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Em quem eu penso quando escrevo um artigo?

Quando nos sentamos para escrever um texto, diversas questões surgem para nos orientar. Em textos acadêmicos geralmente pensamos no nosso tema focal, nos dados coletados, nas referências que nortearam aquele trabalho e para atribuir valor ao tempo investido tendemos a pensar nas palavras mais complexas para descrever o que quer que seja que estamos tentando provar.

Um texto acadêmico exige uma série de regras de imensa importância, objetividade, impessoalidade, referências, regras de diagramação definidas, tudo isso dentro de uma estrutura que vai apresentar introdução, metodologia, desenvolvimento e resultados. Elementos que não só caracterizam, mas também nos ajudam a garantir a qualidade do texto. Mas para quem eu escrevo dessa forma? Seria para algum(a) docente com pós-doutorado, doutorado ou talvez um discente no final de algum curso? Será que meu texto poderia ser acessado e compreendido por uma pessoa no ensino médio? Por uma pessoa de uma área diferente da minha? Talvez por uma pessoa que está pensando em estudar a mesma temática que eu?

Em outros gêneros textuais, para além de pensar na composição e explanação de ideias, pensamos também no nosso público-alvo, que pode ser definido em diversos critérios como gênero, idade, escolaridade e até mesmo sexualidade. Quando escrevo pensando em quem vai ler aquela mensagem, minha possibilidade de conectar com esse possível leitor aumenta, consequência da escolha de palavras, estrutura textual e até mesmo de narrativa.

Estes elementos contribuem muito para gerar interesse, mas são possíveis em gêneros específicos que têm como característica a subjetividade e informalidade, recursos que o texto acadêmico não tem, e nem deve ter. Mas a proposta aqui é refletir sobre a possibilidade de, mesmo em um texto acadêmico, pensar no seu público-alvo. 

Quais possibilidades surgiriam se ao desenvolver algo dentro desse gênero, pensássemos além dos dados, referências e toda estrutura já estabelecida, também em quem vai ler aquele conteúdo? Não no sentido de direcionar textos acadêmicos para públicos definidos por gênero, escolaridade ou qualquer outra segmentação, mas que ele fosse de fato acessível para qualquer pessoa? Quais possibilidades surgiriam se uma pessoa que está no ensino médio, por exemplo, compreendesse minhas ideias que foram publicadas e desenvolvidas dentro da universidade?

Pensar no meu tipo de leitor a partir da perspectiva de acesso, é pensar na democratização da informação, tema que deve ser imperativo dentro das universidades. Promover seu conhecimento por meio de uma linguagem objetiva e simples pode fazer com que pessoas de diversas esferas sociais se conectem com a sua produção. E para isso, antes mesmo de escrever as primeiras palavras é importante refletir sobre a motivação do seu trabalho; se a forma de se comunicar se relaciona apenas com pessoas que estão dentro da universidade, qual seria a razão da obra? A quem ela vai beneficiar? A quem a universidade beneficia? 

Pedro Lages

Pedro Henrique Lages Teixeira

Estudante de Pedagogia na FAE UEMG, atuei como educador no programa Escola Integrada durante 10 anos, onde desenvolvi os projetos ‘Humanizar’ e ‘Sou um ser humano que sente’, ambos voltados para os temas de diversidade e saúde mental. Esses projetos foram apresentados no Congresso Boas Práticas da Educação em 2019 e 2023, e replicados em outras escolas. Fui bolsista do programa Pensar Brasil, Pensar a Educação, onde, em minha iniciação científica, investiguei possíveis caminhos editoriais para a Revista Brasileira de Educação Básica. Atualmente, faço parte do time de Diversidade, Equidade e Inclusão em uma multinacional de tecnologia, colocando em prática minhas pesquisas nessa temática.

E-mail: pedrolages.3@gmail.com

TEIXEIRA, Pedro Henrique Lages Teixeira. Em quem eu penso quando escrevo um artigo? Revista Brasileira de Educação Básica, Belo Horizonte – online, Vol. 8, Número 31, julho – outubro, 2024, ISSN 2526-1126. Disponível em: (link). Acesso em: XX(dia) XXX(mês). XXXX(ano).

Imagem de destaque: Foto de Windows na Unsplash

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