa de Macêdo (UFMG).
A profissionalização docente como um tema de pesquisa abre um vasto campo de investigações, seja em perspectiva histórica, sociológica, abordagens voltadas para o cotidiano das práticas ou em diferentes configurações de contextos escolares no tempo e no espaço, na relação com a formação de professores, os arranjos curriculares, a cultura escolar, as disciplinas escolares e a história das instituições. Segundo Catani (2011), abundam pesquisas sociológicas tematizando a profissão docente, constituindo-se um suporte fundamental para a compreensão histórica do processo de profissionalização. A autora ainda sublinha a pesquisa histórica do exercício docente como relevante para a compreensão sociológica. Ao reconhecer que o movimento dos professores, sua entrada e seu afastamento do exercício da profissão, mudanças de escolas, das autoridades locais e das políticas educacionais devem compor os estudos e as pesquisas sobre a profissionalização, Catani (2011) destaca o estudo histórico como alternativa para isso. Em termos metodológicos, as investigações aqui evidenciadas se inserem na História do Tempo Presente (HTP), pois, na óptica da história do tempo presente, o investigador trabalha “sobre um tempo que é o seu próprio tempo, com testemunhas vivas e com uma memória que pode ser a sua” (ROUSSO, 2002, p. 97 apud MADEIRA; CABELEIRA, 2022, p. 14).
A pesquisa apresentada pela professora Miriã Lúcia Luiz (PPGE/UFES), intitulada A experiência de profissionalização de professoras em escolas multisseriadas rurais do Espírito Santo (1980-2009),[1] investigou a experiência de profissionalização de professoras de escolas multisseriadas rurais capixabas que atuaram entre as décadas de 1980 a 2009, pela via da etnobiografia na relação com a historiografia. São reflexões de resultados de pesquisa desenvolvida no pós-doutoramento na Universidade Federal de Minas Gerais e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2022-2023).
Já a pesquisa Memórias Resgatadas, Identidades (Re)Construídas (MRIR): experiências de escolarização, património e dinâmicas educativas locais,[2] apresentada pela professora Ana Isabel Madeira (IE-ULisboa), recebeu financiamento dos fundos nacionais portugueses através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder) através do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (Compete 2020) e pelo Programa Operacional Regional de Lisboa (PORL 2020). A entidade proponente foi o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, sob a coordenação de Ana Isabel Madeira e cocoordenação de Justino Magalhães, tendo como investigadora contratada Helena Cabeleira. O projeto MRIR iniciou-se em outubro de 2018 e teve o seu término em setembro de 2022 (Madeira; Cabeleira, 2022).
As pesquisas tematizam a História da Educação, de modo amplo e, em particular, indicam elementos do cotidiano escolar, dos processos de escolarização e de profissionalização, das práticas, dos sujeitos, saberes e fazeres mobilizados nos espaços das escolas e das comunidades do campo. No entanto, considerando o limite de páginas deste texto, elegemos dois eixos para essa problematização: processos de profissionalização docente; práticas, tempos e espaços escolares.
EXPLORANDO AS TEMÁTICAS QUE EMERGIRAM NO SEMINÁRIO E AS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: PISTAS, INDÍCIOS E SINAIS
Na busca por aprofundar os pressupostos teórico-metodológicos relativos aos processos de profissionalização docente e da pesquisa histórica em diálogo com a autoetnografia, a professora Miriã Lúcia Luiz desenvolveu um estudo em estágio pós-doutoral com duração de 12 meses na Universidade Federal de Minas Gerais e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto,[3] objetivando narrar experiências de profissionalização de professoras em escolas multisseriadas rurais do Espírito Santo, entre 1980 e 2009.[4] A precariedade quando em funcionamento é uma situação preocupante que ameaça a memória das escolas multisseriadas rurais, pois, com o fechamento dessas instituições, os prédios são ocupados para fins de moradia e o mobiliário acaba por ser destruído ou transformado em outros tipos de móveis.
Em termos pedagógicos, a documentação dessas instituições não conta com uma política de arquivamento (Jadejiski, 2021; Delboni, 2020; Luiz, 2023), o que resulta no apagamento das práticas ensejadas nessas escolas, das trajetórias das professoras e, de modo mais amplo, do papel dessas instituições na história da educação capixaba. Dessa maneira, a proposta visa contribuir com a história da educação brasileira e, em particular, capixaba, a partir de um movimento de localização, catalogação e guarda de registros relativos às escolas multisseriadas rurais do Espírito Santo. Ao preservar, resgatar e narrar experiências de professoras evocadas por suas memórias, a pesquisa visibiliza modos outros de pensar e praticar a docência no Espírito Santo, apontando cenários plurais da História da Educação, de forma ampla, e, do contexto educacional campesino, em particular, evidenciando elementos da cultura escolar, como práticas pedagógicas, vestimentas, culinária, brincadeiras, desafios e potencialidades do fazer docente e, sobretudo, faces distintas de trajetórias e da profissionalização docente.
Quanto à pesquisa coordenada pela professora Ana Isabel Madeira, metodologicamente esta se situa na linha historiográfica que explora as relações entre memória e história, no sentido de que rompe com uma visão determinista que limita a liberdade dos homens, colocando em evidência a construção dos atores de sua própria identidade. Ao problematizar as relações entre passado e presente, a pesquisa evidencia que o passado é construído segundo as necessidades do presente. Assim, ainda que baseada em fontes escritas, essa perspectiva historiográfica possibilita uma maior abertura, capaz de neutralizar, em parte e indiretamente, as tradicionais críticas feitas ao uso das fontes orais, consideradas subjetivas e distorcidas (FERREIRA, 2002). Como parte desse amplo movimento de pesquisa, o Banco de Memórias se constitui da seguinte forma
É nesse caminho que apresentamos sucintamente dois eixos – Processos de profissionalização docente e Práticas, tempos e espaços escolares –, a partir dos quais estabelecemos nexos com os dados da pesquisa de Luiz (2023) e os aportes teórico-metodológicos da pesquisa de Madeira e Cabeleira (2022).
Processos de profissionalização docente
A pesquisa de Luiz (2023) visibilizou experiências de seis narradoras, denominadas EP, SB, LC, NE, EC e MF. São professoras cujas trajetórias profissionais tiveram origem em escolas multisseriadas rurais, e esse foi o ponto de convergência para a escolha dessas sujeitas para este estudo. Para além desse aspecto, são mulheres com identidades plurais: filhas, mães, esposas/ex-esposas, residentes de municípios do interior do Espírito Santo e professoras que se mostraram abertas ao diálogo e, mais do que apenas abertura, revelaram considerar um importante movimento reflexivo sobre a participação na pesquisa, como relatou EC: “Quando a gente conversa assim… eu às vezes esqueço desse período, mas é quando a gente conversa com a outra pessoa que também é da mesma época e começa a recordar. Realmente que tempo difícil, meu Deus do céu!”.
Essas educadoras são residentes dos seguintes municípios do Espírito Santo: Mantenópolis (EP; SB), Alto Rio Novo (LC, NE) e Anchieta (EC e MF). E realizaram o Magistério como formação inicial para o exercício da docência, enfrentando inúmeros desafios, pois iniciar a docência ainda muito jovem e com uma formação frágil, em nível do ensino secundário, mostrou-se um fator profundamente impactante.
O contexto no qual as professoras realizaram sua formação no Magistério se deu a partir da vigência dos pressupostos da Lei nº 5.692/1971, legislação que tornou a profissionalização obrigatória no segundo grau, sendo a habilitação para o Magistério uma delas. De acordo com Romanelli (1986) e Germano (2008), essa preparação para o trabalho mostrava-se rápida e barata, o que era garantido por meio do princípio de terminalidade do 2º, e até mesmo do 1º grau, isso porque essa profissionalização de nível médio visava selecionar apenas os mais capazes para a universidade, garantir ocupações aos menos capazes e, não obstante, conter a demanda de educação superior em limites mais estreitos (ROMANELLI, 1986).
Práticas, tempos e espaços escolares
As educadoras participantes do estudo de Luiz (2023) nasceram entre as décadas de 1950 e 1980 e naqueles municípios fixaram morada, e embora tenha ocorrido algum deslocamento, isso não significou uma mudança do território estadual capixaba. Em termos culturais, notamos também similitudes, como as práticas religiosas e comunitárias, e o desafio de conciliar as práticas domésticas com o exercício profissional docente. Além das atividades domésticas, o trabalho laboral tradicionalmente atribuído à mulher também era realizado nas instituições escolares nas quais iniciaram a docência, como podemos ler em seus relatos: “Durante todo tempo que atuei na escola rural, fui professora, coordenadora, secretária, faxineira, merendeira e até resolver problemas com relação à água da escola fazia parte da minha rotina de trabalho” (EP).
Além das atividades propriamente domésticas, notamos nos relatos situações que exigiam das professoras conhecimentos distintos daqueles necessários para o processo de ensino-aprendizagem escolar. Os estudantes também eram envolvidos nestas atividades extraescolares:
A merenda era a gente que fazia, né? a gente passava dever no quadro, os alunos que terminavam as primeiras vezes ajudavam a gente, entendeu? E a gente não tinha problema com os pais naquela época que o Conselho Tutelar não ficava no pé (risos), mas as crianças ajudavam muito a gente, entendeu? Ai da gente se não fossem as crianças. A limpeza também era feita pela gente, entendeu? Logo que terminava a escola ou antes de começar a aula, e isso aí dependia, né, pra gente limpar a escola. Não era fogão a gás, era fogão de lenha, a gente ia para as matas buscar lenha, entendeu? Era muito difícil, foi muito difícil trabalhar. Quem dera que fosse hoje com essas, né, com esses recursos que nós temos (NE).
Conciliar a docência com essas atividades se configurava em um dilema para essas educadoras: “Eu dei aula menos de um ano na escola multisseriada rural, então, eu também… eu comecei a tentar fazer a merenda, mas eu achava muito difícil, porque eu nem sabia ser professora ainda, né? Aí eu pagava a mãe de um aluno, só que a gente tinha que tirar do salário da gente, né?” (NE). Nesse contexto, as professoras assumiam múltiplas funções. As docentes assumiam papel de cozinheira: “A gente era cozinheira, a gente cozinhava, aí vinham as merendeiras trazer, a gente fazia curso de merendeira na época, buscava lenha na mata”.
Buscar lenha para fazer a merenda, pegar água na casa de vizinhos para lavar a louça, auxiliar no cultivo de vegetais para uso na merenda, colaborar com a limpeza da escola, ajudar os colegas com as atividades, fazer o trajeto de casa até a escola passando por pastos e também acompanhados pela professora… Essas e outras são cenas que marcaram a escolarização e que povoam a memória quando dialogamos a respeito desses processos. Importante sublinhar que essas memórias, individuais e coletivas, construídas em um grupo de referência (Halbwachs, 1990), evidenciam também vestígios da história das instituições escolares, neste caso específico, tratam das memórias das escolas multisseriadas rurais e das experiências praticadas nesses espaços, com seus objetos e artefatos (MADEIRA; CABELEIRA, 2022).
Entre denúncias e brincadeiras, a educadora nos permite ler, conhecer e relembrar – cada leitor do seu lugar de escuta e de fala – outros modos de pensar e viver a escola, o que se constitui em uma “memória pedagógica” ao nível rural. Dessa forma, entendemos que esses processos constituem a tríade memória-patrimônio-identidade, que estabelece com as práticas de investigação uma articulação necessária, assente num a-priori histórico (MADEIRA; CABELEIRA, 2022, p. 20).
Essas memórias das escolas, das práticas e do cotidiano escolar, ao serem evocadas, narradas e registradas, entendidas aqui como patrimônio imaterial, favorecem para valorizar “o lugar e o sentido de existência das comunidades num determinado território, um espaço vivido, ou percepcionado, onde o sujeito se sente ‘em casa’” (HAESBAERT; BRUCE, 2009, p. 6 apud MADEIRA; CABELEIRA, 2022, p. 21). É o que lemos e almejamos preservar, por exemplo, no relato de LC:
Eram outros, eram outros [tempos]. A gente se virava, era mimeógrafo. Para eu dar atividade diferente eu ia lá em Pancas toda segunda-feira. A gente [ia] lá em Pancas, lá que a gente rodava, fazia planejamento, rodava atividade, mas o mais era giz mesmo e quando chegava com as folhas mimeografadas, que alegria daqueles meninos, nosso Deus do céu! Porque hoje tem tudo, né, tudo, tudo, tudo e mais um pouco, então, é muito complicado, a gente usava mais assim livro, usava bastante livro didático e quadro e o que a gente fazia em casa, ia construindo, igual você vê, a gente construía, fazia muito cartaz escrito para colocar, a minha sala, pena que eu não tinha… Não tirei foto, minha sala era muito enfeitada de cartazes que eu gostava/gosto muito de trens assim, fazer essas coisas, né? Tudo era cartaz “lembre-se usa-se M antes de P e B”, “os sons do X”, “o tempo hoje está…”. Eu enchia tudo… números, a gente escrevia números e colocava pra eles copiar, fazia cópia até, né? (LC).
São memórias que, embora guardem uma singularidade, encontram ecos na História da Educação, mas são memórias de tantos professores, professoras, estudantes deste e de outros espaços geográficos que possam ter vivenciado situações similares em escolas do campo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As interações entre as quatro universidades por meio das pesquisas nos possibilitam pensar outros modos de praticar a docência, especialmente sobre os processos de escolarização em escolas do campo no Brasil e em Portugal, visibilizando cenários plurais da História da Educação e do contexto educacional campesino, tais como elementos da cultura escolar, como práticas pedagógicas, vestimentas, culinária, brincadeiras, desafios e potencialidades do fazer docente e, sobretudo, faces distintas de trajetórias e da profissionalização docente.
De modo específico das escolas multisseriadas rurais, além da precariedade quando estão em funcionamento, uma situação preocupante ameaça a memória, pois, com o fechamento dessas instituições, elas passam a ser ocupadas para fins de moradia, e o mobiliário, quando não é destruído, é transformado em outros tipos de móveis. Em termos pedagógicos, a documentação dessas instituições não conta com uma política de arquivamento, o que resulta no apagamento das práticas ensejadas nessas escolas, das trajetórias das professoras e, de modo mais amplo, do papel dessas instituições na História da Educação capixaba. Quanto ao contexto português, a pesquisa indicou a possibilidade de pensar a educação a partir das experiências dos próprios sujeitos, recorrendo ao resgate das suas memórias para investigar os processos de relacionamento com a cultura escolar, no contexto de processos de escolarização, sejam eles formais ou informais em contextos de socialização predominantemente rurais.
Dessa forma, as reflexões realizadas no âmbito do seminário podem contribuir com a História da Educação brasileira e portuguesa, a partir de um movimento de localização, catalogação e guarda de registros relativos às escolas multisseriadas rurais e dos processos de escolarização dos sujeitos que povoam os territórios rurais.
REFERÊNCIAS
CATANI, Denise Barbara. Estudos da profissão docente. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive (Org.). 500 anos de educação no Brasil. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 585-599.
DELBONI, Juber Helena Baldotto. Escola multisseriada, infâncias e comunidade tradicional pomerana: diálogos mediados por imagens e memórias. 199 f. 2020. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2020.
FERREIRA, Marieta de Moraes. História, tempo presente e história oral, Topoi, Rio de Janeiro, v. 3, n. 5, p. 314-332, dez. 2002.
GERMANO, José Willington. O discurso político sobre a educação no Brasil autoritário. Cadernos Cedes, n. 28, p. 313-332, 2008.
HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990.
JADEJISKI, Rainei Rodrigues. Escolas Multisseriadas Rurais Altorionovenses (1959-1988): uma abordagem histórica. Relatório de iniciação científica referente ao edital 2020/2021. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2021.
LUIZ, Miriã Lúcia. Relatório do pós-doutorado: a experiência de profissionalização de professoras em escolas multisseriadas rurais do Espírito Santo (1980-2009). Porto: Universidade do Porto, Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2023.
MADEIRA, Ana Isabel; CABELEIRA, Helena. Apresentação do Projecto MRIR. In: MADEIRA, Ana Isabel; CABELEIRA, Helena; MAGALHÃES, Justino. Memórias resgatadas, identidades (re)construídas: experiências de escolarização, património e dinâmicas educativas locais. Lisboa: Edições Colibri; Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2022. p. 9-49.
ROMANELLI, O. História da Educação no Brasil. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
[1] Pesquisa Miriã https://www.youtube.com/watch?v=0cSooTEG-9A&t=8s
[2] Pesquisa Isabel https://www.youtube.com/watch?v=NSRMpQ0zOMM&t=1s
[3] A pesquisa de pós-doutorado, desenvolvida entre os meses de agosto de 2022 a outubro de 2023, foi realizada sob supervisão do professor Luciano Mendes de Faria Filho, na Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, e do professor Luís Grosso Correia, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal, no período de novembro de 2022 a julho de 2023.
[4] Cabe destacar que atualmente o desdobramento deste estudo se materializa em uma pesquisa contemplada pelo Edital Fapes nº. 003/2023 – Bolsa Pesquisador Capixaba (2023-2026) -, intitulada História de vida e de profissionalização de professoras de escolas multisseriadas rurais capixabas nas décadas de 1990 a 2000: Uma experiência etnobiográfica.

LUIZ, Miriã Lúcia. LOMBA, Maria Lúcia de Resende. MACEDO, Vanessa Costa de. Diálogos entre Brasil-Portugal e a História da Educação: profissionalização docente, práticas, tempos e espaços escolares. Revista Brasileira de Educação Básica, Belo Horizonte – online, Vol. 8, Número 33, Janeiro – Abril, 2025, ISSN 2526-1126. Disponível em: (link). Acesso em: XX(dia) XXX(mês). XXXX(ano).
Imagem de destaque: Escola Pluridocente Cristo Rei A e B – 1987 – Inês Vidal Vieira (hoje EMEF Germano Lorosa em homenagem ao Sr. Germano Lorosa, que doou o terreno – município de Domingos Martins – Espírito Santo)