Editorial
Novas gerações e novas questões atravessam o espaço da escola. Aquecimento global, ameaças ao estado de direito, novas ferramentas e novos usos da tecnologias são alguns dos desafios que professoras e professores lidam cotidianamente.
Algumas dessas questões colocam a percepção do tempo como ponto central e aqui destaco as noções de futuro nesta edição. Em nossos cotidianos o chamado progresso dos avanços técnicos e científicos, não necessariamente, nos trazem maior confiança em mais conhecimento, mais bem estar, ainda que sejam colocados como indicativos de avanço.
Por outro lado, a democratização do acesso à escola, a inclusão, a ampliação do atendimento da educação básica, o pensamento decolonial, a ampliação do debate climático nos aparece como modos de sonhar outros futuros possíveis dissociados e até mesmo críticos do chamado progresso científico.
É justamente sobre outros futuros possíveis que vamos destacar nesta edição como professoras e professores desenham nas suas atuações docentes cenários que se realizam por meio de métodos, posturas críticas e alternativas nos processos escolares com estudantes em sala de aula, na formação inicial de professores e por meio da investigação.
Vamos conhecer o que temos no número 33 da RBEB?
Como o setor educativo do museu e suas memórias podem nos ajudar a pensar se o ensino de História é uma ação, uma práxis a contrapelo, um laboratório ou um teatro da memória como nos instiga a pensar Ulpiano Menezes.
Essa questão que Júlio César Virgínio da Costa, professor de História do Centro Pedagógico da UFMG e as estudantes de Licenciatura em História Ana Clara de Sousa Duarte e Maria Eduarda Soares Simões respondem no artigo Ensino de História no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG: colonial ou decolonial? No artigo as autoras identificam os limites e as possibilidades institucionais para a execução de um trabalho decolonial no espaço do museu. Aqui cabe nos perguntar como os espaços institucionais absorvem orientações pensadas a partir de novas proposições epistemológicas presentes na formação inicial de professores de História.
A professora de Língua Portuguesa da Escola Municipal Noel Alves de Oliveira na cidade de Vieirópolis na Paraíba, Valdiza Alves Gadelha Trigueiro apresenta as possibilidades de integração da tecnologia na prática pedagógica a partir de indicações de professoras.
A sala de aula do futuro pode ser imaginada como um espaço inclusivo de troca de saberes de modo inovador, onde vários recursos podem ser usados possibilitando o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de forma significativa com inserção e utilização das tecnologias.
As opiniões das professoras entrevistadas sobre o tema, podem ser acessadas no artigo Desafios e oportunidades na integração da tecnologia na prática pedagógica: uma análise na perspectiva do professor no Ensino Fundamental.
Já no artigo da Laila Paula Sousa Camilo Ribeiro, pesquisadora, gestora e professora na Escola Municipal Amâncio Bernardes em Santo Antônio do Monte, Minas Gerais, atravessamos a partir da sua pesquisa com dados oficiais, revisão bibliográfica e percepção dos educadores durante a pandemia da Covid-19, onde o futuro do ensino remoto foi antecipado. O artigo O desenvolvimento do trabalho pedagógico realizado em escolas do interior de Minas Gerais, no período pandêmico COVID-19 se propôs:
(…) inicialmente, apontamos a conjuntura de fatos que desestabilizou o sistema de ensino público estadual no princípio do ano de 2020. A seguir, como os professores se reinventaram a fim de atender às demandas que a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais (SEE) lhes atribuiu neste plano de contenção chamado Reanp. E, por fim, como os estudantes e suas famílias receberam este esquema totalmente inédito de educação em suas vidas e as considerações finais.
Ainda sobre um “futuro antecipado” imposto pela Covid-19, temos o artigo Sobre o ensino de Matemática na pandemia de COVID-19 de autoria da professora da Faculdade de Educação da UFMG, Samira Zaidan e a professora de Matemática nos anos finais do Ensino Fundamental, Daienny Aleixo Silva. Por meio de entrevistas realizadas em duas escolas de Belo Horizonte (MG) as autoras buscaram relacionar ações e sentimentos das professoras durante o período pandêmico. O texto destaca especialmente o uso de novos métodos e tecnologias, mas o quanto que a criatividade e improviso das professoras possibilitaram o reforço da importância da experiência escolar.
Eu contratei um carro de som, então a tecnologia velha funcionou, o pessoal achou o máximo, algumas escolas até copiaram… para dar os recados para a comunidade. Então passava o carro de som, todos os recados que eu precisava dar, eu mandava.
No texto Formação de grupos de alta performance na ABP há uma preocupação do desenvolvimento de competências e habilidades para o século XXI e em trazer para a sala de aula métodos inovadores para o aprendizado diante da diversidade dos estudantes em sala de aula. Diante desta orientação o pesquisador em Tecnologias da Informação e Comunicação, pelo Centro de Educação da UFAL e professor Evandro Coelho dos Santos Filho apresenta o guia didático para formação de grupos de alta performance na Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). O texto também conta com a autoria de Evandro Coelho dos Santos Filho, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
O guia didático, desenvolvido para a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), emerge como uma ferramenta crucial para a prática pedagógica cotidiana dos profissionais da educação, considerando a diversidade de cenários educativos possíveis. Sua adaptação flexível permite que seja aplicado em diferentes contextos, atendendo às necessidades específicas de cada ambiente de aprendizagem.
No artigo Diálogos entre Brasil-Portugal e a História da educação: profissionalização docente, práticas, tempos e espaços escolares destaco que:
as interações entre as universidades nos possibilitaram investigar outros modos de pensar a escolarização e de praticar a docência, considerando as realidades das escolas do campo no Brasil e em Portugal possibilitado pelo intercâmbio de experiências que ocorreram no Seminário Memórias, identidades e profissionalização docente: diálogos Brasil-Portugal.
O evento foi promovido pela Revista Brasileira de Educação Básica (RBEB) e pelo Programa de Extensão Pensar a Educação, ambos vinculados à Faculdade da Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG).
Neste texto as autoras Miriã Lúcia Luiz, Maria Lúcia de Resende Lomba e eu, Vanessa Macêdo apresentamos dois estudos: a) um desenvolvido por Miriã Lúcia Luiz, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em estágio pós-doutoral, intitulado A experiência de profissionalização de professoras em escolas multisseriadas rurais do Espírito Santo (1980-2009), e o outro por Ana Isabel Madeira, professora da Universidade de Lisboa, intitulado Memórias Resgatadas, Identidades (Re)construídas (MRIR): experiências de escolarização, património e dinâmicas educativas locais, que se encontra estruturado em três eixos, memória, patrimônio e educação.
Fechando as contribuições em formato de artigo, os autores Fábio Souza Correa Lima, professor da UFAM e Ana Caroline Pantoja Santos Licencianda em História pela UFAM buscam apresentar a escravização de indígenas na região amazônica entre os séculos XVII e XIX, destacando os métodos usados pelos colonizadores para subjugá-los, como os Descimentos, os Resgates e as Guerras Justas. O texto A escravização de indígenas em manaus: apontamentos sobre os descimentos, os resgates e as guerras justas, entre os séculos XVII e XIX
(…) entende-se que os indígenas sempre foram vistos como instrumento nas mãos de colonizadores. As mudanças ao longo dos anos camuflaram as atitudes de escravidão com esses indivíduos, e a sociedade moldada pelos costumes franceses necessitava de sujeitos que fossem subjugados para manter tal estilo de vida. Sendo assim, fazendo o uso dos vários meios para se escravizar, os colonizadores utilizaram os indígenas para se estabelecer e, nesse sentido, instituir sua cultura.
A edição ainda conta com as resenhas dos livros Luciano Mendes de Faria Filho: Um pensador engajado de autoria de Maria Lúcia de Resende Lomba e do livro História, Política e Educação: da construção à desconstrução da Escola Primária Paulista de Géssica Priscila Ramos, além do evento de formação proferido pela professora da Faculdade de Educação Libéria Neves Conversa com as psicólogas e psicólogos do Projeto PAS, da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte oferecido pelo Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (CAPE) – Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
São esses os cruzamentos que faço com as contribuições enviadas para a Revista Brasileira de Educação Básica, boa leitura e que outros enlaces também possam ser feitos na sua leitura.
Até logo mais!
Vanessa Macêdo
Eu sou a editora executiva da Revista Brasileira de Educação Básica e com a equipe do Programa de Extensão Pensar a Educação Pensar o Brasil construímos cotidianamente estratégias para fazer circular as ações, reflexões e investigações de professoras, professores e pesquisadores do largo campo da Educação. Sou doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG e pesquisei projetos editoriais na década de 1930 e 1940 onde o debate da educação se estabeleceu e construiu diversas políticas que temos hoje. Também sou historiadora pela UFCG e fiz meu mestrado em educação na UFPB. Sou paraibana e vivo em Belo Horizonte desde 2012. Tenho construído minha carreira no campo da Educação entre a pesquisa, a editoração e a divulgação cientíca. Meus interesses investigativos estão ligados ao trabalho que desenvolvo neste periódico desde 2018, ou seja, contribuir para a compreensão dos modos de circulação das práticas docentes na divulgação do conhecimento e do seu debate na esfera pública. CURRÍCULO LATTES
Email: vcmacedo@gmail.com