Editorial |

As edições correntes da Revista Brasileira de Educação Básica são o resultado do diálogo realizado entre autores e editores, mas também são, antes disso, a entrega de questões, experiências, reflexões que foram trabalhadas em um texto por professoras/es e pesquisadores/as.

Tudo o que acontece antes do texto, na sala de aula, na repetição, nas leituras, no diálogo com estudantes, são elementos que estão fora do nosso alcance editorial. Esses textos submetidos, que são muitos, são as escolhas de nossas autoras e autores sobre o próprio fazer e acúmulo reflexivo endereçados a nossa revista como espaço legítimo de circulação. 

Existe na RBEB uma preocupação em saber receber o que vocês nos entregam, essa preocupação atravessa todas as fases do protocolo editorial, que vai desde o formulário de recebimento ao texto disposto em uma página em nosso site. Hoje, conseguimos fazer circular o que foi entregue por vocês, autoras e autores, em especial dando destaque às questões que estão presentes no cotidiano da escola e que são delineadas no fazer pedagógico. 

E vocês entregam algo fundamental na valorização da autoria docente: as estratégias de circulação de suas práticas que são prévias ao texto, às perguntas da entrevista, ou seja, um indício importante sobre uma fase da produção do conhecimento das professoras nas escolas.

Neste editorial, quero destacar essas ações que professoras e pesquisadoras realizam, tendo em vista a circulação do que fazem, e para isso destaco o artigo  “Olhares sobre a infância a partir de uma linguagem poética: a fotografia” da Márcia Cabral, professora da Educação Infantil na Escola Municipal de Ensino Infantil Silva Lobo, na cidade de Belo Horizonte. Nesse artigo, a Márcia Cabral reflete sobre o registro fotográfico a partir de uma atividade voltada para contar histórias e registrar memórias com crianças. Aqui, a professora reafirmou sua posição de autoria ao pensar a fotografia a partir das ações de focar, enquadrar, compor, captar, revelar e expressar, convidando as professoras para ações de registro e reflexão, tendo em vista a divulgação de suas práticas.

Outro destaque é para o artigo “Evolução humana: uma abordagem interdisciplinar”, dos estudantes Ana Clara Mendes da Silva, Donaire Ingrid Fernandes Felipe e José Vinicius Silva Souza e dos professores Erivaldo Laurindo Gomes e Paulo Vitor Silva de Lima, na escola Escola Estadual de Ensino Médio em Tempo Integral Desembargador Silvério Soares, na cidade de Areia Branca, no Rio Grande do Norte. O artigo foca no debate em sala de aula sobre evolucionismo e criacionismo e faz do debate reforço para a importância da didática em sala de aula, contribuindo para o aprendizado, mas também para a divulgação científica.

Ainda dentro de uma perspectiva autobiográfica em que há por parte do autor reconhecimento da sua autoria e no entrecruzamento entre ensino e pesquisa, destaco o artigo ”Quando o social também se encontra no chão da escola: possibilidades e potências da pedagogia social”, em que o professor e pesquisador Lucas Salgueiro Lopes, no Leste Fluminense, reforça a importância de práticas educativas baseadas no diálogo entre sociedade e escola para uma educação socialmente transformadora. 

Destaco ainda a entrevista “Ensinar, pesquisar e divulgar: estratégias de um educador” que realizamos com o educador Lucas Oliver. Com um perfil nas redes sociais de quase 12 mil seguidores e trazendo para a pauta o clima da cidade de Belo Horizonte, conversei com o Lucas sobre o cruzamento entre ensinar, pesquisar e divulgar. Lucas também falou sobre o uso das redes sociais e como seu trabalho dialoga com os perfis de professor, pesquisador e divulgador. 

O número ainda apresenta a resenha do livro de crônicas “O mundo é diferente da ponte pra cá”, de autoria dos estudantes do 9° ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Florestan Fernandes ao longo do 3° trimestre de Língua Portuguesa. O livro foi organizado pela professora Angélica Ferreira e resenhado por Eliéverton Cristiano dos Santos, mestre em Letras e também professor da mesma instituição. 

As editoras da Sessão Especial Educação do Campo trouxeram o artigo “A alternância na Escola Família Agrícola Margarida Alves”, de autoria de Aline Maria de Sousa, graduanda da licenciatura em Educação do Campo na Faculdade de Educação da UFMG, também bolsista do Programa de Educação Tutorial, e Aryanne Martins Oliveira, monitora do LeCampo e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/FAE/UFMG). O artigo produzido no contexto de uma disciplina do LeCampo tem como objetivo observar como os princípios da alternância foram implementados na escola no município de Simonésia.

Também derivado das amplas e diversificadas experiências de formação na Faculdade de Educação da UFMG, temos o artigo “Crônicas de um sentido não enunciado: Para quê humanidades no Ensino Médio?”, produzido dentro do Programa de pós-graduação profissional – PROMESTRE pelos professores do Ensino Médio Árllan Maciel Cunha Alves, Bruno Ikennah Bratz Egonu, Gabriel Nascimento e Silva, Mateus Santos Ferreira e Pedro Henrique de Oliveira Gomes. O artigo, por meio de crônicas, perpassa a experiência docente diante das questões do debate sobre a reforma do Ensino Médio na sala de aula. Os professores buscam percorrer os sentidos das humanidades nesse cenário. O texto é um importante convite para a tatear como um debate político atravessa a sala de aula.

Ainda sobre o fazer pedagógico diante da reforma do Ensino Médio, Fernanda Aparecida Pazeli Albuquerque, mestranda em Química – UFJF, e o professor Vinícius Catão, do Departamento de Química da UFV, propõem saídas no texto Divulgação Científica para fomentar a leitura na escola diante da redução da carga horária de várias disciplinas relacionadas às Ciências da Natureza. Como estratégia para garantir a formação científica básica, Vinícius e Fernanda produziram um conjunto de referências voltadas à divulgação científica para atrair o interesse dos alunos em disciplinas eletivas relacionadas a essas temáticas. 

Sugestão de caminhos para o fazer pedagógico diante de desafios é o que descreve e sugere as professoras e pesquisadoras Clarice Wilken de Pinho, Mônica Cristina da Silva e Simone Passos de Andrade para a Educação Infantil no artigo “Caminhos na educação infantil durante a pandemia”. No artigo, o Projeto Bichonário possibilitou aprendizados lúdicos às crianças com suas famílias em isolamento social, dando ênfase ao processo de alfabetização e letramento.

Cleydson Antônio Abreu Cardoso, pós-Graduando em Docência no IFMG de Arcos, sugere, por meio da análise do filme “Escritores da Liberdade” e, basedo na Aprendizagem Baseada em Problemas, uma proposta de prática de ensino com recursos de análise e discussão de livros, visitas técnicas, diálogos com figuras locais, projetos de escrita, expressão artística e projetos interdisciplinares. Para conferir a sugestão do Cleydson, basta acessar o artigo “Interligação entre aprendizagem baseada em problemas (ABP) e análise fílmica: “Escritores da liberdade

A capa da RBEB #29 foi um convite à experimentação com Inteligência Artificial e as implicações do seu uso. Estamos diante de um debate importante sobre o uso de IA para diferentes tarefas humanas e fizemos da experimentação uma oportunidade para refletir com a Eduarda Beatriz, bolsista de extensão do Programa de Extensão Pensar a Educação, sobre implicações éticas e estéticas sem perder de vista a reflexão sobre a divulgação científica e a comunicação. As reflexões dessa experiência estão no texto do Blog da Editoria de autoria minha, da Eduarda, da Yolanda e do Caixeta.

O trânsito editorial da Revista Brasileira de Educação Básica, que resultou na publicação desses 10 elementos do número 29, divide espaço com outras atividades de investigação e divulgação. No mês de maio, entre os dias 14 e 17, na cidade do Rio de Janeiro, eu, Vanessa Macêdo, e Izabella Flores, estudante de graduação em História e bolsista Fapemig, participamos do IV Congresso Nacional de Editores de Periódicos de Educação, com o tema “(Re)democratização da ciência e publicação científica em educação no Brasil”. Na ocasião, apresentamos o trabalho “Investigação do perfil de autoria a partir da proposta de um projeto editorial para a educação básica” e pudemos acompanhar os debates sobre produção e avaliação do conhecimento na área de educação promovidas pelo Fórum de Editores de Periódicos da Área de Educação (Fepae/Anped). Destacamos a importância da reflexão sobre fazer editorial como fazer político-científico, bem como o reconhecimento da presença da RBEB por meio da presença e da comunicação da investigação em andamento sobre a autoria na revista. A nossa participação no congresso foi viabilizada pelo Sind-UTE/MG em parceria com o Programa de Extensão Pensar a Educação.

Por fim, estamos finalizando as avaliações dos textos submetidos à Edição Especial O Golpe de 1964 e a Ditadura Civil-Militar na escola básica brasileira, cuja chamada finalizou em março deste ano. Em breve teremos mais uma edição em nosso site. Outras duas edições estão sendo costuradas e acertadas entre a RBEB e Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte e o curso de licenciatura em Educação do Campo LeCampo/FaE/UFMG.

Boa experiência com a leitura!

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