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Protagonismo juvenil: a física que promove uma ação a favor da saúde visual

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Reginaldo de Oliveira Borges

Graduado em Física Licenciatura Plena pela UFMS, Mestrando em Ensino de Ciências pela UFMS. Atua como professor da Educação Básica na rede pública estadual e particular de Mato Grosso do Sul. Interessa-se por Análise do Discurso e História da Ciência.

E-mail: oliveirareginaldo35@gmail.com

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Hamilton Perez Soares Corrêa

Possui graduação em Bacharelado e Licenciatura em Física pela Universidade de São Paulo, Mestrado em Física pela Universidade Federal do Espírito Santo e Doutorado em Química pela Universidade Estadual Paulista. Atualmente é professor Adjunto do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Física da Matéria Condensada, Engenharia de Materiais e Metalúrgica. Desenvolve pesquisas, projetos e publicações na área de Educação em Física e Astronomia, Formação de Professores e Prática de Ensino de Ciências e de Física. Atua na Divulgação e Popularização da Ciência desde 2007, sendo atualmente o Coordenador de Capacitação da Casa da Ciência de Campo Grande, membro da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), líder do Grupo de Pesquisa do CNPq Ciências: Educação e Popularização.

E-mail: hamilton.correa@ufms.br

INTRODUÇÃO

A educação promovida no Brasil nas últimas décadas passou por diversas transformações pedagógicas no sentido de fugir do ensino tradicional centrado nos conteúdos. Em oposição ao ensino tradicional, podemos destacar a Renovada, Libertadora e a Crítico-social dos Conteúdos, tendências pedagógicas inovadoras que visam possibilitar a construção de um ensino mais libertador e que possa melhorar a leitura de mundo do educando (SAVIANI, 1997).

Os conceitos aprendidos devem se fazer presente nas ações do dia a dia, proporcionando ganho de criticidade por meio de uma alfabetização cientifica. Para isso busca-se uma escola que dê significado ao ensino/aprendizado por meio de projetos, pela interdisciplinaridade e por aulas dinâmicas e interativas (VALENTE, 1999).

Na atualidade, escolas com abordagens inovadoras contemplam as necessidades solicitadas pela sociedade contemporânea. Torna-se difícil imaginar educandos disponíveis para assistirem arguições de conteúdos ao longo de cinquenta minutos ininterruptos. É importante fomentar condições de apropriação de um conhecimento mais global e crítico, no qual o educando possa realizar mudanças em seu meio social. Em oposição, o ensino não inovador limita-se a mera condição de contemplação (COLVARA, 2015).

Reconhece-se a necessidade de mudanças na educação, por meio de estratégias de ensino problematizadoras, que permita promover uma formação do aluno-cidadão pelo saber escolar (BRASIL, 2001). A sociedade e a escola são objeto e imagem intermediados por um espelho temporal da realidade. De acordo com Gadotti, “Como instituição social, ela depende da sociedade e, para se transformar, depende também da relação que mantém com outras escolas, com as famílias, aprendendo em rede com elas, estabelecendo alianças com a sociedade, com a população (GADOTTI, 2007, p. 11).”

Para que ocorram mudanças na educação, faz-se necessário superar inúmeros desafios, entre os quais, romper com estruturas cristalizadas no fazer profissional dos educadores, que muitas vezes apoiam-se em soluções dentro dos modelos tradicionais de ensino. Os profissionais precisam dialogar com novas estratégias de ensino, que lhes permitam recuperar a essência da educação, proporcionando melhoras coletivas por meio de uma alfabetização científica, que possibilite um aprendizado efetivo e ganhos qualitativos na interação com o outro e com o mundo (RIVAS, 2005).

O trabalho pedagógico desenvolvido buscou estabelecer uma abordagem contextualizada e crítica para o aprendizado da óptica e, em particular, da óptica da visão. Por meio de atividades diferenciadas de experimentação, de sensibilização e de investigação, promoveu-se uma postura crítica do educando diante de sua realidade durante os momentos de aprendizado.

Como encaminhamento metodológico, os Três Momentos Pedagógicos (3MP) embasaram a elaboração das atividades que nortearam o desenvolvimento do trabalho. Os 3MP, propostos por Delizoicov (1982), baseiam-se nos momentos: Problematização Inicial (PI), Organização do Conhecimento (OC) e Aplicação do Conhecimento (AC).

Diante do apresentado, relatamos o resultado alcançado no momento AC, que proporcionou aos educandos aplicar o conhecimento aprendido sobre a visão e suas anomalias, de forma crítica e com consciência social, por meio de uma carta de reivindicação elaborada pelos educandos e encaminhada a gestores públicos da educação e do legislativo. Como resposta à carta encaminha, intitulada “Carta de Solicitação e Soluções”, ocorreram nessa escola ações públicas de promoção da saúde visual e, posteriormente, em outras escolas da cidade de Campo Grande (MS) pelo gestor estadual.

OS TRÊS MOMENTOS PEDAGÓGICOS (3MP)

A metodologia 3MP foi desenvolvida por DELIZOICOV (1982) e ANGOTTI (1981), por ocasião da diplomação de professores em Guiné-Bissau, alicerçados nos pensamentos de Paulo Freire sobre pesquisa temática. Essa investigação implica uma epistemologia que é didática, ou melhor, que busca um conhecimento científico alicerçado na realidade, não puro e neutro, mas que reflita nas bases culturais das comunidades.

Convém frisar que esse processo dialógico faz com que os professores reconheçam os conhecimentos prévios que os educandos têm sobre a temática apresentada e que lhes servirão na estruturação das novas situações de aprendizado (PERNAMBUCO, 1994). Essa dinâmica dos 3MP propõe promover a transposição da concepção de educação de Paulo Freire para o espaço da educação formal. Estruturada em:

Problematização Inicial: momento pedagógico em que os participantes são desestruturados da sua zona de conforto e convidados a exporem o que pensam sobre as situações expostas na temática apresentada, sendo que o professor coleta as informações geradas. A finalidade é propiciar a criticidade do educando ao se defrontar com os questionamentos de situações propostas e fazer com que sinta a necessidade de aquisição de outros conhecimentos.

Organização do Conhecimento: momento em que ocorre a orientação do professor, de maneira estruturada, os conhecimentos científicos são expostos para a compreensão dos questionamentos oriundos da PI.

Aplicação do Conhecimento: momento que se destina a abordar o conhecimento elaborado pelo educando para analisar, interpretar e responder questões. Tanto, as originárias nas situações iniciais que determinam o estudo, quanto, as que possam ser compreendidas pelo mesmo conhecimento.

Ao longo do desenvolvimento das atividades, além do uso dos 3MP, utilizamos as dinâmicas de interações (DI). As dinâmicas articulam experiências vivenciadas pelo indivíduo, de forma interativa, com outros indivíduos, em um meio controlado. As compreensões e mudanças de atitudes estão ligadas diretamente a uma consciência do indivíduo construída na sensibilização, em corroboração com seus pares e, assim, aprendida coletivamente.

Para essa experiência de reflexão e descoberta, foi necessário o envolvimento dos sujeitos e objetos. Os sujeitos são os indivíduos capazes de conhecer (desvelar), ou seja, os alunos e o professor, enquanto os objetos são tudo que pode ser conhecido (refletido, criticado), podendo ser algo físico/tangível, como um acontecimento, um produto ou um fenômeno (IMES, 2010). Isto o remete a um novo saber emergente, onde a provação desta vivência constrói saberes a partir das sensações geradas com o outro e com o meio que os acolhe. Esse saber vivencial traz elementos de suas experiências socioculturais. São experiências que possibilitam construir um homem histórico cultural moldado em seu ambiente natural, do qual todos nós fazemos parte (FREIRE, 2007).

METODOLOGIA

O trabalho realizou-se na “Escola Estadual Maestro Frederico Liebermann”, localizada em Campo Grande e pertencendo à rede pública estadual de Mato Grosso do Sul, com quinze educandos do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, entre quinze e dezoito anos. As atividades ocorreram no período contra turno, em dois encontros semanais, com duas horas cada. Os educandos participantes assinaram O Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) e os responsáveis, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

No momento da Problematização Inicial, foram levantados os conceitos dos educandos sobre: “luz e visão”, “lentes, espelhos e fontes luminosas”, “estrutura do olho e formação de imagem” e “tipos de anomalias ligas a visão”. Os conceitos foram levantados por meio de diálogos e discussões em grupo, onde puderam expor uma compreensão própria sobre eles.

Durante a PI, adotamos como dinâmicas dos encontros: a interação e dialogicidade no grupo e entre os grupos; roda de conversa para leitura, discussão, identificação e troca de ideias; organização de grupos de trabalho para o desenvolvimento de tarefas propostas nos encontros, como a elaboração de representações “alternativas” em 2D e 3D do olho; por meio das discussões, levantar as questões norteadoras usadas nos dois momentos pedagógicos subsequentes.

No momento da Organização do Conhecimento, foram trabalhados os conhecimentos científicos sobre: conceito de luz e sua construção histórica, a relação entre luz e visão, a representação anatômica 2D do olho, a representação física na formação da imagem no olho; as anomalias da visão, por meio da elaboração em 3D do olho emetrope; o estudo do espectro da luz e danos gerados ao olho pela luz UV.

Durante a OC, adotamos como dinâmicas: apresentação coletiva das produções realizadas pelos grupos; atividades teóricas e experimentais sobre os conceitos físicos da óptica e da visão, por meio do uso de datashow e vídeos; elaboração de representações científicas das estruturas em “2D e 3D do olho humano”; pesquisa sobre a saúde do olho em sites de universidades e de órgãos públicos de saúde.

No momento da Aplicação do Conhecimento, foram aplicados os conceitos da: óptica, formação de imagens na retina, aplicação de conceitos físicos na compreensão da estrutura do olho e suas principais anomalias; identificação das diferentes classes de espectros eletromagnéticos; prevenção e cuidados à saúde da visão.

Durante a AC, adotamos nos encontros: discussões em um ambiente favorável para a tomada de consciência social; orientação na busca de soluções coletivas para problemas sociais relacionados à saúde visual; promoção de produção textual individual e coletiva.

A ideia de confecção da carta pela turma, intitulada de “Carta de Solicitação e Soluções”, surge no momento de AC, a partir da indignação do grupo pela carência de locais públicos especializados, para consultas e tratamentos oftalmológicos, na cidade de Campo Grande.

A partir de pesquisa realizada pelos educandos, por meio de levantamentos de informações em sites das secretarias de saúde do estado e do município, constatou-se a precariedade de locais destinados para o atendimento à saúde visual. Sensibilizados com a situação dos munícipes diante de problemas ligados à saúde do visual, após reflexões a respeito das limitações e dificuldades que uma baixa visão pode causar na vida das pessoas, julgaram importante elaborar uma carta de reivindicação aos gestores públicos da educação e do legislativo de Mato Grosso do Sul, que descreveremos a seguir.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A elaboração da carta ocorreu em três etapas: i – Elaboração de fragmentos individuais e apresentados aos colegas em roda de conversa; ii – Elaboração de texto construído coletivamente, a partir da seleção dos fragmentos elaborados em i; iii – Elaboração da carta de reivindicação, intitulada “Carta de Solicitação e Sugestões”. O processo de construção da carta exigiu diversas rescritas e contou com auxílio do professor responsável pelo projeto, assessorado pelo professor de língua portuguesa do ensino médio do período regular. Tal ajuda permitiu que os educandos adequassem o texto à norma culta e ao uso correto dos termos científicos ligados às anomalias da visão.

Em uma breve descrição do processo, destacamos que, na primeira etapa, as contribuições ocorreram de forma individual, por meio de pequenos fragmentos de textos que, posteriormente, foram somados para compor um texto único pela turma. Os educandos foram incentivados a produzirem seus textos com liberdade, sugerindo fazê-los com suas próprias palavras e incentivando, paulatinamente, a enriquecê-los com argumentos sustentados com termos científicos apropriados.

Na segunda etapa, verificamos que ao promover a construção de um único texto, a turma priorizou relatar conceitos abordados nas atividades desenvolvidas no momento OC da pesquisa. Verificou-se que a linguagem tornou-se mais técnica. Em contrapartida, o texto apresentava falta de clareza no discurso, o que limitaria a leitura direta e clara pelos gestores públicos. Para auxiliar, o professor orientou os educandos a ressaltarem no texto a situação de carência coletiva da comunidade escolar, uma vez que, até aquele momento, encontrava-se desassistida de médico oftalmologista.

Na terceira etapa, diante da necessidade de se construir argumentos que pudessem sensibilizar os gestores públicos, os educandos necessitaram de dois meses para realizar as reformulações e chegar a uma escrita final da carta. Por fim, a carta finalizada foi protocolada em 16 de março de 2018 na Secretaria Estadual de Educação e enviada por correio eletrônico  a cinco deputados estaduais de Mato Grosso do Sul. Como critério de escolha dos deputados, foi usado o histórico de seus engajamentos e sensibilidade para questões sociais e promoção à saúde. Porém, apenas um respondeu, com um discurso genérico e sem muita solidez.

Diante do que foi solicitado, observamos que o retorno da Secretaria Estadual de Educação ocorreu por intermédio da Secretaria de Saúde. Sem comunicação direta ao professor e aos educandos participantes do projeto, após trinta dias do envio da carta, o governo do estado realizou uma ação de saúde na escola Estadual Maestro Frederico Liebermann com foco em consultas e exames oftalmológicos. Para muitos educandos, aquela foi a primeira vez que tiveram contato direto com médico oftalmologista. Após quarenta dias, em 25 de abril de 2018, o governo do Estado anunciou o seu programa “Caravana da Saúde nas escolas”. Acreditamos que a carta induziu os gestores públicos a realizarem as intervenções no ambiente escolar, não se limitando somente a escola no qual se realizou o projeto, mas para outras escolas estaduais.

O programa trouxe contentamento ao grupo do projeto, mesmo sem uma citação direta dos gestores públicos ao projeto e à carta.[1]

A seguir a versão final da carta de reivindicação.

Carta de solicitação e sugestões

Durante um pequeno período do ano letivo de 2017, os alunos da instituição de ensino público, Escola Estadual Maestro Frederico Liebermann, situada em Campo Grande (MS), estudaram e analisaram, com apoio do professor pesquisador Reginaldo de Oliveira Borges, a temática “Anomalias Ligadas à Visão”, onde surgem necessidades de ações para melhorias nos locais de atendimento à saúde do olho.
Para tanto, pedimos a criação de um Programa Itinerante de Saúde dos Olhos, com o desenvolvimento de equipes de oftalmologistas, que visitem as escolas, identificando, alertando e encaminhando o máximo possível para o tratamento da anomalia, caso exista. Por motivos diversos, nota-se no ensino básico uma série de dificuldades enfrentadas pelos alunos quando se trata da aprendizagem, estas dificuldades são ainda agravadas com as Anomalias da Visão.
Anomalias da visão são extremamente comuns, a miopia e hipermetropia são os principais exemplos, acometendo milhões de pessoas todos os anos. A maioria dos problemas de visão pode ter carga genética e aparecer em qualquer idade, evoluindo até casos graves se não for cuidada.
Quando um aluno tem miopia, por exemplo, ele inicialmente não se preocupa muito, se não pode ver o que está escrito no quadro, tudo o que ele tem que fazer é avançar uma ou duas carteiras para poder ver de novo, esta é uma ilusão que muitos jovens vivem, já que a miopia tende a aumentar se não for tratada.
A miopia é o excesso de curvatura da córnea, isso faz com que a imagem se forme antes da retina, seu ponto remoto, ou seja, o ponto mais distante que o olho vê nitidamente é diminuído, fazendo com que objetos a longa distância fiquem embaçados.
Logo, a miopia não afeta somente os estudos, tudo a longa distância é visto com dificuldade, isso pode causar certa perda na velocidade psicomotora do míope, já que este deve levar mais tempo para diferenciar os objetos a sua volta, isso é notado na sua locomoção, na prática de esportes, entre outros, pois não é possível focar em objetos próximos nesses momentos, devemos ver a longa distância, e a falta de nitidez dos objetos causa insegurança.
Pelo fato de forçar a vista, se torna comum ter dor de cabeça. A soma desses fatores pode causar estresse que, além de dificultar o convívio social, pode evoluir para sérias doenças.
A hipermetropia pode ser dita como oposta a miopia, trata-se da baixa curvatura da córnea que resulta na formação das imagens após a retina, deixando os objetos próximos embaçados. Por consequência, quando alguém não consegue ler um livro, revista ou tem dificuldade em fazer atividades do dia a dia que necessitam olhar de perto, provavelmente essa pessoa tem hipermetropia ou presbiopia.
A presbiopia tem efeito semelhante a hipermetropia, é a dificuldade em enxergar objetos próximos, porém sua causa é diferente, se trata do endurecimento do cristalino, outra lente convergente, que ocorre geralmente após os quarenta anos e tende a piorar conforme envelhece. Felizmente, essa e as outras anomalias tem tratamento ou podem ser prevenidas com cuidados básicos como a boa alimentação e higiene pessoal, principalmente o uso de óculos ou lentes caso tenha algum desses problemas.
Não podemos deixar de citar as doenças mais graves, a maioria delas podem levar a cegueira se não tratada. A catarata, por exemplo, é o escurecimento do cristalino, que ocorre por receber alta luminosidade, por isso, é aconselhado o uso de óculos escuros (originais) que diminuem a incidência de raios luminosos. A catarata é comum em pessoas com idade avançada, sua principal característica é uma mancha branca na pupila.
O glaucoma é uma anomalia grave devido à dificuldade de ser percebida, trata-se do aumento da pressão do globo ocular, afetando o nervo óptico, que faz com que haja a perda definitiva da visão periférica aos poucos, o que é difícil de ser notado.
O estrabismo (vesguice) é o desalinhamento de um ou dois olhos da direção correta, em casos graves, o cérebro descarta a visão de um dos olhos. Se descoberto na infância pode ser tratado quase completamente.
No astigmatismo a córnea não apresenta simetria, esta apresenta curvaturas irregulares, várias imagens chegam a retina causando a visão dupla ou embaçada, como resultado, tudo a curta e a longa distância é distorcido ou embaçado, por conta disso, o astigmata é suscetível a todos os perigos enfrentados pelo míope e pelo hipermetrope.
O astigmatismo pode estar presente desde o nascimento ou surgir com uma lesão, cirurgia, ou até mesmo coçar os olhos, pode ser tratado com óculos/lentes ou por meio de uma cirurgia.
Portanto, é importante ressaltar que para evitar maiores problemas, indica-se que sejam feitas consultas regulares a um oftalmologista, ir urgentemente caso seja notado algo diferente na visão, e de 1 em 1 ano caso tenha alguma anomalia, não apenas para checar o grau mas também o aparecimento de novas anomalias.
Mediante a quantidade de casos de problemas de visão e a situação carência em que se encontra a saúde pública, pedimos a atenção dos senhores para o desenvolvimento de projetos visando ao tratamento e a prevenção das anomalias da visão, tão comuns e tão prejudiciais ao nosso desenvolvimento. Através de algumas pesquisas, relatamos a baixa quantidade de oftalmologistas que atendem em postos públicos, dificultando a identificação e tratamento dos problemas de visão.
Finalizando a nossa carta, voltamos solicitar a criação de um Programa Itinerante de Saúde dos Olhos, com desenvolvimento de equipes de oftalmologista, que visitem as escolas, identificando, alertando e encaminhando o máximo possível para o tratamento da anomalia, caso exista. Um auxílio para conseguir armações, que devido ao preço, dificulta ainda mais o tratamento. As armações poderiam vir através de um investimento do estado, ou até mesmo da doação pela população de armações usadas.

Na leitura da carta percebemos a preocupação dos educandos em articular os conceitos científicos aprendidos, conforme verificamos no parágrafo: “Anomalias da visão são extremamente comuns, a miopia e hipermetropia são os principais exemplos, acometendo milhões de pessoas todos os anos. A maioria dos problemas de visão pode ter carga genética e aparecer em qualquer idade, evoluindo até casos graves, se não for cuidada.”

No entanto, percebemos que os educandos apresentam reflexões e sugestões para se promover mudanças em seu contexto social, conforme se apresenta no trecho:

Mediante a quantidade de casos de problemas de visão e a situação carência em que se encontra a saúde pública, pedimos a atenção dos senhores para o desenvolvimento de projetos visando ao tratamento e a prevenção das anomalias da visão, tão comuns e tão prejudiciais ao nosso desenvolvimento. Através de algumas pesquisas, relatamos a baixa quantidade de oftalmologistas que atendem em postos públicos, dificultando a identificação e tratamento dos problemas de visão. (BRASIL, 2018).

Nessa perspectiva, a carta dos educandos apresenta uma visão crítica sobre o tema, construída durante as atividades desenvolvidas nos momentos PI, OC e AC, e emergem no texto como conhecimento crítico, subsidiando os argumentos apresentados aos gestores públicos.

Assim, conforme aponta FONSECA (2012), o conhecimento é o “produto” resultante da relação que se estabelece entre o sujeito (consciência) que conhece e o objeto (mundo) a ser conhecido. Corroborando com Freire, somente por meio de um procedimento de diálogo e conscientização, em uma educação problematizadora, o ser humano deixará de ser tratado como objeto, para se transformar plenamente em pessoa consciente de si e de seu papel histórico no mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do conhecimento pelo educando é um aspecto do processo de ensino e aprendizagem muito relevante, pois reflete seu aprendizado, sua apropriação de conhecimento e o desenvolvimento de suas habilidades, ou seja, a aprendizagem ocorre quando o educando realiza seu conhecimento (SOLÉ, 2006).

Ao proporcionar aos educandos um projeto temático em bases problematizadoras, que elabora o ensino/aprendizagem de conceitos científicos em um contexto social, promovemos as condições para a formação de um “pensamento crítico” em nossos educandos. Tal promoção pode modificar situações que, até outrora, passavam por circunstâncias imperceptíveis em suas interações sociais.

A problematização permitiu a organização e aplicação dos conhecimentos, como forma de se estruturar o ensino, e o uso de dinâmicas de interações potencializou o aprendizado. A elaboração da Carta de Solicitação e Soluções permitiu construir um olhar inovador para o papel da escola e sua interação com a sociedade.

Acreditamos ser este o caminho da educação contemporânea, propiciar aos educandos um agir diferente frente às questões sociais. A escola proporciona a formação cidadã, por meio de uma alfabetização cientifica e consciência social. A promoção de um “pensamento crítico” com a criação de condições para o educando intervir em seu meio de convívio.

Mesmo não havendo retorno direto das secretarias estaduais de educação e de saúde aos participantes do projeto, é de grande satisfação observar como nossas ações podem transformar nossa realidade social, levando-nos a superar nossos limites. A formação cidadã se dá por meio de conhecimento e de mudanças reais, protagonizadas por nossas ações em nosso dia a dia.

 

 

 

REFERÊNCIAS

ANGOTTI, J. A. P. Solução alternativa para a formação de professores de Ciências: um projeto educacional desenvolvido na Guiné Bissau. 188 f. 1982. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais/ Ministério da educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. Brasília: A secretaria, 2001. 136 p.

COLVARA, Laurence Duarte et al. Núcleos de Ensino da UNESP: artigos 2014: Coleção PROGRAD (UNESP), 2015. v. 2: metodologias de ensino e a apropriação de conhecimento pelos alunos.

DELIZOICOV, D. Concepção problematizadora para o ensino de ciências na educação formal: relato e análise de uma prática educacional na Guine-Bissau. Instituto de Física, USP. São Paulo, 1982. p. 227.

______; ANGOTTI, J. A. P. Física. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

______; ______.; PERNAMBUCO, M.M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.

FONSECA, Regina Célia Veiga da. Metodologia do trabalho científico. 2012.

GADOTTI, Moacir. A escola e o professor: Paulo Freire e a paixão de ensinar. São Paulo: Publisher Brasil, 2007.

Instituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/c Ltda(IMES). Metodologia do trabalho científico: material didático. Salvador: FTC-Digital, 2010.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2006.

PERNAMBUCO, M. M. C. A. Significações e realidade: conhecimento (a construção coletiva do programa). In: PONTUSCHKA, N. (Org.). Ousadia no diálogo: interdisciplinaridade na escola pública. São Paulo: Loyola, 1994.

RIVAS, Noeli Prestes Padilha et al. A (re)significação do Trabalho Docente no Espaço Escolar: currículo e formação. Formação Continuada de Professores. Universidade de Ribeirão Preto-UNAERP e Faculdade de Filosofia Ciências e Letras-USP–RP, 2005.

SAVIANI. Dermeval. Escola e democracia. 31. ed. Campinas: Autores Associados, 1997.

COLL, C.; SOLÉ, I. Os professores e a concepção construtivista in O construtivismo na sala de aula. Trad. Claudia Schilling São Paulo: Ática, 2009.

VALENTE, J. A. (Org.). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: NIED/Unicamp, 1999.

[1] Cf.: BRASIL, 2018. Disponível em: <http://www.caravanadasaude.ms.gov.br/2018/04/caravana-nas-escolas-vai-promover-a-motivacao-de-alunos-e-o-bom-desempenho-escolar/> Acesso em:

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