Iniciacaocientifica

Contribuições do PIBIC-EM para a integração do curso técnico em Agropecuária no IF Goiano Campus Urutaí (2009-2015)

IMG_20160622_201859023_HDR

Silvia Aparecida Caixeta Issa

Licenciada em Pedagogia e Matemática, pedagoga do IFGoiano Campus Urutaí, doutoranda em Educação do PPGED da Universidade Federal de Uberlândia  (UFU).

E-mail: silvia.caixeta@ifgoiano.edu.br

Maria Angelica 1

Maria Angélica Gonçalves de Araujo

Possui graduação em Zootecnia pela Faculdade de Zootecnia de Uberaba (1985). Atualmente é professora de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal Goiano- Campus Urutaí. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Avicultura e pequenos animais. Desenvolve pesquisas em ambiencia animal e tem mestrado em ambiencia de aves.

E-mail: maria.araujo@ifgoiano.edu.br

IMG-20170827-WA0032

Carla Geovanna Caixeta Issa

Atualmente cursando Bacharelado em Agronomia no Instituto Federal Goiano – campus Urutaí – GO. Atualmente é Bolsista do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC/ Instituto Federal Goiano- Campus Urutaí) no LABIOTEC – Laboratório de Biotecnologia em projetos e pesquisas realizadas no mesmo, com ênfase em Produção Vegetal e Biotecnologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Cerrado, nativas, Cultura de Tecidos Vegetais com florestais nativas, frutíferas, culturas anuais e ornamentais; Meio ambiente; Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável; possui experiência em técnicas de Biossegurança.

E-mail: carlaisssa@gmail.com

INTRODUÇÃO

Com foco na criação de uma cultura científica, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-EM) é dirigido aos estudantes do ensino médio e profissional com a finalidade de contribuir para a formação de cidadãos plenos, conscientes e participativos, despertando a vocação científica e incentivando potenciais pesquisadores mediante participação em atividades de educação científica e tecnológica, orientadas por pesquisadores qualificados de instituições de ensino superior, centros de pesquisa ou institutos tecnológicos.

Diante dessa política de desenvolvimento da ciência, o Instituto Federal (IF) Goiano de Urutaí implantou e desenvolveu projetos de pesquisa nos cursos integrados ao ensino médio existente na instituição. Nesse contexto, os projetos desenvolvidos com os alunos do curso técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio foram avaliados quanto à integração dos conteúdos da área técnica e propedêutica.

Na regulamentação dada pelo Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004, instituído no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mantém-se a educação profissional como etapa formativa própria, contudo, no nível médio, abre-se a possibilidade à oferta integrada entre profissional e ensino médio (BRASIL, 2004). Com as alterações, passavam a figurar duas concepções em relação ao vínculo entre educação profissional e ensino médio: uma em que a educação profissional é parte do ensino médio, devendo realizar-se de forma integrada, constituindo um mesmo curso, e a outra concomitante com matrícula distinta para cada curso médio e técnico e subsequente para pessoas que terminaram o ensino médio e escolheram estudar em um curso técnico.

Os professores que atuavam na educação média e técnica têm como objetivo “fornecer uma sólida e atualizada formação científica, tecnológica, cultural e ética aos seus alunos, de promover as oportunidades que levem ao desenvolvimento da criatividade e do pensamento autônomo e crítico, de fomentar o gosto pela aprendizagem e hábitos de autoaprendizagem, de formar, enfim, pessoas abertas, interessadas, curiosas, críticas, solidárias e de iniciativa” (MACHADO, 2010, p. 80).

O início do programa no IF Goiano de Urutaí ocorreu em 2009 e a instituição conta, atualmente, com 26 bolsas de iniciação científica ao todo, sendo 6 delas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e 20 do Pibic-EM. A instituição ainda mantém bolsas do Programa Institucional de Voluntariado para cursos técnicos. Os maiores números de projetos executados são das Ciências Agrárias, dividido em produção animal e vegetal, e áreas afins.

Como política de formação integral, os discentes são estimulados a se envolverem com atividades de pesquisa e a participarem de eventos regionais e nacionais, em que são divulgadas as experiências adquiridas nessas atividades. Os discentes tem participação ativa, desde a concepção do projeto até coleta de dados, análise estatística, redação técnico-científica e divulgação dos resultados. Espera-se, com isso, despertar o interesse dos alunos para novas possibilidades de atuação em empresas do setor agrícola e mesmo a continuação dos estudos em cursos de graduação.

O CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA INTEGRADO AO ENSINO MÉDIO NO IF GOIANO DE URUTAÍ (2009-2015)

De 2008 a 2015, o número de matrículas no curso técnico em agropecuária integrado ao ensino médio aumentou devido à política implementada pelo governo federal de expansão de vagas na rede federal. A análise da Tabela 1 possibilita verificar o crescimento do número de alunos.

Tabela 1 ‒ Relação da quantidade de alunos por ano letivoFonte: Secretaria de Ensino Médio e Técnico do IF Goiano de Urutaí (2015)

Diante do aumento dos alunos, a instituição teve que contratar novos professores. Em 2013, ministrando aulas no curso técnico em agropecuária na área técnica havia 19 professores, sendo 18 efetivos e 1 substituto. Entre os efetivos, havia 12 doutores, 5 mestres e apenas 1 com especialização. No ensino propedêutico, havia 29 professores, sendo 13 efetivos, 12 substitutos, 3 emprestados das prefeituras de Urutaí e Ipameri e 1 emprestado da Secretaria Estadual de Educação do Estado de Goiás.

No ano de 2013, 44% dos professores da área propedêutica eram efetivos contra 94,7% efetivos na área técnica. Devido a novos concursos para professores licenciados em 2015, a situação já era outra, sendo 68% dos professores efetivos nas disciplinas do Ensino Médio e 73% dos professores efetivos da área técnica. O número de efetivos na área técnica caiu devido a saídas de docentes para aperfeiçoamento profissional.

O curso técnico em agropecuária apresenta carga horária maior nas disciplinas da área propedêutica. No primeiro ano, foram contabilizadas 25 aulas semanais contra 11 horas aulas da área técnica; no segundo ano, 24 aulas semanais de disciplinas do ensino médio e 12 disciplinas técnicas; no terceiro ano, a diferença aumenta, 27 do Ensino Médio e 9 do ensino técnico. Essa desigualdade exige cada vez mais a integração entre as disciplinas para propiciar aos alunos o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas utilizadas na produção, ou seja, uma formação politécnica – a politecnia diz respeito ao “domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho moderno” (SAVIANI, 2003, p. 140).

Nesse período, a coordenadoria do curso técnico em agropecuária promoveu uma vez por ano a Semana da Agropecuária (Agrotec). Nesta semana, vários cursos foram promovidos com a finalidade de oportunizar as recentes inovações na área de agricultura e pecuária com objetivo de não só suprir a carência de práticas na parte técnica, como também uma formação humana em sua totalidade, um ensino que integre “ciência e cultura, humanismo e tecnologia, visando ao desenvolvimento de todas as potencialidades humanas” (RAMOS, 2010, p. 44). Foi por essa perspectiva de atingir um ensino que promova uma profissionalização ampla e integral que os projetos do Pibic-EM no IF Goiano de Urutaí foram analisados.

 

OS PROJETOS DO PIBIC-EM DIRECIONADOS À PECUÁRIA

Os projetos localizados e selecionados para análise foram: Ganho de peso de leitões em crescimento criados sobre a cama (VIANA, 2010a); Efeito do extrato de urucum no tratamento com sorgo na pigmentação e produção de ovos de poedeiras comerciais (2011); Bem-estar animal na suinocultura intensiva: desenvolvimento de técnicas enriquecimento na fase de maternidade (2014).

O projeto Ganho de peso de leitões em crescimento criados sobre a cama, desenvolvido sob a orientação do professor Eduardo de Faria Viana, tinha como objetivo “Avaliar os efeitos da utilização de cama sobreposta (palha de arroz) sobre o ganho em peso de leitões mestiços (1/2 Pietrain x Duroc) na fase de crescimento, em comparação ao sistema convencional de criação, nas condições da U.E.P. – Suinocultura do IFG Campus Urutaí” (VIANA, 2010a, p. 3).

O projeto demandou atividades e saberes técnicos e propedêuticos do aluno, pois era ele que realizava as atividades exigidas no desenvolvimento do projeto de pesquisa. O relatório final do projeto revela os conhecimentos exigidos para a realização dele:

Definição das baias experimentais, diagnóstico e medição das baias, deposição da palha de arroz em uma das baias, seleção dos animais, pesagem e identificação dos animais, distribuição aleatória dos animais nas baias, preparo da ração, fornecimento da ração, pesagens dos animais, pesagens das sobras de ração nos comedouros, reviragem da cama, retirada de porções da cama com excesso de umidade, organização dos dados em tabelas, análise estatística dos dados (teste de média). (VIANA, 2010b, p. 1)

O projeto possibilitou desenvolver conhecimentos técnicos (preparo de ração, condições das baias e identificar os animais) e aplicar conhecimentos matemáticos (área das baias, medida de massa e análise estatística dos dados da pesquisa). Ao final do trabalho, chegaram à conclusão que “a utilização da cama sobreposta não afetou o desempenho produtivo de leitões em crescimento” (VIANA, 2010b, p. 4).

No mesmo ano, a professora Maria Angélica participou do desenvolvimento do projeto Efeito do extrato de urucum no tratamento com sorgo na pigmentação e produção de ovos de poedeiras comerciais. Esta pesquisa apresenta um ponto relevante, sendo que o pesquisador integra a pesquisa com uma professora da área propedêutica. De acordo com o autor do projeto, José Lopes Dourado Neto, a pesquisa “tem como desafio a organização do tema de maneira a garantir a construção do conhecimento e aprendizagem através da interação entre professores e alunos de forma dinâmica, ultrapassando as paredes de sala de aula” (DOURADO NETO, 2011, p. 4). O pesquisador reconhece que o estudo possibilitou conhecimento aos alunos e aos docentes, “agregado ao processo de conhecimento dos alunos está o aprendizado dos pesquisadores envolvidos” (DOURADO NETO, 2011, p. 8).

A construção coletiva supera os processos previamente organizados e, assim, alunos e professores passam a ser sujeitos do conhecimento. Lucília Machado, analisando a educação integrada e a ação didática, observa que,

O processo educativo da modalidade do ensino integrado pode, para tanto, recorrer a propostas de ação didática que dialoguem e contribuam para o desenvolvimento de formas organizativas de alunos e professores que sejam instâncias mediante as quais possam contribuir para intervir na realidade social em que vivem (MACHADO, 2010, p. 89).

A estratégia foi pautada por princípios, postulados e objetivos voltados para a implementação de processos sustentáveis de dinamização econômica. Brandão (2002, p. 83) afirma que “desde os primeiros ‘tempos de escola’ este educando-cidadão deveria ser a pessoa participante de contextos de vivências partilhadas do aprender-a-saber e do saber-aprender, cujo resultado, sempre instável e aperfeiçoável, é o sujeito progressivamente senhor de sua vida e de seu destino”.

Nesse sentido, o projeto Bem-estar animal na suinocultura intensiva: desenvolvimento de técnicas de enriquecimento na fase de maternidade dos autores Adriana da Silva Santos e Carlos José de Souza Neto tem como objetivo “avaliar as técnicas de enriquecimento ambiental nas fases de maternidade e crescimento, de modo a diminuir os comportamentos anormais que causam, respectivamente, lesões de articulações e pele, e lesões por agressividade e vícios (como a caudofagia)” (SANTOS; SOUZA NETO, 2014, p. 3).

O projeto demandava um acompanhamento diário dos suínos para avaliar o comportamento dos animais e, assim, realizar as avaliações necessárias. No relatório parcial realizado pelo aluno, fica evidente a dificuldade em realizar as observações diariamente devido à carga horária do curso técnico integrado em agropecuária. “A carga horária extensa do curso técnico integrado ao médio dificultou observações diárias, entretanto, foi possível a avaliação das fêmeas e leitegadas na maternidade por pelo menos dois dias semanais” (SANTOS; SOUZA NETO, 2013, p. 4).

O estudo sobre suínos exigiu conhecimentos técnicos de pecuária e matemática ao realizar análise estatística de cada fase em que foi usada análise de variância com teste de Turkey, além de compreender a importância do bem estar animal e as exigências do mercado consumidor da carne brasileira no mundo.

Os alunos necessitavam apresentar dados e realizar relatórios para enviar ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), quando bolsistas do órgão, e para a Diretoria de Pesquisa, quando bolsistas do IF Goiano de Urutaí, entre outras atividades, como: escrever planos de trabalhos, organizar apresentações em powerpoint, organizar pôsteres, fazer resumos e resumos expandidos, escrever artigos para apresentar as pesquisas em eventos científicos. Essas habilidades que a pesquisa requer são fatores que dificultavam o andamento, pois os alunos apresentavam dificuldade de escrita que um trabalho cientifico empreende.

Os alunos necessitavam da orientação dos docentes durante todo o período do projeto, porém alguns desistiam por uma grande variedade de motivos, como dificuldade em buscar os objetivos do projeto, falta de interesse em cumprir toda etapa apresentada, dificuldade em discutir os resultados na apresentação final e até mesmo dificuldade em abrir uma conta no banco. O acúmulo de carga, em média, 15 disciplinas anuais, compromete o tempo de dedicação aos projetos e também a formação complementar, com atividades culturais e estágios de vivência nas comunidades rurais locais, o que também é necessário para uma formação profissional que possa dar condições de o jovem do curso técnico em agropecuária se emancipar, atendendo assim às reais demandas que o mundo do trabalho exige atualmente.

 

CONSIDERAÇÕES

O programa Pibic-EM no IF Goiano de Urutaí contribuiu para a interação entre docente-docente, docente-técnico, docente-estudante e técnico-estudante, além de propiciar a interlocução de várias áreas de conhecimento, em especial os conhecimentos de Matemática, Informática e Língua Portuguesa. Possibilitou, assim, uma formação integral dos alunos e a indissociabilidade entre educação e prática social, como também entre teoria e prática, além da superação da fragmentação do conhecimento da segmentação da organização curricular e da consolidação da formação de profissionais que possam atuar de forma dinâmica na sociedade.

 

 

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R. A educação popular na escola cidadã. Petrópolis: Vozes, 2002.

BRASIL. Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências. Poder Executivo. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jul. 2004. Seção 1, p. 18. Disponível em: <http://bit.ly/1SbSE5P>. Acesso em: 28 jul. 2017.

DOURADO NETO, J. L. Efeito do extrato de urucum no tratamento com sorgo na pigmentação e produção de ovos de poedeiras comerciais. 2011. Iniciação científica (Graduando em Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio) ‒ Instituto Federal Goiano, Urutaí, 2011. Projeto do PIBIC-EM.

MACHADO, L. Ensino médio e técnico com currículos integrados: propostas de ação didática para uma relação não fantasiosa. In: MOLL, J. (Org.). Educação profissional e tecnológica no Brasil contemporâneo: desafios, tensões e possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 80-95.

MOLL, J. (Org.). Educação profissional e tecnológica no Brasil contemporâneo: desafios, tensões e possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2010.

RAMOS, M. Ensino Médio Integrado: ciência, trabalho e cultura na relação entre educação profissional e educação básica. In: MOLL, J. (Org.). Educação profissional e tecnológica no Brasil contemporâneo: desafios, tensões e possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 42-57.

SANTOS, A. S.; SOUZA NETO, C. J. Bem-estar animal na suinocultura intensiva: desenvolvimento de técnicas enriquecimento na fase de maternidade. Relatório parcial. Instituto Federal Goiano, Urutaí, 2013. Projeto do PIBIC-EM.

______. Bem-estar animal na suinocultura intensiva: desenvolvimento de técnicas enriquecimento na fase de maternidade. Instituto Federal Goiano, Urutaí, 2014. Projeto do PIBIC-EM.

SAVIANI, D. O choque teórico da politecnia. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 131-152, 2003. Disponível em: <http://bit.ly/2w6SJ6b>. Acesso em: 28 jul. 2017.

VIANA, E. F. Ganho de peso de leitões em crescimento criados sobre a cama. Instituto Federal Goiano, Urutaí, 2010a. Projeto do PIBIC-EM.

______. Ganho de peso de leitões em crescimento criados sobre a cama. 2010. Relatório final. Instituto Federal Goiano, Urutaí, 2010b. Projeto do PIBIC-EM.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *